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Derrota à francesa

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Derrota à francesa

Ideias

2024-07-21 às 06h00

José Manuel Cruz José Manuel Cruz

Confronta-se o leitor com algum discurso sadio sobre a Democracia? No dia a dia, entenda-se, no que dos politicólogos de painel releva. Veja, por exemplo: com a lei eleitoral inglesa, o partido de Le Pen seria hoje maioria absoluta. Com o sistema português idem. Com a prática parlamentar alemã, austríaca ou holandesa, seria uma solução viável de governação. Na França regressiva, porém, os 143 deputados RN e afiliados Ciottistas são tratados abaixo de lixo, de forma canalha pelos apaniguados de Mélenchon – France Insoumisse – e com desprezo de luva branca pelos afiliados de Macron. Em suma, as democracias são como os chapéus – há muitas, e na benta reserva europeia também vemos que se lhe diga.
Desfazendo equívocos: não houve vitória da Esquerda, nem a Extrema-direita perdeu. Da primeira para a segunda volta, nenhuma sondagem deu o RN com maioria absoluta, pela simples razão de nenhum estudo desse teor ter sido realizado. Ouve especulações, ou extrapolações falaciosas, se preferirmos o linguajar estatístico ao filosófico. Na segunda volta saiu à frente a Nova Frente Popular. Tão factual isso é, como por verdade maior têm que ficaram longe de uma maioria de governo, como verdade é, também, que nunca os 4 coligados se entenderam para escolher entre si um candidato a primeiro-ministro. Mais, ainda que o tivessem feito, nunca passariam da primeira sessão parlamentar, caídos a pronta moção de censura. Rasgam vestes, os da NFP, porque de nenhum préstimo lhes seja a vitória. É a vida!
A luta política em França é mesmo malsã. Ontem, dia 18, teve lugar a eleição da presidência da Assembleia. Reconduziram a titular cessante e do facto nenhum mal vem ao mundo. Hoje, 19, amanh?, 20, vão a sortes os demais cargos – vice-presidências, presidências de comissões, as três questorias. Pelo que se prepara, nenhum cargo está destinado ao RN, embora o regulamento e a prática disponham que as honras sejam repartidas pelas famílias políticas com assento, em respeito à sua representatividade. Resumindo, nula é a ponderação democrática entre os que desfilam sob os estandartes de Macron e da NFP.
Entre actos eleitorais, desistiram os candidatos da macronia e da vanguarda de esquerda, uns em favor dos outros, para que que o RN não somasse circunscrições. É caricatural, mas é legítimo. À margem da legitimidade, no entanto, ficam as distorções que tiram da cartola – veja-se só, para benefício e salvaguarda da democracia, porque o RN seja herdeiro de partido algum dia fascista, nos idos da sua constituição. Ora, no que vejo, nenhuma tentação totalitária encontro num partido que de 2012 para agora evoluiu de 2 para 8 deputados, depois para 89, agora 143 (dos quais 17 da linha Ciottista), números que atestam a implantação popular e a aceitação das análises e do discurso da força lepenista.
Aventei, em crónica precedente, que o partido de Macron se livrasse de embaraços, assim atraindo ao Campo da Razão, ou ao Arco do Poder, o PS. Por ora não aconteceu, o que carrega de sombras o exercício governativo de quem aceite o presente envenenado. O Centro incoerente de Macron nunca fará governo com o partido de Le Pen, e isso sabe-o toda a gente, incluindo os que militam à esquerda. Resta, à esquerda, esperar que o campo do governo estoure de novo de imobilismo, enquanto de raiva arrumem a casa, expurgando a deriva trotskista de Mélenchon e seus fiéis. Aliás, a cisão na France Insoumisse já começou.
O RN, por seu lado, como o partido mais rico de França, porque assim o determinam as subvenções, pode investir na cultura e consolidação dos seus quadros.
Quem ganhou, mesmo?

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