Ettore Scola e a ferrovia portuguesa
Escreve quem sabe
2019-12-23 às 06h00
No passado dia 14 de dezembro, assisti ao lançamento da obra «Poemas de Sol e Sombra», dos escritores José Moreira da Silva, Álvaro de Oliveira e Hermínio Silva, no Mosteiro de Tibães. A pintura de Adias Machado mirava-nos do fundo da sala, enquanto a apresentação de Maria do Céu Nogueira nos mantinha particularmente atentos e entusiasmados com a sessão. Relembrava-se Petrarca, poeta medieval italiano. Descreveram-se sucintamente episódios da sua história, destacando-se não só a relevância da sua filosofia moral humanista e o papel da sua obra «Il Canzoniere», mas, também, de que forma as suas ideias influenciaram grandes escritores de épocas vindouras, como Camões. Fez-se também uma breve introdução ao conceito de «soneto», fulcral na mesma obra, abordando-se as diversas tipologias.
A tarde seguia calma ao som leve do piano. De quando em vez, pausava-se, ouvindo-se cantos e declamações de poemas, uns cantando o Amor e a contemplação divina («Anagogia» e «Meu Deus»), outros mergulhando no amor mais físico («Paradoxo» e «A poesia»). Foi um dia diferente! Um dia em que parei e vivenciei o saboroso presente, despedido da azáfama da rotina profissional que, por vezes, nos absorve. Serviu não só para me enriquecer culturalmente, mas também para interagir com diferentes gerações, de saberes muito diversos.
No regresso a casa, sob chuva morrinhenta, ouvia notícias na rádio. Foco-me, por momentos, na ênfase dada à depressão Elsa que se aproximava do nosso país, mas também nas principais preocupações das pessoas em época natalícia. O locutor agitava o tema do dia: “Vocês sabem qual é o principal desafio das pessoas no Natal?”. Com atenção redobrada, aguardei ansiosamente pela resposta, que chegou, e cientificamente fundamentada: “O problema foca-se nos bens materiais”. Não estaria em causa o valor elevado dos produtos, nem a falta de poder económico para os comprar, mas antes a dificuldade em encontrar o produto ideal para cada pessoa, em particular. Salientava-se, então, que aproximadamente 43% das pessoas se sentiam angustiadas, muitas vezes até ao último dia, porque tinham como preocupação a seleção meticulosa do presente, de forma a garantir que quem o recebesse sairia verdadeiramente satisfeito.
Procuro, no meu mundo interior, o sentido do que ouvira na rádio e projeto-me num outro evento, não tão recente, intitulado «A convergência das artes», realizado na biblioteca Lúcio Craveiro, em Braga. No painel principal, e como principais intervenientes, recordo um linguista, uma professora de arte e pintura, um músico e uma escritora. No decorrer da sessão, cada orador abordava o tema de forma singular. Envolvido pelas suas palavras e argumentos, apercebo-me de que, se por um lado o conceito de arte não tinha uma definição canónica, por outro, possuía algumas características comuns. Constatei que a língua, a pintura e a música se modernizam com os tempos, e todas têm como objetivo principal criar uma projeção agradavelmente positiva da nossa mente através de diversos estímulos. Na arte, não encontro espaço para os valores materiais, e ainda assim há um lugar mágico para a conexão connosco próprios e muitas vezes com o outro.
Assim deveria ser também o nosso Natal, simbolizado pela partilha de amor e pela confraternização. Lamentavelmente, os modelos de vida atuais impelem-nos para um consumismo exagerado, para a perseguição desgastante do presente material ideal. Não obstante, o meu mundo interior diz-me que a essência do Natal deveria assentar nas mensagens sublimes, baseadas em valores morais e humanistas, que a cultura e a arte nos tentam transmitir. Desde o amor expressado por Dante, ao amor mais físico de Petrarca, simbolizado pelos seus ideais humanistas, o que importa é que, num mundo tão acelerado e tecnológico como o de hoje, o verdadeiro sentido da vida só poderá ser encontrado se olhar- mos para o Outro com o coração.
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