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Cristiano Ronaldo

‘Spoofing’ e a Vulnerabilidade das Comunicações

Cristiano Ronaldo

Voz aos Escritores

2022-12-16 às 06h00

Joana Páris Rito Joana Páris Rito

Deixa-me chamar-te assim, Cristiano, permite-me que te trate por tu, podias ser meu filho e escrevo-te com o coração de Mãe, um coração igual ao da Mulher que te deu à luz, de nome Dolores, essa Grande Mulher que traz as dores do Mundo no nome com que foi agraciada, que sofreu de perto e de longe os teus padeceres que foram muitos, sempre te amparou, sempre te incentivou, bebeu as tuas lágrimas à distância do oceano que vos apartava quando, ainda pardal franzino, voaste da ilha do teu nascer para a capital do País que irias engrandecer, o País pequeno que se fez enorme por gigantes como tu. Lágrimas de filho são as mais custosas de engolir. A minha Avó Marizete, outra Grande Mulher, dizia, Falam do que tenho mas não do que tive de penar para o ter. Assim se passou contigo, penaste, choraste baba e ranho na Academia do Sporting, menino inseguro e saudoso num mundo desconhecido, um lugar que não era o teu, tão distante da Pérola do Atlântico, tão longe da tua casa, da tua família, dos teus amigos, mas o teu sonho, a tua tenacidade, não se deixaram vencer pela amargura, lutaste, porfiaste nos teus propósitos, até o teu corpo miúdo esculpiste, construíste o corpo que querias com suor, sangue e lágrimas, não desististe, eras o primeiro a entrar e o último a sair do ginásio e dos campos da Academia, e pelas noites, embalavas o pranto nas palavras corajosas da tua Mãe, nos mimos que as tuas irmãs te enviavam, como aquele par de sapatilhas que há tanto querias e que elas, com as suas poupanças, compraram e te enviaram. Talvez por isso sejas tão grato e generoso com os teus, Amor com Amor se paga, mas a maioria não é como tu, a maioria veste-se de ingratidão, depressa esquece a bondade e a entrega dos outros quando escala a patamares superiores e se enubla pela fama, tu, não, não esqueces a dedicação dos teus, nunca esqueces, e tantos necessitados ajudas, secretamente calas as tuas dádivas, foges do exibicionismo da beneficência interesseira, és um ser Humano magnífico, bom filho, bom irmão, bom amigo, bom Pai, bom companheiro, és um jogador excepcional, cumpridor, correctíssimo, elogiado por muitos que trabalharam contigo e souberam reconhecer o teu devido valor. Como Amália e José Saramago levaste a alma portuguesa aos quatro cantos do Mundo, Portugal é Cristiano Ronaldo. Recordo-me, sorrindo, daquela criança a quem a professora perguntou o que é o Cristianismo, e a criança, vaidosa do seu saber, da idolatrarão por ti, respondeu-lhe, o Cristianismo é a legião de fãs do Cristiano Ronaldo. Foste fadado com um dom divino que não desperdiçaste, pelo contrário, honraste-o, porque não basta o dom, é imperioso trabalhá-lo com obstinação e perseverança. O teu nome ouve-se em milhões de bocas, estádios de futebol repletos de adeptos que em uníssono clamam por ti. O teu nome baila nas vozes de grandes e de pequenos, crianças, novos e velhos, falantes de todas as línguas. Influencias milhões que sorvem o teu carisma, seguem o teu exemplo, aplaudem as tuas múltiplas vitórias, rejubilam os teus golos, os teus milhares de merecidos prémios como se fossem eles a ganhá-los, e tu, Cristiano, partilhas as conquistas na simplicidade dos humildes e na gratidão dos bem-aventurados, sem alardes, sem vaidades, sabes, a minha filha Marta adora-te, imita-te, inspira-se na tua determinação e na prossecução dos seus sonhos, como ela, milhões o fazem. Recordo, comovida, a imagem de um menino magro, calções azuis, tez negra, que nas costas despidas, pintadas a giz branco como uma grande tatuagem tosca, mostrava o número sete encimado pelas letras: RONALDO. Por horas, presenteaste a glória e a escassa felicidade a este menino descamisado, fizeste a diferença na vida dele, nas vidas de multidões. O teu exemplo transforma esta bola injusta que é a Terra num Mundo melhor. És o paradigma da Esperança, a Luz num presente de Guerra, num agora de extremas carências, corrupção, maldade, prepotência, exploração, egoísmo e ganância, num agora onde a violação dos Direitos Humanos persiste como uma doença maligna. Iluminas os que acreditam na mudança. És embaixador do Bem no meio dúbio, sombrio e cruel do futebol. És o Triunfador. Por isso inquietas os ofuscados pela tua Luz, enredados na inveja mesquinha, empenhados em denegrir-te, em derrubar-te do pódio, um lugar altíssimo que a muito custo alcançaste, porque o sucesso incomoda, o sucesso dos outros morde os calcanhares dos rastejantes, indigesta os miseráveis de espírito, os tais que somente olham para o que tens e não para o que fizeste para tê-lo, ignora-os, Cristiano, segue o teu caminho virtuoso, desfruta da vida, ofertaste muitíssimo de ti a Portugal e ao Mundo, nada mais precisas de provar. O Mundial do Catar não beliscou a tua grandiosidade, já eras enorme e continuarás a sê-lo. Ficarás na História, como Amália e José Saramago, os demais, os que querem escurecer-te por não serem como tu, dentro de um par de anos serão esquecidos, mas tu, caro Cristiano, és Imortal. Bem-hajas, pelo tanto que nos deste, pelo tanto que nos dás. Orgulhamo-nos de ti e da tua Mãe. Sempre.

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