Braga - Concelho mais Liberal de Portugal
Ideias
2017-02-27 às 06h00
Talvez fruto de ser de todos nós e de cada um de nós, de esconder uma especificidade sem propriedade e dono e de revelar uma generalidade que, de tanto abranger e querer abarcar, pouco acaba por atingir, o espaço público é realidade incontornavelmente dependente da percepção que cada um de nós detém e constrói sobre esse mesmo espaço público.
Independentemente da sua dimensão e qualidade, função e localização, o espaço público está umbilicalmente relacionado com a forma com que cada um, e a comunidade, percepciona este mesmo espaço público.
Seja pela forma como nos apropriamos fisicamente do espaço público (a função), o modo como o vemos (a imagem urbana ou paisagem), a forma como o sentimos (a história), o modo como participa no quotidiano (a gestão urbana) ou a forma como nos envolvemos nele (o sentido de pertença), o espaço público vai ganhando matizes e camadas que o vão consolidando como expressão indisfarçável da comunidade que o sustenta e justifica.
Uma das formas mais visíveis desta realidade é a chamada toponímia, estudo do nome dos lugares e que, no espaço público, nomeadamente naquele elemento de maior alcance como relação e interacção entre os seres humanos (contribuindo para os transformar em pessoas) - a RUA - conhece porventura a sua expressão maximizada.
Da necessidade de nomear o espaço que calcorreamos e utilizamos, percorremos e estamos e, em complemento, de o singularizar e diferenciar, conferimos (enquanto comunidade representada nos seus órgãos e entidades colectivas executivas e deliberativas) nomes que projectam o nosso modo de ver, sentir e utilizar o espaço público.
De forma estrutural e sintética, identificam-se quatro áreas de nomeação:
• Homenagem à comunidade - as pessoas;
• Perpetuação da história - o uso;
• Referências espaciais e institucionais - a representatividade;
• Abstracção mecânica - a urbanização imposta.
Como homenagem à comunidade, verifica-se a procura do entendimento dos acontecimentos e das pessoas que marcaram indelevelmente a comunidade, encerrando uma acção que toda a comunidade conclui como significativa e cívica. Valoriza-se acontecimentos e pessoas de dimensão local, regional, nacional e, eventualmente, internacional.
Como perpetuação da história, percorre-se, tantas vezes de forma artificial, a perenização de hábitos e usos, apropriações e actividades que se desenvolveram e foram (muitas delas) perdendo com o tempo. Valoriza-se os costumes e as actividades.
Como referências espaciais e institucionais, titulamos o espaço em função da importância e do poder presente. Valoriza-se a imagem e o significado dessa imagem (sem esquecer que, outras vezes e contraditoriamente, dotamos o espaço público de nomes e designações na directa relação com a leitura feita sobre o espaço…)
Como abstracção mecânica, responde-se de forma automática e, dir-se-á, matemática e impessoal, a necessidades administrativas de nomear o espaço. E por isso, este mesmo espaço ganha nome de letra ou número (situação que ganha expressividade, por exemplo, em nacos territoriais artificializados como loteamentos urbanos).
Para muitos, talvez este seja uma forma de problematizar uma realidade que, de tão banal entendem, pouco deve ser valorizada. Para outros, esta é uma afirmação de comunidade que deve ser “seriamente” tratada (atente-se, por exemplo, a existência em alguns Municípios de Comissões de toponímia e regulamentos de toponímia).
Entre um e outro, provavelmente, conquistar-se-á o equilíbrio desejado. Sendo certo que, também aqui, por mais expressivo ou diminutivo que seja, também na toponímia nomeamos o espaço público. E contribuímos para o reforço ou distância. Do sentido de pertença e identidade. Nosso com o espaço que habitamos e usufruímos.
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