Recordando o 75.º Aniversário do Escutismo nos Açores
Ideias
2011-02-25 às 06h00
Mais uma vez, e sempre, a questão do emprego é fundamental. O debate foi nestes últimos dias dominado pelos Deolinda, e por discutir até que ponto a geração dos jovens pode, ou deve, ser designada de “geração parva”.
A grande questão, aparentemente, é tomar os jovens como um todo, homogéneo, que aceita estudar para ter um emprego com um nível remuneratório igual ou superior ao dos seus pais, vivendo de preferência no mesmo sítio onde sempre viveram, comprando carro e casa, fazendo com certeza um percurso profissional sério, mas seguro. E que se confronta agora com a possibilidade de esse mundo poder não existir. Os jornais e em geral toda a comunicação social, e os políticos em particular, têm explorado isto sublinhando permanentemente a situação de desemprego dos jovens licenciados.
Em primeiro lugar, de acordo com as estatísticas mais recentes, de Janeiro de 2011, não vamos tapar as coisas; as profissões com maiores taxas de desemprego (53,1% ) são “trabalhadores não qualificados dos serviços e comércio”, do “pessoal dos serviços de protecção e segurança”, dos “empregados de escritório”, dos “trabalhadores não qualificados das minas, construção civil e indústrias transformadoras” e dos “operários e trabalhadores similares da indústria extractiva e construção civil”.
Mais de metade das pessoas desempregadas não têm qualificações, e boa parte terá dificuldade em encontrar um novo emprego a médio prazo. No que respeita aos jovens, o desemprego decresceu quase 10%, tendo aumentado o desemprego de pessoas mais velhas e principalmente o desemprego de longa duração. Numa economia em mudança, com alterações que vão ocorrendo , embora lentamente numa estrutura produtiva que exige cada vez mais tecnologia e maior produtividade, haverá profissões que vão desaparecendo ou perdendo importância relativa. Não tem a ver com o mercado, mas com processos de evolução que sempre existiram.
A questão não é se a geração é parva, ou não, terminologia que francamente não gosto. Trata-se fundamentalmente de uma gestão de expectativas. Goste-se ou não, o mundo mudou de facto. E talvez ainda venha a mudar ainda mais, mais depressa do que todos pensávamos meia dúzia de anos atrás, com tudo o que vem acontecendo nos países árabes. A Europa do estado social que conhecemos tem menos de 60 anos, e em Portugal não chega aos 30 anos.
O resultado da sua aplicação foi profunda e positiva mas criou uma enorme pressão sobre o sistema. O tempo não volta para trás; o que todos esperamos desta geração, dos jovens que têm agora 25 anos, é que encontrem as novas soluções, num mundo que está a mudar. Como o fez a geração que viveu no pós 2.ª guerra mundial, e antes disso vezes sem conta, em momentos difíceis e chave ao longo de toda a história. Que encontrem as soluções correctas para uma economia que é global, para uma tecnologia que nos coloca desafios tão diferentes como é fazer uma revolução sem ter líderes, usando a internet e o facebook.
Não tenho qualquer dúvida que tal ocorrerá, mas os seus líderes serão seguramente jovens de hoje abertos, capazes de sonhar e lutar, com um capital significativo de conhecimentos acumulados, com força para procurar alternativas e procurar respostas. Sempre foi assim - pelo “sonho que o mundo pula e avança”. E desculpem-me todos aqueles que tanto têm utilizado essa versão depressiva da “geração parva”, mas conheço muitos e muitos casos de jovens que são muito mais dinâmicos, informados, conscientes, empreendedores , trabalhadores e que reconhecem que a educação, o conhecimento, é importante por si mesmo. E de forma alguma merecem ser reduzidos à expressão de “parvos”.
06 Outubro 2024
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