O fim da alternância
Ideias Políticas
2020-06-16 às 06h00
Enquanto o país “desconfina” (nos momentos de crise há sempre novas expressões a entrar no léxico quotidiano…), a política nacional continua bem guardada, em quarentena, nas mãos do Dr. António Costa.
O país assiste, sem qualquer sobressalto, ao desempenho de um actor único na cena política que põe e dispõe, sem qualquer entrave, lembrando o avançado habilidoso que só faz golos quando não tem marcação. E a verdade é que António Costa não tem mesmo qualquer marcação (política, bem entendido). Bem sei que Marcelo Rebelo de Sousa é o protagonista maior. Mas ao Presidente da República, gostando-se mais ou menos do estilo, não compete assumir as responsabilidades de outros: Marcelo tem sido garante de união e coesão e isso não é coisa pouca. Voltemos por isso a António Costa.
O Primeiro-Ministro goza hoje de altíssimos níveis de popularidade e qualquer sondagem coloca o PS perto de uma maioria absoluta. Não desvalorizo sondagens. Por norma, no politicamente correto, só as desvaloriza quem fica mal na fotografia do sentido de voto. A verdade é que os estudos de opinião quase sempre acertam ou ficam dentro da margem de erro. Mas o que me sobressalta é mesmo essa popularidade positiva do PS e do Primeiro-Ministro.
O mesmo Primeiro-Ministro que face às desastrosas posições da DGS anuncia que “não se trocam generais no meio da guerra” e duranta uma crise económica sem precedentes, à escala global, não tem pejo – sem qualquer explicação ao país!!!!! – de trocar o seu ministro das finanças. Para António Costa, Centeno era uma espécie de Ronaldo das finanças. Ora, tendo-o nesse crédito não pode prescindir de um “galáctico” na fase mais complicada do campeonato. Mas prescindiu. E, repito, sem qualquer justificação ao país. O curioso da política é que os partidos da oposição pouco ou nada disseram. E porquê? Porque estão enredados nas suas próprias posições e contradições. O BE e o PCP porque são cúmplices de Centeno e do Governo e por isso não sabem o que dizer. E o PSD? Este PSD não pode dizer nada: primeiro porque fez voto de castidade com o Dr. António Costa e depois porque assumiu sempre que Centeno foi um bom Ministro das Finanças. Assim, enredado na dificuldade de denunciar o logro de António Costa e sem saber o que dizer de Centeno, o PSD continua irremediavelmente irrelevante para a maioria dos portugueses. A título de exemplo, note-se que o país político permitiu que o Governo vende-se a tese que apresentou e fez aprovar um orçamento suplementar. Não! O governo apresentou um orçamento rectificativo. Um orçamento rectificativo! E bem. Só que como durante uma legislatura o PS criticou o governo anterior por apresentar orçamentos rectificativos (que mais não são do que instrumentos que repõe a verdade orçamental…), o PS quis-lhes mudar o nome. E o PSD deixou.
Pois bem, aqui chegado quero deixar claro que, na minha modesta opinião, Centeno não só foi um mau Ministro das Finanças como desperdiçou uma grande oportunidade para o país. Tudo ao contrário do que o main stream apregoa.
• Foi um Ministro de expediente: não me esqueço como se safou do dossier Caixa, tendo eu a profunda convicção que estava combinadíssimo com António Domingues quanto às alterações legislativas que lhe permitiam não entregar a declaração de rendimentos junto do TC;
• Foi um Ministro de poucochinho: trouxe o défice orçamental de 3% para perto de 0% e fez disso uma grande vitória. Desdenhou quem o trouxe de perto de 12% para 3%.
• Foi um Ministro que herdou um país a crescer economicamente, com o desemprego a descer e as exportações em valores record. Deixa o País com todos estes indicadores a inverter.
• Foi um Ministro que numa conjuntura altamente benéfica (baixo preço do petróleo, crescimento dos parceiros comerciais, política de compra e de taxas de juro do BCE favorável) aumentou a dívida pública, subiu impostos (a mais alta carga fiscal de sempre!) e deixou como nunca os serviços essenciais do estado à míngua.
Mas não teve, ele e António Costa, quem desmascarasse a farsa em que vivemos. E num tempo em que os nossos impostos servirão para continuar a colocar num poço sem fundo que é TAP, o PSD afunda e PS sobre alegremente nas sondagens. Este deveria ser o motivo de reflexão. Mas não é. Infelizmente, digo eu.
19 Março 2024
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