Ettore Scola e a ferrovia portuguesa
Escreve quem sabe
2018-12-10 às 06h00
São três horas da tarde. Estamos em julho, o sol bate no lajedo e queima. Sento-me num dos cafés da Arcada, peço um fino e aproveito a sombra. Há filas de carros subindo a Rua dos Chãos, uns procurando lugar para estacionar, outros procurando sair do centro da cidade. Nem todos saberão que, sob o lajedo da Avenida Central ou do Campo da Vinha, há muitos lugares de estacionamento, livres. Grupos de turistas sentam-se nos bancos e na relva, debaixo das árvores. Outros, aproveitam para refrescar-se nas fontes que projetam gotas de água a muitos metros de distância. Nas outras estações, o movimento neste lugar não é menor. Em momentos específicos (em setembro, por exemplo, quando começam as aulas, ou as festas da cidade), este é um lugar central, para onde convergem muitos milhares de pessoas. Chega-se facilmente ao centro da cidade, há estacionamento livre e há um enorme espaço para trajetos pedonais. Há um sentimento de segurança no ar, situação que se pressente a qualquer hora, de dia ou de noite, quando se aciona o sistema de iluminação. Todas as lojas envolventes são perfeitamente visíveis e sem aglomerações excessivas de pessoas. Excetuam-se, talvez, algumas entradas de shoppings em dias de forte chuva.
O comércio retalhista neste centro da cidade funciona bem, em base concorrencial, sobressaindo nele lojas de roupas e de calçado, bem como diversos cafés. Em horas especificadas em regulamento camarário, veem-se, por vezes, carrinhas a carregar e descarregar produtos. Neste momento, não se vê nenhuma. Tudo está limpo e calmo, sem barulhos excessivos. Olho à minha volta, analiso prédios baixos e outros mais elevados, e descubro aqui e além algumas placas de “vende-se” ou “arrenda-se” expostas nas janelas. Curiosamente, todas as placas estão nos últimos andares. Deduzo que, estando em zona comercial, estas lojas, ou escritórios, não sejam facilmente vendidos ou arrendados. Presumo, também, que tudo está conforme as diretivas do plano diretor municipal, e que o acesso a infraestruturas básicas, como água, luz ou gás, está garantido.
Nos últimos tempos, atravessa-me a mente uma ideia de negócio, e procuro sistematizar nela os fatores positivos, anulando os negativos, que o poderão impulsionar. Em curtos passeios por outras zonas da cidade, verifiquei que algumas das condições positivas deste lugar ou não existem, ou estão condicionadas por fatores de ordem diversa que serão difíceis de solucionar. Posso, aliás, explicitar o tipo de negócio que pretendo criar: uma loja de antiguidades, com primazia para os livros e as moedas, objetos que precisam de ser mostrados e vistos por quem passa. Junto ao Turismo, descendo a Avenida da Liberdade, vejo: «Arrenda-se. Contactar o número X». Segundo informações que recolhi antecipadamente, não parece haver impedimento legal ao negócio num lugar com esta tipologia. Trata-se de uma loja com uma área não muito extensa, mas perfeitamente capaz de cumprir o desiderato. A montra cumprirá certamente a função mostrativa que pretendo. Concentro-me nas vantagens e penso na proximidade do Theatro Circo, da Zara, e na excecional zona de movimentação e visibilidade. Avalio a possibilidade de transportar pequenos móveis e outros objetos.
Ao lado há uma oficina de arte sacra, o que me leva a deduzir a facilidade do transporte. Inicialmente, não precisarei de empregados, razão por que não me fixo nesse pormenor. Também creio que não será difícil encontrar alguém, em caso de necessidade. Dada a tipologia do negócio, assumo também que qualquer passante é um potencial comprador ou vendedor. Neste último caso, penso no fundo de maneio que me será necessário e no preço do arrendamento. Será que o preço do arrendamento é compatível com o dinheiro de que disponho, com o movimento que prevejo e com o retorno que ainda desconheço?
Amanhã vou apalpar o terreno. Conheço um ou outro patrão das redondezas, que me darão algumas informações sobre os seus negócios. Até mil escudos mensais, sou capaz de ir. Mas nesta zona, não sei, é capaz de ser mais caro… Também não faço ideia do tipo de contrato. Eu quero um contrato para pelo menos dez anos. Será possível? Tenho mesmo de perguntar. Amanhã de manhã dou aqui um salto e logo vejo.
Aproximo-me da loja. Colo o nariz ao vidro da montra e vejo, à esquerda, quase tapada por um pano sujo, uma tabuleta que diz, de dentes arreganhados: «Arrenda-se, 110 m2, 3.000 euros».
Fecho os olhos e respiro fundo. Não é a primeira vez que me cai o coração e o sonho. Da próxima, será.
*com JMS
10 Outubro 2024
08 Outubro 2024
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