‘Spoofing’ e a Vulnerabilidade das Comunicações
Voz às Escolas
2018-02-05 às 06h00
Nas palavras de José Gimeno Sacristán, investigador da Universidade de Valência, Na escola, como na vida exterior, existe a heterogeneidade. A diferença é o normal. Se a variedade intraindividual e interindividual são o normal e manifestações da riqueza dos seres humanos, deveríamos estar habituados a conviver com a mesma e a desenvolvermo-nos nessa realidade.
Na passada sexta-feira, a partir de informação disponibilizada pelo Ministério da Educação no Portal InfoEscolas (http://infoescolas.mec.pt/), foram apresentados os denominados Rankings das Escolas em diversos jornais nacionais. Esses rankings, construídos diferentemente de jornal para jornal (por isso, jornais diferentes apresentam posições diferentes para a mesma escola), pretendem traduzir uma hierarquia de pretenso sucesso do processo educativo de cada uma.
Os resultados dos exames das diversas escolas, sendo dados objetivos, devem obrigatoriamente ser divulgados. No entanto, a construção de informação e, particularmente, a potencial hierarquização de escolas a partir dos mesmos (implícita na palavra rankings) poderá ser garantidamente perigosa e redutora, por desprezar fatores essenciais, e que serão da maior importância para as famílias, quando escolhem o estabelecimento de ensino a que entregam os seus filhos.
A título de exemplo, veja-se as recentes palavras de Tiago Brandão Rodrigues, quando questionado sobre os resultados dos exames nacionais, que colocam 27 escolas privadas à frente das escolas públicas, o Ministro da Educação que as escolas públicas são muito mais do que as notas dos exames de fecho de ciclo. Comparativamente às primeiras, refere Que diferença é que há numa escola que está no número 200 lugar ou que está no número 350? Que diferença é que há entre uma escola que tem de lidar todos os dias, () com um meio socioeconómico complexo, comparativamente, a uma escola que pode escolher os alunos e dizer quais são os que contarão para essa lista seriada?
Isto quererá dizer que as escolas privadas são piores escolas, porque trabalham com um contexto mais muito mais privilegiado a nível sociocultural? Não. As realidades, entre escolas públicas e privadas, mas, também, entre as escolas privadas entre si e as escolas públicas entre si, ainda que pertencentes a uma mesma cidade, são tão distintas, que qualquer comparação baseada somente em resultados nos exames nacionais é claramente abusiva e potencialmente errónea.
Portugal é um país imensamente heterogéneo. Se observarmos, somente, a percentagem de alunos beneficiários de Apoio Social Escolar, verificaremos que as realidades são imensamente distintas. Infelizmente, se temos uma escola, segundo Pierre Bourdieu, que age como correia reprodutora das desigualdades presentes na sociedade, diferentes captações de alunos, com as suas diferentes ambições e expectativas de sucesso, implicarão, necessariamente, diferentes perspetivas de sucesso da escola, se somente medido pelos resultados dos seus alunos nos exames nacionais. Imaginemos duas escolas: uma que recebe alunos desfavorecidos e desmotivados, de potencial sucesso de 9 valores nos exames nacionais e que os consegue levar aos 12 valores e outra, que recebe alunos motivados, de potencial sucesso de 18 valores, e os leva aos 19 valores. Qual a melhor? Nem aqui podemos dizer que uma é melhor que a outra. Porquê? Porque cada uma vai trabalhar uma dimensão diferente. Enquanto uma vai procurar o seu sucesso na dimensão motivacional e no contrariar dos constrangimentos socioculturais e socioeconómicos dos seus alunos, a outra vai trabalhar apoios especializados e os pormenores de conhecimentos que farão a diferença num exame nacional. O que importa é saber qual das escolas, no seu contexto, foi melhor capaz de responder ao seu desafio. Qual a que, por exemplo, não desistiu ou alienou ninguém no seu processo educativo.
O próprio Ministério da Educação, consciente desta realidade, divulga os dados de um segundo ranking ainda redutor, porque, mais uma vez assente nos resultados dos exames nacionais: o denominado Ranking do Sucesso. Este ranking, que avalia os percursos diretos de sucesso, que são a percentagem de alunos, em cada escola, que termina o secundário sem chumbar e com positiva nos exames nacionais, procura penalizar a seleção de alunos ou a retenção dos alunos com notas mais baixas, impedindo-os de ir a exame e de prejudicar a média da escola. Esta é uma tabela que muda, em muitos casos, radicalmente a posição das escolas, sendo muito mais dividido entre secundárias públicas e colégios privados, contando com 59 escolas públicas entre os 100 primeiros lugares.
Mas a diferença de contextos acontece não só entre escolas públicas e privadas, mas também entre as escolas privadas, entre si, e as escolas públicas, entre si e ainda que na mesma cidade. Assim, sendo as escolas privadas as detentoras dos lugares cimeiros dos rankings, há outras escolas privadas, de missões e contextos distintos, que se encontram nos lugares inferiores. No caso das escolas públicas da nossa cidade, atente-se no efeito da criação dos denominados mega agrupamentos. A criação dos mesmos veio cristalizar os públicos de cada um, alterando fortemente o contexto de um quase livre mercado de oferta e procura, previamente existente. Essa alteração de fluxos de alunos, entre as escolas básicas e secundárias, acaba por se refletir quando se abordam os denominados rankings do secundário, tal como presentemente contruídos. No caso do nosso agrupamento, sabemos que a nossa missão é, no respeito pela diferença, buscar o percurso de sucesso escolar - e de vida futura! - de cada um, contrariando, em cada ato, o impacto das imensas desigualdades de base presentes na nossa sociedade.
07 Outubro 2024
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