Ettore Scola e a ferrovia portuguesa
Escreve quem sabe
2020-05-25 às 06h00
O retalho é uma área onde são gerados, guardados e processados, diariamente, milhões de dados. Estes dados, depois de captados, são enviados na sua forma original para diversas plataformas, incluindo as analíticas. Depois de diversos cálculos, este tipo de soluções disponibiliza informações consolidadas dos resultados sob a forma de relatórios, mapas, gráficos e tabelas, potenciando o conhecimento do negócio e permitindo, naturalmente, tomadas de decisão mais acertadas. Aproveitar a riqueza destes dados e extrair deles respostas a desafios diários é essencial nesta área de negócio bastante complexa e competitiva.
Existem indicadores que me agradam mais do que outros, principalmente aqueles que permitem estabelecer uma correlação entre duas ou mais variáveis, que possibilitam extrapolar a forma como determinado efeito poderá ter sido espoletado por determinada ação. Qual o impacto nas vendas se colocar um produto numa determinada prateleira, ao invés de outra? Qual o impacto de se juntarem duas marcas competidoras na mesma prateleira? Qual o impacto nas vendas de uma determinada categoria se colocar esse mesmo produto sobre essa estrutura mercadológica? Qual a probabilidade de existir fraude numa transação caso existam diversas linhas canceladas pelo mesmo empregado de caixa?
Tal como no retalho, outras áreas tentam apostar na aquisição e processamento massivo de dados para dar resposta a muitas perguntas idênticas. Veja-se, por exemplo, cidades que se tentam conhecer melhor através da adoção de novas tecnologias e infraestruturas em prol de problemáticas e desafios urbanos comuns dos seus cidadãos e da sociedade. Em diversas cidades espalhadas pelo mundo, encontro atualmente implementadas soluções que não só permitem a aquisição de dados através de diversos sensores, em tempo real, como também a posterior monitorização da informação resultante. Por exemplo, indicadores como os níveis de congestionamento no trânsito, os níveis de emissão de dióxido carbono ao longo do dia, alertas para eventuais acidentes, entre outros. Este tipo de informação é deveras pertinente, pois permite não só o melhor conhecimento da cidade, como também a identificação de eventuais lacunas em processos ineficientes, adotar estratégias para o seu ajustamento e consequente melhoria do nível de vida dos cidadãos.
Tenho lido diversos artigos científicos relacionados com o paradigma «cidades inteligentes», vislumbrando controversos debates em redor do seu conceito ainda nada canónico nos dias atuais. O crescente número de dispositivos da “Internet das Coisas” colocados em ambientes urbanos tem, de facto, o potencial de entender a forma como as cidades funcionam. Por outro lado, cada vez mais as cidades modernas apostam em plataformas inovadoras e infraestruturas que permitem não só integrar, mas também partilhar esses dados, abrindo, assim, o acesso a todos os atores interessados e possíveis fornecedores de soluções para desafios urbanos comuns. Por exemplo, na procura de soluções para a problemática em redor do congestionamento e melhoria da eficiência dos serviços de transporte público.
Curiosamente, dei por mim a ler uma notícia que me fez escrever este breve artigo de opinião. Refere-se à mobilidade em Braga e à pretensa intenção da autarquia de colocar mais sensores em determinadas zonas críticas da cidade. Sinceramente, não acredito que a aposta neste tipo de mecanismos consiga responder, de imediato, a alguns desafios relativos ao congestionamento de trânsito que Braga enfrenta há demasiado tempo, tal como o nó de Infias. No entanto, não só fico bastante agradado por ver que se procura usar a tecnologia para futuramente se conhecer melhor a cidade, como também anseio que se disponibilizem todos estes dados em formato aberto, tal como se faz noutras cidades. Desta forma, quaisquer interessados poderão também estudar, propor ou até desenvolver, porventura, novas soluções para alguns dos desafios urbanos atuais.
*com JMS
10 Outubro 2024
08 Outubro 2024
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