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Confinamentos, medos e “mordaças”

Assim vai a política em Portugal

Confinamentos, medos e “mordaças”

Ideias

2021-03-19 às 06h00

Borges de Pinho Borges de Pinho

Num tempo conturbado de aflição e dor e vivendo-se uma pandemia que teima em se alongar no tempo ceifando vidas, queimando esperanças, alimentando dúvidas, interrogações e incertezas, vêm-se esgrimindo ideias, definindo competências, afirmando conhecimentos e fazendo experiências enquanto se degladiam múltiplos interesses, particulares, comuns, políticos e outros, e se multiplicam esforços em ordem a vencer a pandemia e em se regressar a uma normalidade de vida. E daí que se conjuguem e se equacionem números, factos, resultados, situações hospitalares, económicas e outras, e se analisem vivências individuais e coletivas, e suas consequências no estar, no ser e até no pensar. E num presente que só espera e olha para o futuro, e com medo, recordando um Natal de asneiras e trágico em consequências e temendo uma Páscoa que se aproxima.

Tudo, diga-se, em ordem a uma esperançosa normalidade de vida, mas não esquecendo os que já se foram, as perdas havidas, as dores sofridas, as falências sentidas, o desemprego que cresce e aperta, a fome que alastra e a ruína e a miséria que vêm dando cabo de um país. Que quer viver, note-se, mas sobretudo sentir um futuro de esperança e de vida e que não perdoa as mentiras, o desaforo das palavras ocas, as falsas verdades, as promessas de circunstância, os planos que se prometem e não se cumprem, porque tudo se vem perdendo em “rodriguinhos” de conveniência, de incapacidade e de vaidade, para já não falar em ignorância, incompetência e incapacidade.
Há uma gritante falta de vacinas, diminuem-se os testes, falha-se em estratégias que se apregoam e as prioridades são talhadas ou definidas conforme as circunstâncias do momento, perdendo-se muito tempo em medidas que já eram para Ontem mas só vêm depois de Amanhã, enquanto o governo, com muita “ganapada” e incompetência, continua numa “feira” de vaidade e folclore, de convencimento e de irresponsabilidade, agindo como uma “barata tonta”, inseguro e olhando para os vizinhos, que tarde procura seguir e acompanhar, e faz um plano de desconfinamento que suscita muitas dúvidas, interrogações e reservas. Um desconfinamento que o povo, já cansado de tantos estados de emergência e confinamentos, vem “resolvendo” e “decidindo” à sua maneira, nas costas das polícias e ao arrepio das regras da DGS e das ordens do governo, em passeios pelas marginais e praias, em eventos e encontros proibidos, em festas à socapa, aproveitando, abusando e “explorando” as exceções permitidas, mas esquecendo contágios, infeções e os problemas sanitários e económicos.

Um plano de desconfinamento que Costa acabou por anunciar a 11 do corrente após um conselho de ministros que se alargou ao longo do dia, e com muita controvérsia à mistura (não teria sido de todo consensual), e quando Marcelo já seguia para o Vaticano. Um desconfinamento por fases, gradual e a conta gotas por muitos contestado, ainda que agradando aos beneficiados, não muitos, anotando-se que o seu faseamento e concretização gradual não deixam de revelar uma certa prudência e cuidado, muito embora não se possa ignorar que o RT até já está em 0,8 e haver países que agora, devido a isso, até estão já em fase de recuo. Tal como Costa já ameaçou se os resultados forem desagradáveis e negativos. Marcelo não esteve presente, e diz-se que a sua vontade seria de manter tudo até à Páscoa.

Aliás a este propósito, e face às realidades de momento, impõe-se “ler” e não esquecer o cartoon “profético” de A. Maia na revista “Domingo” (semana de 7 a 13) do CM, onde um idoso, de aspeto andrajoso, surgia sentado num banco de jardim e “conversava” sobre confinamentos com um bando de pássaros alinhados à sua frente, muito quietos e atentos, exclamando: “Qu´é que esperavam?!!! Com um presidente hipocondríaco, um primeiro ministro bipolar e um chefe da oposição que só funciona a moedas!... De concreto apenas resulta que o desconfinamento se vai iniciar a 15, e tão só com a abertura das creches, pre-escolar, 1.ºciclo, ATLs, cabeleireiros, manicures e similares, comércio automóvel e comércio ao postigo, livrarias, bibliotecas, museus e mediação imobiliária, tendo-se “empurrado” para os dias 5 e 19 de Abril as 2.ª e 3.ª fases, gradualmente e com limitações, mesmo para as escolas e restauração, e com o 3 de Maio a perfilar-se como uma data “especial” normalidade(?!). Aliás uma abertura faseada, cautelosa e com regras, em que importa que todos colaborem, mas sobretudo que o governo não falhe nas testagens, vacinação, na vigilância e... em suas promessas.

