Correio do Minho

Braga, sexta-feira

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Cravos, crisântemos, saudades e perpétuas

Assim vai a política em Portugal

Ideias

2013-05-17 às 06h00

Borges de Pinho Borges de Pinho

No recente 25 de Abril fomos confrontados com ofertas de cravos vermelhos numa simbologia de vivência e de entusiasmo por um passado, mas a grande verdade é que a quase totalidade das pessoas, no seu íntimo, meditando e olhando para suas vidas, actuais dificuldades e problemas, de certo estaria a pensar e a visionar antes crisântemos, saudades, suspiros e perpétuas, por norma muito usuais e vistos em certa época nos jazigos, transmitindo a tristeza, a saudade e a dor de uma perda. Umas flores envoltas por uma carga negativa, forte significado e plasmando toda uma simbologia de desânimo, desconforto, dolorosa perda e pungente saudade.

Com efeito é incontornável que os tempos actuais, com toda a sua dolorosa e triste realidade, convidam ao luto e a sentimentos de pesar e perda face à “morte”de alegrias e esperanças que se adivinhavam, desejavam e anunciavam, mas que acabaram por estiolar, se esvair e perder abafadas pelas nefastas “junça” e “grama” que invadiram a vida dos portugueses. Para não se falar nas muitas outras ervas e plantas daninhas que foram surgindo, crescendo e engrossando como resultado e na sequência de tolas utopias, idealismos irresponsáveis, aproveitamentos oportunísticos e inconfessáveis interesses, aliás de certo modo sugeridos e alimentados por uma Constituição irreal e desvirtuada na sua confecção.

A que aliás se seguiram leis utópicas, fraccionantes, insensatas, discutíveis e de questionável oportunidade em que apenas se priorizam direitos, anulando-se e minimizando-se deveres, assim se fazendo esboroar e ruir toda a estrutura de uma sociedade até então responsável, consciente, sensata e trabalhadora, contribuindo para um aniquilar de toda uma consciência de solidariedade, de verdade, de produtividade, de responsabilidade e de respeitabilidade por princípios e valores morais e outros.

O que obstou a que crescesse e medrasse uma autêntica e sensata melhoria de vida, naturalmente com uma outra, melhor e mais responsável vivência social e de solidariedade, tendo vingado tão só os ilusórios delírios de mais dinheiro, dos subsídios da CEE, da moeda única, mas sem sequência num desenvolvimento e crescimento inteligente, pensado e sensato da economia e vidas.

Com todos inebriados pela utopia de uma cantada liberdade, entorpecidos pelo narcótico da novidade política e de um sedutor liberalismo socio-económico, formatam-se e avalizam-se partidos, que os dinheiros do Estado vêm custeando e ajudam a manter, aplaudem-se e alimentam-se manifestações, dá-se voz a sindicatos e cantam-se aleluías ao poder do povo e hossanas às eleições, que se vêm multiplicando, ainda que onerosas e perturbadoras. Porque só engrossam e avolumam toda uma classe de “minorcas” e videirinhos que egoisticamente tão só vivem para o poder, a riqueza, o prestígio e sempre em ânsias de mando. Uma classe que vai crescendo desde os “infantários” dos partidos, sendo que, de uma forma estúpida e apressada, se procura fazer “homens” e “políticos” que mais tarde, para azar nosso, se transformam em “figurões”, “doutores” e “dirigentes” do país.

E quer se queira ou não têm vindo a ser eles os responsáveis pelo murchar dos cravos vermelhos, importando não se esquecer que muitos dos actuais “zeladores” do país ainda não haviam nascido ou não passavam de crianças irresponsáveis e imaturas há 39 anos atrás. Mas o cúmulo é que com o decurso dos anos tais irresponsabilidade e imaturidade não só medraram e se avolumaram como ainda se tornaram contagiantes e endémicas, atingindo e enlouquecendo o próprio povo.

Aliás os olentes cravos de cor vermelha muito rapidamente se transmudaram em algo de diferente e doloroso, pois, tendo-se “finado” face às agruras das dolorosas realidades do dia a dia, assumiram natural e consequentemente outros significado e valência, transformados em verdadeiros “pregos” e “verrugas” na vida dos portugueses. Muito devido às muitas papoilas, por norma vermelhas ou avermelhadas, que depressa afloraram e alastraram pelos “campos” deste país, invadindo e infestando tudo, tolhendo e narcotizando o próprio povo, afectando-o nas suas racionalidade, sentido de responsabilidade, inteligência, sensatez, solidariedade, moralidade e morigeração de costumes, tornando realmente Portugal “um mundo ao contrário”.

Tal como na telenovela que vem correndo em certa TV, aliás com um tão discutível e questionável aflorar de quadros, vidas e situações de um realismo cruel e de carga tão negativa, perversa, danosa e perigosa que naturalmente nos interrogamos sobre possíveis e perigosos reflexos em mentalidades e pessoas cultural, psíquica e moralmente impreparadas e sugestionáveis.

Mas a triste verdade é que dar eco e sublinhar casos e situações de tráfico de droga, vidas de dependência, violações e violências num dia a dia de bairro, adultérios, sexo quase explícito, pedofilia, atropelos à moralidade, decência e normalidade, incontornáveis “apelos” aos dinheiro, poder, traição, vingança e jogos “sujos” e de bastidores, “retratando” uma mafia em que vingam o bom ou mau humor do “chefe” e sua influência, etc., por mais que se apresentem como meras vivências de ficção não deixam no entanto de reflectir quadros reais, fidedignos e dolorosos do que se vem passando na vida nacional, neste Portugal realmente ao contrário ou virado do avesso.

E o mais chocante é que esta tão dolorosa, irreal, anómala e louca vida dos portugueses nos últimos tempos não é uma novela em que se possa mudar rapidamente o guião, alterar desfechos e substituir actores, importando e impondo-se que se tenha a coragem de continuar a cultivar cravos e a vê-los florir, acabando-se com as perversas grama e junça que os vêm estiolando.

Com todas as forças e sacrifícios possíveis face à situação de crise e bancarrota em que mergulhámos, mas sem desânimo e tentando pôr de lado e esquecer os crisântemos, perpétuas, saudades e suspiros que nos “sufocam” no dia a dia. Até porque ninguém de bom senso quer continuar a ver Portugal como “um mundo ao contrário”, doente e esquizofrénico devido ao narcótico de ideias e princípios utópicos duma classe cada vez mais irresponsável.

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