Cidadania ou o atrevimento da ignorância (1)
Ideias
2024-07-22 às 06h00
Dir-se-á que o tempo é de abrandamento e de algum balanço, porque tempo de férias e de descanso, tempo de “parar” (alguma vez será possível?) e (re)adquirir energia para continuar, mudar ou recomeçar (não será sempre assim?).
Dir-se-á também que nunca deixará de ser tempo de alerta e visibilização do que mais nos preocupa e afecta, anima e qualifica, num cuidado constante pelo nosso bem-estar e qualidade do futuro (que depende sempre do momento) e do passado (que nos deve orgulhar e motivar).
A habitação sempre foi tema central no país, ora por carência evidente, ora por precariedade experimentada, ora por diversidade multiplica- da, ora por indiciadora de actividade económica, negócio e interesses, sempre reflexo, inerência e condicionante da nossa qualidade de vida. Em síntese, habitação como bem social!
Independentemente das razões, causas e alguns efeitos (não importam especificamente para o caso), algures no tempo, o país identificou a habitação como um dos seus problemas centrais, seja na sua dignidade e qualidade, seja na sua acessibilidade e carência, seja na sua resposta a tão diferentes modos de vida que hoje se vão instalando e consolidando entre todos nós.
A esta constatação e, dir-se-á, diagnóstico geral e consensual, adicionou-se uma disponibilidade financeira (a nível europeu) robusta e avultada, resolvendo e superando uma das grandes fragilidades do país: ter projectos para suprir necessidades, mas não ter dinheiro para os concretizar.
Identificadas a necessidade e a carência, consensualizados o diagnóstico e o caminho a percorrer (sem prejuízo das variantes e matizes expressas por diferentes agentes e implicados), tudo se conjugaria para a reunião das condições suficientes para atingir a eliminação ou (grande) mitigação do problema habitacional… até ao ano de 2026.
Para tal, seria suficiente materializar o levantamento das necessidades, desenhar e executar projectos, candidatar e aceder a fundos financeiros, realizar obra e disponibilizar o produto final, num processo bem mais complexo do que esta síntese “simplificada” induz, mas suficientemente estruturado, linear e conhecido para todos saberem e sentirem, realística e equilibradamente, ser possível e efectivo no tempo e no espaço!
Depois, bom… depois, o tempo foi passando. As necessidades foram-se acentuando, os levantamentos foram-se fazendo, mas nunca acabando, os planos e estudos sucederam-se, as soluções foram mirrando e limitando-se àquelas mais imediatas e de efeito mais visível… e pouco, muito pouco se sentindo “no terreno”. Reforçou-se a componente financeira, exacerbaram-se a carência e a urgência da resposta, conquistou-se (quase) uma unanimidade que nos envergonha porque reconhecimento de tanto que foi prometido e de tão pouco que foi concretizado!
Na verdade, as notícias de carência e falta de habitação repetem-se em eco, projectos e concursos de projectos anunciam-se e desenvolvem-se entre a lentidão e a lassidão, empreitadas pouco mais são do que miragem, aquisição de fogos promessa adiada e, no final, impõe-se a inversamente proporcional relação: mais habitantes, mais carência, menos casas, menos acesso, acrescentando-se a (suposta) fatalidade do prazo de validade da disponibilidade financeira estar a aproximar-se perigosamente do seu limite…
O problema é complexo, já se sabe! A realidade é diversa e tributária de diferentes respostas, já se concluiu! O desafio é exigente, já se experimentou! A urgência e a premência são maiores do que nunca, já se consensualizou! Mas, mesmo assim, tudo se desenvolve de forma tão estranhamente lenta e complicada que de tudo se desconfia e critica, contraditando a convicção de que a todos interessa a resolução do problema e de que todos se interessam pela resolução do problema.
Não há soluções imediatas nem passos mágicos. Não há processo sem demora ou complexidade. Mas há urgência e interesse. E tal deveria obrigar-nos a confluir para o mesmo objectivo e a fomentar, praticar e dar resultado à eficácia e eficiência, ou seja, fazer o que tem de ser feito, fazer bem o que se faz!
Retomando as primeiras palavras do texto, num momento de balanço e perspectiva, valerá a pena reflectir como passamos de um país “de necessidades, com projectos, mas sem dinheiro” para um país “(ainda) com necessidades, sem projectos, mas com dinheiro” … haverá forma de transformar “o sem em cem e o com em dom” e, assim, alcançar o necessário e o desejado?
26 Março 2025
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