Mas, sensatamente e sabendo o que temos, não podemos deixar de consignar o nosso pessimismo face à concretização do plano, e seus efeitos, pois a realidade mostra-nos que, apesar do que se diz, tudo se fez um pouco apressadamente e ao contrário do sugerido por cientistas, sendo que, no dizer de Ricardo Leite, a quem acompanhamos, a estratégia devia ser diferente, mais atenta aos indicadores locais, “assente numa testagem massiva e frequente, controlo rigoroso das variantes e robusta capacidade de identificação e isolamento das pessoas infetadas” e que “desconfinar o país inteiro à mesma velocidade é um erro” (CM. 13.3.21), lembrando os “erros cometidos em Lisboa no ano passado”.

O governo vinha desde há uns tempos pensando no assunto, mas é de se anotar e registar que as testagens prometidas e previstas para as crianças, pessoal auxiliar e professoras das escolas que as vão receber a 15 ainda estarão por se concretizar (aliás ainda em “fase de «Oremus»), com os resultados que se adivinham. Entretanto, diga-se, que a nova lei de estado de emergência foi aprovada pelos partidos já habituais, e que os demais votaram contra, certamente mais pensando nos seus “fiéis” e “crentes”, sendo que no caso do PCP nunca há problema com confinamentos já que ciente de que para os seus eventos não há lei, poder ou regras que os trave (v.g. festa do Avante, Comemoração dos 100 anos, comícios “ad hoc” e outras manifestações de acólitos, etc.). Aliás o que o perturba, bem como ao presidente da AR, é que Cavaco se meta na política dizendo e falando numa “democracia amordaçada”, com o Jerónimo a dizer que não há nada disso e que o Cavaco é que está “velho”. Temos que convir que o “rapaz” tem razão, tanto mais que “velhos só são os trapos” como diz o povo, com o que, aliás, parece também concordar o Marcelo. O que não ficou nada bem foi que Cavaco não tivesse esperado e fosse cumprimentar o Marcelo, após a posse, ainda que estivesse ao lado Ferro Rodrigues.
Mas ainda quanto às “mordaças”, e pensando nas palavras do Ferro, compreende-se que os governos se sintam mais cómodos quando têm amigos, socialistas e familiares seus a zelar pelos seus assuntos e a não embaraçar seus atos públicos.

Aliás tal modo de proceder será até natural e humano, mas, como diz o povo, o que é demais é moléstia. E na verdade o governo tem exagerado neste ponto, recordando-se a propósito a saída da PGR Joana, a do presidente do Tribunal de Contas, a ida “esquisita” de certo procurador para Bruxelas e algumas colocações de juízes e Magistrados do MP em certos lugares e funções, cujas competência, qualidades de trabalho e direitos tão só poderiam ter sido superados pelo facto de tais figuras, no presente ou no passado, terem sido incómodos para o governo pelos seus atos profissionais e lisura de comportamento. Aliás, e quanto a isto, haverá que se falar em “mordaças”, sendo evidente que este governo, e deste há muito, se transmudou num acolhedor “ninho” de familiares, amigos, conhecidos, confrades e boys, a caminho de um perigoso e inconveniente nepotismo, em termos de democracia e de lisura de processos. Como o Marcelo também devia saber!...

Falando-se de ministros, e começando pelo do Ambiente, diz-se para aí haver atrasos na dragagem da lagoa de Óbidos, em risco de se perder e a reclamar a atenção do governo, mas compreende-se a falta de tempo e a preocupação do ministro, chamado ao parlamento para explicar os negócios da EDP na venda de certas barragens. Mas, já agora, poderia esclarecer de um modo cabal o que se vai passar com a exploração do lítio em Boticas, Montalegre e na serra da Agra, e com a reabertura da mina da Borralha, do volfrâmio. Com tantas explorações, a somar à do hidrogénio verde, Portugal vai ser um país mesmo rico!... Mas há que se ir com cuidado e curar que não aconteçam gravações à socapa, como a que atingiu o Pedro Nuno.

De momento, aliás, os ministros estão na “berra”, já que se diz que fora do Tiaguinho a ideia de só vacinar como prioritários os docentes do ensino público e social, excluindo-se os do ensino privado, mas que uma noite bem dormida conseguiu evitar tal imbecilidade de contorno político e constitucional.
Aliás, por último, haverá a notar que, quanto a democratas, está a aumentar o número dos “cristãos novos”, dos que se dedicam tão só ao “politicamente correto” e ao “a bem do Governo”, o que assusta, como tudo o que possa vir dos lados da Ericeira e dos muitos infiltrados nos mecanismos do sistema. Que muito terão a esconder... crê-se!...

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