Travão de mão
Voz às Escolas
2025-04-23 às 06h00
Mas quais são, em concreto, os conteúdos curriculares abordados na disciplina de Cidadania que tanta celeuma têm suscitado nos sectores mais conservadores da sociedade, motivando veementes acções de repúdio e, pasme-se, até judiciais?
Instigarão os professores e as escolas, como alguns afirmam convictamente, à mudança de sexo dos alunos?
Promoverão e incitarão a homossexualidade, como garantem, enquanto tendência sexual dominante e, parece, desejável?
Doutrinarão os alunos, como asseguram, segundo os princípios da extrema-esquerda, consumando, nessas aulas, a apologia de valores marxistas tipificados pela matriz política e ideológica dessa área política?
Serão, portanto (mas não só), as aulas de cidadania momentos de radicalização e catequização woke das nossas crianças e dos nossos estudantes?
Acreditam mesmo que esta efabulação é plausível?
A resposta é simples e, dar-me-ão esse beneplácito, é também insofismável: não!!!! Não só não é plausível, como não corresponde, de todo, à verdade aquilo que a pouco esclarecida horda de Velhos do Restelo ultraconservadores diz serem as aulas de Cidadania. Nem quanto aos conteúdos leccionados, nem quanto aos métodos utilizados, e, muito menos, no que respeita aos objectivos a atingir.
Com honestidade, esse chorrilho (perdoem-me a expressão) de insinuações (mal) disfarçadas de matéria de facto esbarra, desde logo, num argumento que tenho como irrebatível: estas aulas são leccionadas por docentes afetos às mais variadas tendências do espectro político-partidário e ideológico vigente, pelo que não é crível – nem possível, obviamente - que todos estes profissionais estejam “capturados” por partidos e movimentos de inspiração marxista, e que por isso se vejam reduzidos a uma espécie de agentes transmissores de conteúdos ideológicos radicais.
Não são, nunca o foram e dificilmente alguma vez o serão! Primeiro, porque tal orientação ou, sequer, sugestão programática – implícita ou explícita -, nunca existiu para lá do delírio de quem assegura o contrário, e depois porque nunca o teriam que ser, até porque, porque, ainda que a isso fossem “obrigados”, a esmagadora parte de nós rejeitaria liminarmente – e muito bem - tal ingerência.
Nos dias que correm, considerado o processo de demolição universal dos valores de cidadania em curso – e a todo o vapor –, em que até a empatia pelo próximo é vista como debilidade a corrigir, a disciplina de Cidadania assume-se enquanto factor nuclear do nosso sistema de ensino e, no futuro, da própria sociedade. Por muito contra-argumento recorrido, os conteúdos da disciplina de Cidadania que se abordam nas nossas escolas não visam formatar politicamente, procuram formar consciências sociais; não pretendem radicalizar ideologicamente, visam consciencializar para a ética; não almejam atacar os valores da família tradicional e da pátria, procuram defender a inclusão e o respeito pelo próximo e pelo seu direito à diferença, tendo sempre – mas sempre –, como desiderato último, o reforço das fundações de valores e princípios éticos, morais e de cidadania que nos distinguem de todos os demais animais, elevando-nos à condição única de seres-humanos e, por essa razão, de seres tolerantes, integradores, empáticos, conscientes e respeitadores das diferenças que apenas dizem respeito ao foro da individualidade e do livre-arbítrio de cada um de nós.
É surreal que a defesa destes valores e princípios que se desejam universais seja vista como apologia ao comunismo, ao marxismo ou ao movimento woke. Mas da gente(inha) que categorizava até o saudoso Papa Francisco (que aqui homenageio como Homem genuinamente bom que foi em todo o seu percurso), como anticristo, comunista e personificação do mal apenas porque ousou falar em nome e em defesa das minorias, e dos princípios da integração e da tolerância, já se espera tudo. Até o impossível.
Até o inenarrável…
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