Correio do Minho

Braga, quarta-feira

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Curiosidades que perturbam

António Braga: uma escolha amarrada ao passado

Ideias

2015-06-19 às 06h00

Borges de Pinho Borges de Pinho

1Segundo veio a lume, o Tribunal de Contas considerou haver descontrolo financeiro, algumas “ilegalidades” e outras “anomalias” na vida contabilística e gastos do Tribunal Constitucional, pelo que sentimos muitas dificuldades em compreender e ultrapassar aquela imagem “emoldurada” e “embrulhada” em circunspecção, seriedade, responsabilidade, sisudez, rigorismo, isenção, independência e severidade que tem vindo a ser “representada” e adoptada em público pelo seu Presidente e seus pares. Uma sisudez tão determinada e de espavento e uma seriedade tão “constitucional”, aliás idênticas às que nos “arremessam” aquando da leitura pública de seus doutos (?!) acórdãos e decisões, que até nos custa a acreditar no que se lê, designadamente ao reviver e recordar tais momentos de públicas exalação, compaginação e análise das medidas do governo face à Constituição, com um exarar ex-cátedra de inconstitucionalidades. Aliás, e por via de regra, para muito gáudio e gozo “político” da oposição e toda uma satisfação do povo por constatar que nem sempre um governo pode e tem autorização para ir de qualquer modo aos seus bolsos. Simplesmente... tão apressados e “rigorosos” cumpridores da Constituição, tão sérios e probos respeitadores da legalidade e zelosos defensores dos direitos e dinheiros dos cidadãos, para pasmo nosso e gáudio dos seus detractores, que não vêm acreditando sequer na sua utilidade e muito menos nas isenção e independência políticas que apregoam, afinal, pelo que consta e se sabe, têm também telhados de vidro, cometem erros e apresentam falhas em matéria de legalidade, aliás como muitos outros, porquanto têm vindo a “gozar” e a “brincar” com dinheiros públicos e a ir, naturalmente, aos bolsos do povo. E, diga-se, de modo nenhum perturbados com um qualquer síndroma de inconstitucionalidade ou peculato!... “Embolsando” subsídios de refeição quando usufruiam já de ajudas de custo, e “beneficiando” do insólito e muito curioso pormenor de que “todos os juízes têm um carro, combustível e via verde, quando apenas o presidente e o vice-presidente do TC teriam de facto direito a isso”(CM 25.4). Aliás, concretizando, segundo uma auditoria realizada pelo Tribunal de Contas “entre novembro de 2012 e dezembro de 2013 registaram-se «pagamentos indevidos de subsídio de refeição no montante de 12 329 euros», o que corresponde a uma “infracção financeira”, e ainda “«irregularidades na atribuição de veículos para uso pessoal (com cartão de combustível e via verde) a todos os juízes conselheiros (13), embora só o presidente e o vice-presidente tenham direito a veículo oficial»”, para além de “«falhas na organização dos processos de pessoal e aquisição de bens e serviços»” . Sem mais palavras ou comentários, note-se, já que para um sempre lesto e usual “branqueamento” de factos surge e basta sempre o inefável e muito conhecido e omnisciente “comentador” Prof. Marcelo!...

