‘Spoofing’ e a Vulnerabilidade das Comunicações
Voz à Saúde
2022-12-17 às 06h00
O Mundial de Futebol, lá vai chegando ao seu epílogo. Portugal foi afastado precocemente. Mais uma vez, por tudo o que se passou em torno de Cristiano Ronaldo, pudemos ver o quanto a ingratidão e a falta de memória, rapidamente suplantam outros valores e, veio ao de cima, o que tanto se diz em gíria, “passar de bestial a besta”, é num instante!
Mas, perante esta realidade, foquemo-nos nas questões da Saúde e do SNS.
O Ministério da Saúde, foi um dos epicentros dos inúmeros casos já vividos por este novo (velho) Governo, com a inenarrável Ministra Marta Temido e a sua demissão já há muito tempo vaticinada e desejada. A sua sucessão veio cheia de “apostas” e nomes colocados em “cima da mesa”, mas sem surpresa, é nomeado o Dr. Manuel Pizarro, Ministro da Saúde. Chegado à Av. João Crisóstomo, vem tentando com palavras resolver problemas de fundo e estruturais que tornam o SNS inoperacional em muitas situações. Mas estes problemas não se resolvem com palavras! A realidade é de tal forma evidente que continuam alguns serviços de especialidade (Obstetrícia, Pediatria, Etc) encerrados aos fins-de-semana. Escalas por preencher, demissões de Directores de Serviço e tantos outros casos.
Pese embora, o recente acordo, coxo, para minimizar injustiças do passado, firmado com os Enfermeiros, a insatisfação e as iniquidades são grandes. A carência de Enfermeiros é a razão de muitas camas hospitalares estarem encerradas e por outro lado, em muitos serviços não estarem a ser cumpridas as “dotações seguras”. Os graves problemas e de fundo, não só com os Enfermeiros, mas no SNS, continuam lá. A reforma dos Cuidados de Saúde Primários não acontece! O bom exemplo disso, vem agora espelhado no "Relatório Health at a Glance 2022, da OCDE e da Comissão Europeia", publicado esta semana, em que aborda entre outros assuntos, as remunerações e os rácios: “enquanto a média dos países da UE era, em 2020, de 8.3 Enfermeiros por mil habitantes, em Portugal esse número não vai além de 7,3 por mil habitantes, tendo sido já ultrapassado por países como a Roménia, Lituânia e Malta.
Consciente dos problemas dos Recursos Humanos na Saúde, particularmente dos Enfermeiros, o Presidente, Dr. Fernando Araújo, conhecedor desta realidade, afirmou na cerimónia de apresentação da Direcção Executiva, que os cerca de 150.000 profissionais que trabalham no SNS, têm de ser valorizados e onde haja e se criem condições para evoluir e conseguirem equilibrar a vida profissional com a vida familiar.
As outras Classes Profissionais falarão por si. Quanto aos Enfermeiros, está muito longe de se terminar a negociação com o actual Ministério da Saúde. Lembrar que da parte dos Enfermeiros, entre muitos outros assuntos, há para negociar e atender:
Enfermagem: Profissão de desgaste rápido e antecipação da idade da reforma; Pagamento do Internato da Especialidade de Enfermagem (como acontece com os Médicos e Farmacêuticos); Revisão da Carreira de Enfermagem e da Grelha Salarial dos Enfermeiros;
Para justificar o atrás descrito, suportemo-nos em alguns resultados alarmantes e assustadores de um estudo realizado e divulgado, pela Profª. Doutora Raquel Varela e outros Professores/Colaboradores do Observatório para as Condições de Vida e Trabalho/Nova FCSH:
Enfermeiros mais antigos na profissão e mais velhos sofrem de maior exaustão emocional; Profissionais com maior carga horária têm maiores índices de esgotamento emocional; Enfermeiros (mais de 26%) trabalham em média demasiadas horas por semana com casos extremos acima de 70 horas; A maioria dos Enfermeiros (65%), exercem a sua profissão no sector público e em contexto hospitalar; Têm horário rotativo (57%) e trabalho por turnos (74%), com uma percentagem elevada de trabalho nocturno (60%); Entre muitos indicadores ressalta um, em que um número importante de Enfermeiros (97,2%), não gozam de sete dias seguidos de férias há mais de 350 dias; Muitos destes valores reflectem-se no índice comparável, (inter-classes profissionais) de exaustão emocional de 3,42 pontos, bastante acima do valor de 2 pontos, considerado normal.
Uma carga horária excessiva corresponde em média os maiores níveis de esgotamento emocional. Os Enfermeiros que trabalham mais horas têm índices mais preocupantes de burnout.
Perante estes indicadores, resultados e conclusões do presente estudo, é deveras assustador o desgaste físico, emocional e psicológico que os Enfermeiros sofrem. Por muito que desagrade a muitos, e como disse recentemente a Srª. Bastonária dos Enfermeiros no Congresso, dirigindo-se ao Sr. Ministro da Saúde e à Plateia, “são os Enfermeiros o Pivô do doente, porque é ele que vela, cuida, vigia e sinaliza a todos os outros 24horas/dia, 365 dias por ano”.
Convém lembrar sempre da importância do cumprimento das dotações seguras nos serviços, porque os estudos demonstram que se morre mais, na ordem dos 7%, quando o rácio de Enfermeiros nos serviços de internamento está abaixo do exigível. E a maioria dos serviços está abaixo deste “nível de segurança”. Por outro lado, segundo a Srª. Bastonária da Ordem dos Enfermeiros, a prestação de cuidados por Enfermeiros Especialistas reduzem: Infecções cruzadas hospitalares; Dias de internamento e reinternamentos; Taxas de mortalidade; Criam uma poupança ao Estado na ordem dos 65 milhões de euros/ano;
Realmente, neste enorme mas insubstituível SNS, há que redefinir o valor e o financiamento público para a Saúde. Há necessidades a todo o nível, fruto de anos e anos de desinvestimento, cativações e desvios de prioridades. Mas neste momento, os Recursos Humanos, principalmente os Enfermeiros, terão que ser a prioridade do investimento do Ministério da Saúde. Por muito que não queiram ver, a realidade é esta, nua e crua. E se quiserem estancar a emigração destes profissionais que já vai em 20.000 e, de outros profissionais, terão de oferecer remunerações e carreias dignas com progressões e dignificação das profissões.
01 Outubro 2024
17 Setembro 2024
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