Mais e melhor Futsal VII
Ideias
2025-05-21 às 06h00
In Memoriam Jorge Henrique Pais da Silva (1929-1977), Historiador e Patrimoniólogo
Éinevitável começar esta viagem sobre o Património pelas ruínas arqueológicas: com elas temos vestígios da cultura material, das vivências e das edificações que nos foram deixados por povos e culturas que se situam, cronologicamente, no período da idade dos metais e antes da vinda e colonização romana. No nosso território, convido alunos professores e comunidades educativas a visitarem a Citânia de Briteiros, onde podemos (re)conhecer o trabalho e o legado de Francisco Martins Sarmento – um dos pioneiros da arqueologia científica em Portugal, mas também a Citânia de Santa Luzia, em Viana do Castelo ou, mais a sul, o Castro de Monte Mozinho. Uma leitura do trabalho do Professor Armando Coelho Ferreira da Silva mostra como a cultura castreja do Noroeste traduziu, nos vestígios e na identidade, formas de estar e ser que resistiram – e se fundiram – à assimilação romana.
Avançando no tempo, impõe-se um olhar sobre a herança romana, não só presente nas construções (pontes, aquedutos, vestígios de templos, edificações), mas sobretudo na implantação da língua latina, das instituições jurídicas e políticas, o direito romano e todo um conjunto de hábitos e valores que se foram arreigando. Podemos viajar no tempo na romanidade numa visita – que se impõe que seja com tempo (e não apenas de médico!) – ao Museu Arqueológico Regional D. Diogo de Sousa, em Braga. Aqui seremos surpreendidos com a vastidão de uma coleção – eclética, rica e significativa – que incorpora a maior coleção europeia de marcos miliários romanos, mas também um conjunto significativo de objetos de numismática, mas também de cerâmica e de mármore que evidenciam a romanização do território, a alteração substancial dos processos arquitetónicos, religiosos, culturais, mas também económicos e sociais. Este espólio foi ainda enriquecido, por doação, com a coleção da Fundação Buehler-Brockhaus, em 2018-19 que conta com quase 300 peças. Não se esqueça que o serviço educativo (neste e noutros museus) – e chamo a atenção para o fundamental trabalho que estes serviços desenvolvem – trabalha todo o ano com diversas atividades alinhadas com os programas curriculares e as necessidades pedagógicas e didáticas das turmas.
Na Alta Idade Média, começava por sublinhar o convite a visitar a Igreja de São Frutuoso de Montélios (e o vizinho Convento de São Francisco de Real, de outra época já, claro) onde podemos redescobrir a herança suévica e visigótica nas origens e definição canónica da Igreja Católica Romana. Um espaço com uma arquitetura soberba, que convida à redescoberta interior, à reflexão, sobretudo em tempos em que não sabemos parar e contemplar a beleza à nossa volta. É também este o lugar onde podemos compreender a importância que os monarcas suevos e visigodos deram às suas conversões ao cristianismo. A Igreja era, então, nos escombros da derrocada do império ocidental, a força mais organizada e capaz de ensinar, cultivar e dinamizar, não apenas os crentes, mas também todos os que procuravam trabalho, segurança e uma vida com a dignidade possível. O amparo de Deus foi sempre poderoso. É isso que também vai sentir se visitar a antiga Basílica-Catedral de Dume, onde encontra, literalmente, as várias camadas do tempo intercaladas – à superfície e no subsolo – e que poderá fruir de uma forma global, sendo de salientar o antigo sarcófago de São Martinho de Dume, antigo Arcebispo de Braga e Bispo de Dume (é verdade) que foi uma figura absolutamente marcante dos primeiros séculos da nossa cultura cristã no território do Minho.
Na Baixa Idade Média apresenta-se-nos, na sua solenidade, desde logo aquele monumento que está na boca de todos nós: a Sé de Braga, claro. Neste milenar espaço fundamental da nossa História se fundem séculos de cultura, memória e tradição. Do românico ao gótico, passando pelo renascimento, pelo barroco, pelo neoclássico – todos estes momentos artísticos se encontram plasmados nas suas paredes, no seu interior e exterior, recordando, também, a fabulosa Capela de São Geraldo onde, a 5 de Dezembro, é recriado o chamado “milagre da fruta” que celebriza o anterior titular da sé bracarense e que é uma lição para todos nós. Nesta época, há muito que vasculhar nos Arquivos Distritais e Municipais dos distritos de Braga e Viana do Castelo – que vos convidamos a visitar fisicamente e, também, em linha, através das suas páginas com milhões de imagens digitalizadas que são o mais perfeito repositório da nossa memória coletiva e que podemos (e devemos!) usar em sala de aula. Não fiquemos pelo que os manuais nos sugerem: sejam os ambiciosos e mostremos o território e as gentes aos nossos alunos!
Visitem também a Igreja Matriz de Viana do Castelo – hoje Sé Catedral – que nos aponta, já, para os tempos modernos, de encontro global de povos e culturas, que podemos contemplar, por exemplo, na Capela dos Mareantes (com a célebre inscrição pétrea no seu exterior), em que a gesta da expansão marítima, o poder dos homens e das mulheres do mar e, sobretudo, as suas esperanças, medos e devoções ficam bem patentes e expressas. Este percurso não ficaria completo sem a visita à Casa de João Velho, mesmo ao lado, exemplar magnífico dos séculos XV e XVI e, claro, a fachada imponente da Misericórdia de Viana, panteão sereno do encontro do ocidente e do oriente, que podemos encontrar nas figuras mitológicas e alegóricas que estão representadas no granito que insiste em ficar, em permanecer, desafiando o tempo. Não esqueça, claro, um dos mais belos edifícios da história do nosso municipalismo que são os Antigos Paços do Concelho, com símbolos e insígnias das partidas do mar que aqui podemos, também, encontrar e, sobretudo, contemplar. Viana é um sítio para ficar e um porto de abrigo para todas as épocas históricas!
Nos séculos seguintes, os solares e casas nobres da Ribeira Lima, vestígio claro do senhorialismo ancestral e da exploração da terra onde o vinho foi produto essencial, desde a fundação da nacionalidade. Nesse caso, abrigue-se e acolha-se à nobre e inspiradora Vila de Ponte de Lima onde encontrará marcas do passado, heranças imemoriais com enorme sentido de preservação, de valorização e de potenciação cultural. Os vários museus e núcleos museológicos merecem uma visita que, claro, só poderá ficar completa com o acompanhamento da Gastronomia soberba onde o Arroz de Sarrabulho e os Rojões são reis com a mestria sábia de rainhas como Clara Penha e Belozinda Varela.
Nos tempos contemporâneos, seja-nos permitido recordar os teatros, cafés e cineteatros que encontramos espalhados pela região, sinal da evolução dos tempos e dos espetáculos, do ser em comunidade que se faz renovação, sonho e sentido novo. Como poderá ver aprender e ensinar História pode e deve ser um exercício ativo, próximo e ligado à essência dos lugares. Vamos a isto!
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