Mais e melhor Futsal VII
Ideias
2025-05-18 às 06h00
Como hoje não se pode comentar a actividade política, por motivos compreensíveis, porque é dia de eleição dos deputados para a Assembleia da República, de onde emergirá o próximo governo, gostaria de trazer aos leitores uma tradição do mês de Maio no concelho de Fafe, bem fresquinha, por sinal.
Nos últimos dias, em 16 e 17 de Maio tiveram lugar as feiras francas de Fafe, que terminam neste domingo, no parque da cidade e em conjunto com uma iniciativa chamada “Exporural”, exposição e feira de produtos e maquinaria agrícola. Exposição de artesanato, pavilhões de comes e bebes do mais diverso género, promoções de empresas e imobiliárias, bem como uma tenda dos petiscos, a cargo de associações fafenses dão corpo e alma a uma prática instituída no território fafense, ano após ano.
Nos nossos dias, o certame faz-se também de espetáculos e animação musical, que inclui ranchos folclóricos, grupos de cavaquinhos e concertinas, bombos pelas ruas e a actuação de nomes mais conhecidos da música portuguesa. Fogo de artifício e DJ pela noite fora, para gáudio da juventude.
Na sexta-feira, a grande atracção do evento foi Augusto Canário, enquanto na sexta-feira subiu ao palco o artista David Carreira. Já no sábado, actuaram as seculares bandas fafenses de Golães e de Revelhe, bem como a banda AM Show. Este domingo, o certame continua até às 19h00, com animação musical e de bombos, para encantar e seduzir os eleitores que se desloquem às mesas de voto no Pavilhão Multiusos, ao lado do qual se realizam as feiras francas.
As feiras francas de Fafe, nas suas diferentes formas e sempre ligadas à actividade agrícola e pecuária, que ainda hoje as caracteriza, remontam há seguramente três séculos, segundo o que é possível apurar documentalmente.
A primeira feira franca deve-se a uma provisão de D. João V (1689-1750), recuando às primeiras décadas do século XVIII, altura em que duravam um dia e se realizavam num dos primeiros dias de cada mês, desconhecemos qual.
Por 1736, o pároco de Santa Eulália de Fafe, João de Sousa Homem escrevia que “nos primeiros de todos os meses se fas a feyra franca de Fafe no famoso terreyro da Cadea em que se vendem gados, porcos, e toda a mais mercancia e mercearia. Esta feyra antigamente haverá 10 anos se mudou do lugar vesinho (a que ainda por isso chamão a Feyra) para este sitio. E se fes franca por Provisão do Serenissimo Senhor Rey D. João 5º que Deos guarde á instancia do existente Capitão-mor d’este Concelho. Dura esta feyra somente um dia”.
Ao dobrar a metade do século, em 1758, o então pároco da freguesia, volta a referir a feira franca em todos os primeiros dias dos meses, juntando uma outra informação, do seguinte teor: “e tem mais huma annual em os dias vinte e hum e vinte e dois de Agosto, tambem franca, a que chamão feyra do linho por ser a especie que mais se nella vende”.
Um século depois, em 1886, na obra O Minho Pittoresco, de José Augusto Vieira, voltamos a ouvir falar do assunto.
Aí se alude às “feiras de anno, que teem logar na villa”, por sinal bem animadas: nos dias 16 de Maio e 22 de Agosto. Esta era a feira das cebolas. Contudo, pela primeira vez, surge-nos o 16 de Maio, como feira franca, de gado. Há perto de 140 anos. Quando começou a realizar-se a feira franca do 16 de Maio, que ainda hoje vigora, desde há um século coincidente com o feriado municipal, e que em tempos era apelidada feira das cavalgaduras, por ser esta espécie animal muito comercializada? Por certo, algures no século XIX.
O autor de O Minho Pittoresco evidencia a animação, o movimento e o colorido daquelas feiras anuais. Visionando essas manifestações de cultura popular, um artista encontraria esplêndidos motivos para o estudo, “transportando para o seu album os costumes das lavradeiras, a physionomia risonha dos burguezes da villa ou das donas de casa que vêem fazer as suas compras, os carros enfileirados, em volta de que se agrupam os compradores, as dansas, os descantes populares!”
As feiras francas de 16 e 17 de Maio são ainda hoje um apreciado cartaz turístico que anualmente se repete, com dois números obrigatórios e incontornáveis - o concurso pecuário e a corrida de cavalos, a 17 de Maio - que trazem à cidade milhares de assistentes, do concelho e das redondezas, em ar de festa e de enorme animação.
Há algumas décadas, o escritor fafense Inocêncio Carneiro de Sá publicou um texto sobre o acontecimento, em que refere a antiguidade da tradição, prosseguindo:
“A multidão de tendeiros, barraqueiros, circos e divertimentos de toda a ordem, invade os largos da Vila, animando o Povo e dando a esta localidade o movimento e o bulício das terras de grande expansão e dilatada superfície.
Duas competições se realizam, que atraem sobremaneira o povo e fazem juntar milhares de espectadores: as Corridas de Cavalos e o Concurso Pecuário. (…)
Tudo isto, à mistura com exibições de pirotécnicos e a melodia das Bandas de Música, ilustram a Feira, que adquire os aspectos de grande solenidade.”
Este panorama mantém-se ainda nos nossos dias, embora certas características mais tradicionais vão perdendo alguma acuidade. As feiras francas da actualidade trazem atrás de si uma considerável parafernália comercial, concretizada nos carrosséis e atracções de toda a espécie, voltados para as crianças e os jovens, barracas de farturas e de comes e bebes, tendas de bijutarias, de discos e brinquedos que se instalam na cidade nos dias imediatamente anteriores e posteriores às festividades.
Mantendo características que perduram ao longo dos últimos decénios, as feiras francas vão-se adaptando aos novos tempos, harmonizando a tradição e a modernidade, de forma a sobreviver como espaço necessário e cíclico de realização social.
De registar que o prato típico das feiras francas de Maio é a famosa vitela assada à moda de Fafe, ícone da gastronomia local, que está presente na tenda dos petiscos, numa promoção da Confraria da Vitela Assada à Moda de Fafe.
Uma nota ainda para referir que, desde 1931, o feriado municipal tem lugar em 16 de Maio, sendo de presumir que a sua instituição tenha a ver com as Feiras Francas que anualmente se realizam no município.
Faz sentido que, numa altura em que a agricultura e a pecuária eram actividades dominantes no concelho, se tenha instituído o feriado municipal um pouco como homenagem ao mundo agrícola, situação que se manteve até aos dias de hoje!
Com a sessão iniciada poderá fazer download do jornal e poderá escolher a frequência com que recebe a nossa newsletter.
Escolha as categorias que farão parte da sua página inicial.
Continuará a ver as manchetes com maior destaque.
Faça login para uma melhor experiência no site Correio do Minho. O Correio do Minho tem mais a oferecer quando efectuar o login da sua conta.
Se ainda não é um utilizador do Correio do Minho:
RegistoRegiste-se gratuitamente no "Correio Do Minho online" para poder desfrutar de todas as potencialidades do site!
Se já é um utilizador do Correio do Minho:
LoginSe esqueceu da palavra-passe de acesso, introduza o endereço de e-mail que escolheu no registo e clique em "Recuperar".
Receberá uma mensagem de e-mail com as instruções para criar uma nova palavra-passe. Poderá alterá-la posteriormente na sua área de utilizador.
Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos.
Deixa o teu comentário