Automatocracia
Ideias
2025-02-13 às 06h00
Chegamos novamente ao Dia de São Valentim, essa ocasião mágica em que o amor se transforma em produto e o romance pode medir-se pelo valor da fatura do cartão de crédito. Durante semanas, lojas, restaurantes e marcas de todos os segmentos fazem questão de lembrar: expressar sentimentos só vale a pena se houver um presente envolvido. Nada de demonstrações naturais ou gestos simples—se não for caro, será que é mesmo amor?
A data, supostamente inspirada no martírio de um santo que desafiou o Império Romano para unir casais apaixonados, hoje resume-se a uma olimpíada de ostentação emocional. Ramos de flores vendidos pelo triplo do preço? Ótima ideia. Jantares em restaurantes cheios, com filas intermináveis e menus especiais que incluem os mesmos pratos de sempre, só que mais caros? Perfeito. Filas em joalharias para provar que um relacionamento vale exatamente o peso de um anel? Absolutamente necessário. Porque, como todos sabemos, um amor verdadeiro não pode ser medido em gestos diários, respeito e cumplicidade, mas pode muito bem ser calculado pelo valor de um presente simbólico.
E para aqueles que não estão num relacionamento? Ah… o Dia de São Valentim também tem algo reservado para eles: a lembrança constante de que a felicidade só existe se for partilhada em casal. As redes sociais tornam-se numa verdadeira montra de declarações açucaradas, fotos de casais felizes e frases tiradas de filmes românticos, tudo cuidadosamente filtrado para parecer espontâneo. A pressão para não estar sozinho intensifica-se, enquanto marcas apostam metade do orçamento anual em campanhas publicitárias que oferecem promoções de “Amor Próprio”, incentivando a compra de presentes para si mesmo—afinal, até a solidão pode ser monetizada.
Mas nem tudo são corações e rosas. Há também os guerreiros da última hora, aqueles que esquecem a data e correm desesperados para comprar qualquer coisa que pareça ter sido escolhida com antecedência. O mercado, sempre atento, já prevê essa categoria de consumidores e disponibiliza, estrategicamente, filas de caixas exclusivas para quem não quer chegar de mãos vazias a casa. E, claro, há os relacionamentos em crise, nos quais um presente exagerado pode ser a tentativa final de salvar algo que já se desmoronou há anos—porque, se palavras e atitudes falharam, talvez uma pulseira de ouro consiga resolver.
Enquanto os casais cumprem o protocolo anual do romantismo forçado, a economia agradece. As vendas de flores disparam, os restaurantes fazem o mês inteiro num único dia, e até os motéis entram no jogo, com pacotes “românticos” que incluem espumante de qualidade duvidosa e pétalas de rosa estrategicamente espalhadas pelo quarto.
E assim termina mais um Dia de São Valentim. No dia seguinte, os ramos de flores começarão a murchar, e os casais que passaram horas em filas para jantar voltarão à rotina, onde o amor real se mede em pequenas ações diárias e não num presente comprado sob a pressão social.
Até o ano que vem, quando tudo se irá repetir... Para já, deixo-vos com uma questão: O Dia de São Valentim celebra o amor ou a necessidade de provar afeto por meio de transações comerciais? Seja qual for a resposta, uma coisa é certa: no dia 15, o amor pode até continuar, mas os chocolates estarão pela metade do preço.
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