Correio do Minho

Braga,

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Enfermeiros já esperam longamente a recontagem do tempo de serviço

‘Spoofing’ e a Vulnerabilidade das Comunicações

Voz à Saúde

2022-05-21 às 06h00

Humberto Domingues Humberto Domingues

Na cerimónia de abertura e de encerramento do Congresso dos Enfermeiros que decorreu em Braga nos dias 5 a 7 de Maio, estiveram presentes os Srs. Secretários de Estado da Saúde, Drª. Maria Fátima Fonseca e Dr. Lacerda Sales, respectivamente. Ambos, nos seus discursos, se comprometeram publicamente perante as autoridades e todos os presentes, na reposição dos pontos tira-dos aos Enfermeiros e na contagem do tempo, quando era Ministra da Saúde a Dr.ª Ana Jorge, do “famigerado” governo de José Sócrates.
No Dia Internacional do Enfermeiro, a Srª. Ministra da Saúde, Doutora Marta Temido, voltou ao assunto e comprometeu-se nesta reposição e valorização da Carreira de Enfermagem, até ao final do presente ano.
Estamos admirados com esta mudança de atitude e vontade de diálogo da Srª. Ministra e do Governo Socialista, que até agora perseguiu os Enfermeiros, insultou-os, não os recebeu em audiência, e retirou pontos da contagem de tempo, “congelou a carreira” e não repôs o que o próprio Governo Socialista de outros tempos retirou! Mas qual será a razão desta mudança tão repentina de atitude? Parece-nos simples! Começa a haver sentenças dos Tribunais, dando razão aos Enfermeiros, sobre a contagem de tempo e os pontos indevidamente retirados. Ora bem, parece-nos que o Governo, perante estas sentenças que não lhe são favoráveis, quer-se antecipar e por isso pretende negociar e atribuir os pontos e normalizar a contagem de tempo. Ao fazê-lo “na secretaria”, cria um facto político, repõe aquilo que a Justiça lhe iria obrigar a fazer, e depois, pode dizer que foi o Governo que decidiu! Usa uma estratégia para os mais distraídos, para tentar ficar bem na “fotografia”.
E a atitude é tão diferente, que até a Srª. Ministra da Saúde dedica uma mensagem no Dia Internacional do Enfermeiro, contrariamente ao que fez no passado, “reconhecendo o papel de relevo dos Enfermeiros na melhoria dos cuidados de saúde que o SNS presta às populações”. Reconhece que os Enfermeiros são uma “peça fundamental de uma resposta maior, o nosso SNS”. Assume a “criação de pontes”, a reposição dos pontos perdidos e afirma que está “comprometida com os Enfermeiros em particular”!
Ao longo da sua mensagem dedica palavras de reconhecimento, do sacrifício pessoal e dedicação que os Enfermeiros deram ao SNS. No passado nem pronunciava a palavra “Enfermeiro(s)”! Que estranho este reconhecimento! Que mudança de estratégia e de atitude! Quando a esmola é grande, o pobre desconfia. O que aí virá?
Para efectivamente demonstrar o quanto os Enfermeiros dedicam o seu esforço, prestação e sacrifício, apesar de mau remunerados e não reconhecidos, deixo alguns resultados alarmantes e assustadores de um estudo realizado e divulgado no Congresso dos Enfermeiros, pela Profª. Doutora Raquel Varela e outros Professores/Colaboradores do Observatório para as Condições de Vida e Trabalho/Nova FCSH:
• Enfermeiros mais antigos na profissão e mais velhos sofrem de maior exaustão emocional;
• Profissionais com maior carga horária têm maiores índices de esgotamento emocional;
• Enfermeiros (mais de 26%) trabalham em média demasiadas horas por semana com casos extremos acima de 70 horas;
• A maioria dos Enfermeiros (65%), exercem a sua profissão no sector público e em contexto hospitalar;
• Têm horário rotativo (57%) e trabalho por turnos (74%), com uma percentagem elevada de trabalho nocturno (60%);
• Entre muitos indicadores ressalta um, em que um número importante de Enfermeiros (97,2%), não gozam de sete dias seguidos de férias há mais de 350 dias;
• Muitos destes valores reflectem-se no índice comparável, (inter-classes profissionais) de exaustão emocional de 3,42 pontos, bastante acima do valor de 2 pontos, considerado normal.
• Uma carga horária excessiva corresponde em média os maiores níveis de esgotamento emocional. Os Enfermeiros que trabalham mais horas têm índices mais preocupantes de burnout.
Perante estes indicadores, resultados e conclusões do presente estudo, é deveras assustador o desgaste físico, emocional e psicológico que os Enfermeiros sofrem.
Este estudo veio trazer ao conhecimento público aquilo que a Ordem dos Enfermeiros suspeitavam e que a Srª. Bastonária vem há muito tempo, dizendo. Há efectivamente necessidade de reavaliar a Carreira de Enfermagem, reconhecer a Profissão de Enfermeiro como uma profissão de risco e desgaste rápido e por isso antecipar a idade da reforma, atribuindo também o subsídio de risco, como acontece em outras profissões e atribuído recentemente.
De promessas políticas e boas intenções, estão já os Enfermeiros cheios. Os Governantes e políticos têm trilhado um caminho da descrença, com discursos e atitudes descredibilizadas e de fundamen- talismo, sem (re)conhecer a realidade e com isso, infelizmente, é o comum e pobre Cidadão, que se vê afastado de melhores cuidados de saúde. Aguardemos agora, o que estes “vendedores de promessas” recentes, vão fazer!

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