Automatocracia
Ideias
2022-11-19 às 06h00
Longe vão os tempos em que o primitivo mIRC era o único meio digital de comunicação entre as pessoas. Muito antes de Facebook, Skype, MSN, Google Chat e afins, a maioria dos utilizadores de internet comunicava via mIRC [‘mirque’].
No mIRC, as conversas com desconhecidos começavam com um tímido ‘oi’ e prosseguiam quase sempre com um ‘dd tc?’ (de onde teclas?). Também ficou famosa a expressão ‘és m ou f?’. E os diálogos fluíam a seguir, sempre tendo em atenção o tempo de utilização da linha telefónica para não se refletir com especial relevância na fatura mensal da conta… detalhada.
Três décadas depois, as fontes de informação são distintas, multifacetadas e, agora, ultra apelativas! O Facebook inovou (no seu tempo) e o Messenger ganhou o seu espaço. Isto para não falar, já, do “antigo” e-mail ou da tradicional SMS via telemóvel. A estes, juntou-se o WhatsApp e, mais recentemente, o Telegram como veículos de troca de mensagens e de informações.
A espiral comunicativa é de tal ordem que muitas vezes damo-nos conta a procurar a origem de uma mensagem, fazendo sucessivos périplos por estes meios de informação e aplicações digitais, até que encontramos o que queríamos! E que, afinal, estava apenas escrito num simples rascunho de papel, encontrado inadvertidamente num dos bolsos das calças…
Hoje em dia, as fontes de informação são tantas que será necessário (re)inventar uma estratégia que ajude o utilizador a focar-se, sobretudo! Também é verdade que, atualmente, há aplicações para tudo e mais alguma coisa e que ajudam a reunir toda a informação. Mas convenhamos que o cidadão comum, aquele que não está tão habituado às novas tecnologias, ainda não consegue acompanhar o ritmo e a evolução do digital.
Porque tem outras prioridades. E porque os tempos não estão propriamente convidativos a investir no desenvolvimento tecnológico de cada um, em detrimento do conforto pessoal, vida familiar ou segurança profissional.
Dir-me-ão que os mais novos são mais sensíveis (e estão mais sensibilizados) para essas matérias. Provavelmente, sim. Já nasceram com o “chip”, como diria o meu Professor António Oliveira, um visionário destas coisas que, há três décadas, teve o atrevimento de dizer que, mais cedo ou mais tarde, a televisão ia sair da “caixa mágica” e passar a ser vista na internet. Muitos alunos riram-se. Hoje, certamente, sorri…
Uma má utilização do que (nos) pode valer o universo tecnológico é que poderá ser uma “coisa mais chata”, para usar uma expressão típica do Mestre António Oliveira. Uma abusiva utilização de tecnologia pode ter várias consequências no desenvolvimento das crianças, designadamente a nível cognitivo, da linguagem e no âmbito socioemocional. Não é, por isso, de surpreender que seja preocupante o facto de a maioria fazer um uso destes meios tecnológicos superior ao que seria de esperar.
Todos conhecemos casos de crianças, entre os 2 ou os 6 anos, que se expressam com vocábulos ou termos abrasileirados, usando em demasia o gerúndio dos verbos. Os vídeos disponibilizados no YouTube são oportunos aliados para deixarem os pais terem uma refeição (mais) tranquila, mas temos de concordar que, em excesso, pode ser contraproducente.
Isto porque, na realidade, não há muitos conteúdos multimédia em português… de Portugal! Basta fazer um rápido exercício com uma igualmente rápida pesquisa na internet e verificamos que são raros os vídeos com origem na nossa língua materna. Existem muitas “doblagens” - o que não é nada, nem propriamente a mesma coisa!
E que, em abono da verdade, se desaconselha! Ou corremos o risco de ouvir, por estes dias, o impensável: “Papai, me pega o comando, por favor, para ver Portugal na Copa do Mundo…”.
Como diria José Saramago, que Portugal evocou esta semana o centenário do seu nascimento: “Sabemos muito mais do que julgamos, podemos muito mais do que imaginamos”. Basta querermos, pois. Façamos alianças com as novas tecnologias. E não o contrário.
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