2. Ficámos preocupado com os “economistas” que, a pedido do Costa, subscreveram o estudo e cenário macroeconómico apresentado com muita solenidade na sede do PS no Rato, anotando-se apenas serem todos ou quase “doutores”, universitários, ex-governantes, políticos ou quejandos da área socialista, e com todo um ar superior, mas enjoativo, de “infalibilidade”. O que, diga-se, muito nos assusta já que desde há anos vimos sendo conduzidos e iludidos por “doutores economistas” de “excelsos” pensares e ideias, aliás sempre lestos e hábeis em previsões, análises e cenários mas com o povo a suportar depois as “loucuras” de tanto saber. Tanto ou quanto se percebeu, os economistas “arregimentados” e doutores em “futurologia” traçaram cenários de “leitura” agradável para um povo que vem vivendo “enredado” em mentiras e promessas, acabando sempre a enfrentar dolorosas realidades e crises. Um povo que, já desconfiado dos visionários e “letrados” em Economia pavoneando títulos, canudos e doutoramentos, tão só lamenta que não tenham surgido antes, “assistido” a Sócrates e evitado a vinda da Troika.
Aliás, diga-se, os cenários gizados, os aumentos e progressos “avançados”e as mudanças que “traçam” num quadro de cortes e diminuição dos impostos e medidas que vêm onerando o povo português suscitam-nos muitas reservas e interrogações. Tal como as “loucuras” dos “Ibizas”, Varoufakis e Piketty, este último num “oportuno” e hábil envolvimento do Costa, já que se impõe encarar as realidades e sobretudo a ... falta de dinheiro. E porque assim, a tais economistas, pagos por “palpites aventureiros ” e “odisseias” de risco, tão só se pede que tenham a honestidade e a seriedade de admitir e reconhecer a situação real dum país que tem visto diminuir a população trabalhadora e contribuinte, persistir o desemprego, crescer a emigração, aumentar o número de idosos e minguar o dos nascimen- tos. Com graves reflexos, diga-se, quanto às viabilidade e sustentabilidade das pensões e segurança social, para além dos perversos efeitos colaterais, sendo de todo previsíveis um grave colapso social, mais empréstimos e ajuda externa . Aliás, a seguir-se tão “arrojado” plano macroeconómico, teme-se que se venha a enfrentar uma nova tróika, já que como certo figuram tão só aumentos nas despesas e decréscimos nas receitas do Estado, sendo tudo o mais uma sonhadora “aposta” no crescimento da economia, algo de incerto, inseguro e hipotético.
Aliás os portugueses já devíam estar alertados para os perigos de tais previsões e cenários, mas seria importante “escutar” sobre tal matéria os Medina Carreira, Bessa, Cravinho, Pinho, Teixeira dos Santos e outros “experimentados” economistas que se “esfalfam” e “gastam” a debitar opiniões e dicas, não sendo de todo despiciendo também ouvir-se Sócrates («pagar as dívidas é coisa de crianças», disse-o) e o amigo S. Silva, para nos ensinarem como ”se fazem milhões” e se progride como gestor, governante e empresário.
« A Troika agora chama-se Portas, Passos Coelho e Cavaco e Silva”, teria dito Costa e tal foi escolhido como “frase do dia” (CM 24.4), mas, goste-se ou não desta tríade, a realidade é mais perturbadora. Ao ouvi-lo fica-se com a sensação de que se distingue de Sócrates tão só pela imagem (os apreciadores deste último têm-no por mais charmoso, mais garboso, mais entusiasmante e mais sedutor...) já que no demais em nada se diferenciam, havendo até já quem, cantando “aleluías”, diga que Sócrates ressuscitou, apesar dos muitos e plangentes “miserere nobis” que se vêm escutando. Aliás já nada nos espanta, nem o revelado por um tal JSerafim Rodrigues (D.Minho, 25.4) de que ele teria dito no Porto que “ o PS não só é um partido de coração e direitos sociais mas de rigor na gestão” e que “foi o PS quem, por duas vezes, resgatou o país da bancarrota...”, ultrapassando assim memórias e passados.
Aliás, querendo-se agradar a gregos e atroianos avança-se com mais despesa pública, mudanças na lei laboral, redução de impostos, alteração do IVA na restauração, etc., pelo que nos resta seguir JPCoutinho quando diz que “levar a sério esta salada é correr o risco de indigestão” (id.), ou de uma nova troika, gerada pelos palpites económicos debitados no “embrulho” ou “imbróglio” de tais “doutores-pensadores”.
A final, e como mero “entretenimento”, não resistimos ao humor retratado em “o Bananal”, onde se “estampa” uma conversa de Costa com o Centeno de onde se respiga : “o documento das perspectivas socialistas para a década (que o meu amigo coordenou) não são carne nem peixe ... são assim como um caranguejo a andar para os lados». Pelo que, humor à parte, só nos resta entrar na procissão e “rezar” também um muito sentido“Miserere Nobis”.

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