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Exames com pulseira eletrónica

Questões do poder

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Voz às Escolas

2015-06-18 às 06h00

José Augusto José Augusto

No passado fim-de-semana, pudemos ler, na imprensa nacional, declarações e proclamações espantosas do Senhor Presidente do IAVE - Instituto de Avaliação Educativa, o organismo responsável pela elaboração dos exames nacionais.

Nas declarações citadas pelo Expresso, fica a saber-se que, para o IAVE, a ausência de variação da média de exame, ou a sua oscilação num intervalo de mais ou menos um valor, é um critério de medida para o controlo de qualidade da prova, isto é, um bom exame é o que não consente variações significativas de ano para ano. Porém, levando esta linha de análise às últimas consequências, significa também que estamos condenados a não evoluir nos resultados dos exames.

Noutro ponto, o Senhor Presidente do IAVE lamenta-se do que entende ser a falta de controlo da avaliação interna (a que é feita pelos professores ao longo do ano escolar) e do descontrolo das notas internas que mantêm médias entre os 13 e os 14 valores, para extrair daí a causa injustiça do ónus dos maus resultados dos exames. Assim, somos levados a considerar que os exames estão com o passo certo e que só parece que o passo vai trocado porque milhares de professores, de centenas de escolas, em resultado de dezenas de milhares de testes e outros instrumentos de avaliação, combinaram levar o passo trocado para deixar ficar mal os exames.

Porém, convém chamar à liça alguns reparos óbvios. Primeiro, a média interna, como o nome indica, é apenas a média das notas finais dos alunos internos, ou seja, os que tiveram aproveitamento mínimo igual ou superior a dez valores no final da frequência das respetivas disciplinas. Ora, é bom não esquecer o número, infelizmente ainda muito elevado, de alunos que reprovam na frequência e se apresentam a exame como autopropostos (i.e., como alunos externos).

Assim, é fácil de perceber que, mesmo com desempenhos maioritariamente modestos, uma média de classificações entre 10 e 20 valores haveria sempre de ficar situada um pouco acima do ponto mínimo. Por outro lado, convém lembrar que, felizmente, as classificações internas não refletem, nem devem refletir, apenas a avaliação dos desempenhos dos alunos em testes escritos. Elas refletem também, por exemplo, as competências de oralidade, nas disciplinas de línguas, e as competências práticas, nas disciplinas experimentais, bem como várias outras dimensões do trabalho escolar que os exames não medem, mas que são fundamentais para a formação e o desenvolvimento integral dos jovens como alunos e como pessoas. Por isso, quem não acredite na validade estatística da média das avaliações internas terá sempre que aceitar a validade que resulta da vastidão dos dados e da diversidade de autores e instrumentos de medida, sob pena de ter que provar que os professores de todas as escolas andam a combinar resultados.

Por último, espero que não passe pelas cabeças do novel Instituto tomar o campo, e reivindicar o exclusivo da elaboração dos testes destinados à avaliação contínua dos alunos, como generoso contributo para acertar o passo da avaliação interna com os exames.

Finalmente, no mesmo texto, a mais extraordinária proclamação encontra-se até destacada em título: “10 é uma média que não causa alarme social”. Percebe-se, assim, o cuidado posto no controlo dos resultados dos diferentes itens, a minúcia com que são construídas e analisadas as bases de dados das cotações escrupulosamente fragmentadas nas bases de dados eletrónicas carregadas pelos classificadores dos exames. Haja calma, o IAVE tem os exames sob controlo para evitar desassossegos. Compreende-se, neste país, mesmo o mais iletrado dos portugueses já aprendeu que o risco de alarme social justifica o controlo por pulseira eletrónica. Sosseguem, o IAVE tem os exames sob vigilância para que não saiam do perímetro dos 10 valores sem autorização superior.

O que me preocupa é poder estar implícito nas declarações do Senhor Presidente do IAVE a ideia de uma missão que nos mantém prisioneiros na mediania. Para nosso bem! Só há sossego social se nada mudar!? A mera hipótese de que algo esteja a melhorar é inquietante! Compreende-se, no país do fado, quem suporta boas notícias? Se as notas melhorassem, como seria a vida dos que apregoam constantemente a degradação de qualidade das Escolas e, já agora, das sucessivas gerações de alunos e professores?

Porém, o mais grave é a mensagem implícita nesta ideia - não adianta melhorar! Não adianta melhorar os desempenhos nos exames porque as notas não vão subir e, se isso estiver a acontecer, o IAVE cuidará de “ajustar” os itens para não causar alarme social. Pode haver mensagem mais demolidora do que esta? A oscilação incipiente das notas médias é uma tendência de estagnação ou um efeito dos ajustamentos das provas?

O que devia causar alarme social é perceber que, numa distribuição normal das classificações, uma média de 10 valores significa que metade das classificações ficou abaixo desse valor e são negativas. O que devia causar alarme social é o Senhor Presidente do IAVE considerar que é complicado explicar médias muito acima de 10 valores, pois fica o receio de que tudo fará para que isso não aconteça. Só é pena que venha sendo menos eficaz em evitar a complicação que também reconhece nas médias muito abaixo de 10 valores…

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