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Carta de Baden-Powell aos Pais1

Investir na Juventude: o exemplo de Braga e desafios futuros

Carta de Baden-Powell aos Pais1

Escreve quem sabe

2025-01-24 às 06h00

Carlos Alberto Pereira Carlos Alberto Pereira

Não poucas vezes me têm questionado sobre o papel dos pais no escutismo, a resposta natural: serem pais, parece simples, mas encerra uma grande complexidade. Digo que é a resposta natural porque, bem antes de haver códigos nacionais ou mesmo universais os pais eram os responsáveis pela educação dos seus filhos. Esta verdade natural está hoje consagrada na Declaração Universal dos Direitos do Homem (artº 26º, nº 3), na Constituição da República Portuguesa (artº 36, nº 5 e artº 43, nº1) e no Código de Direito Canónico da Igreja Católica (cân.793 e 1136). Os estatutos do CNE (artº 40º) institui, no Agrupamento, o Conselho de Pais, como um órgão consultivo.
O Fundador, não se sabe ao certo quando, mas supõe-se que por altura da publicação do livro “A Caminho do Triunfo” (1922), escreveu uma carta aos pais dos escuteiros2 daquela época e, porque nela encontramos o pensamento de B.-P. sobre esta temática, aqui se transcreve na integra:
«Queridos companheiros, Pais de família:
Que faço eu com o meu filho?...
Eis uma pergunta que tem preocupado a maioria dos pais. Creio que sentireis como eu a responsabilidade de ser pai de um filho. O rapaz pode ser um bom aluno da escola, mas se olharmos um pouco para trás, para os nossos dias de escola, e para o que tivemos de lutar a fim de abrirmos caminho na vida, compreenderemos que, ainda que na escola aprenda, entre outras coisas, a ler, a escrever e a contar, não aprende definitivamente outras coisas que são necessárias para triunfar na sua carreira.
São estas:
1º. Carácter, isto é, sentido da honra, confiança em si mesmo, alegre altruísmo, etc.
2º. Ser hábil em trabalhos manuais, que lhe interessem e o ocupem utilmente.
3º. Desenvolvimento físico e conhecimentos da higiene, incluindo o evitar os perigos sexuais, etc.
4º. Utilidade para com o próximo, e sentido do dever na comunidade.
São estes os ensinamentos que se deixam ao cuidado do pai, ou, como acontece em muitos casos em que o pai não pode ocupar-se dele, ao próprio rapaz, para que os aprenda por si só, nas horas que lhe deixa livres a ocupação ou a escola. Acontece, porém, com frequência, que o rapaz não faz nada disso e se deita a perder. O tempo livre bem empregado pode dar magníficos resultados.
Emprego das horas da semana: trabalho, 30 horas; sono, 70 horas; comida, 12 horas; descanso, 56 horas. Durante as horas livres pode aprender o que é bom, mas frequentemente aprende o que é mau. Seja ele aplicado ou folgazão, inteligente ou obtuso, o pai tem sempre alguma coisa a conseguir dele.
O pai compreende que não é brincadeira nenhuma; que é coisa muito séria deixar que o rapaz se deite a perder. Mas como impedi-lo?
Há um caminho. Para ajudar o pai, para salvar o rapaz, existe o Escutismo no qual procuramos rodear o rapaz de um ambiente são, cheio de atividades e que, ao mesmo tempo, desenvolva nele os quatro pontos que indicamos para fazer dele um homem, para que triunfe na luta pela vida.
O fim da nossa Associação é fazer cidadãos felizes e eficientes.
Não fazemos militarismo, nem nos fixamos na posição social do rapaz, nem tão pouco temos ideias políticas. Os efeitos desta educação têm sido assombrosos e os chefes de qualquer administração, os comerciantes, os diretores das fábricas, etc., preferem empregar os jovens que receberam educação nas nossas fileiras escutistas.
Os encarregados da educação, assim como o clero, têm compreendido o valor educativo do nosso sistema. Perguntaram-me qual era o fim que me propunha ao criar os "scouts".
Respondi prontamente que foi a grande simpatia, a pena que senti pelos adolescentes lançados na vida, a lutar nesse mar agitado sem saberem manejar o remo para fazerem avançar a sua canoa, levando uma existência miserável sem utilidade para eles mesmos, nem para os demais, quando todos temos corpo, alma e inteligência, para os educar e fazer deles homens felizes e cidadãos úteis para a sua Pátria.
Por isso me atrevo a aconselhá-los que, se simpatizam com a nossa organização, animem os seus filiados a ingressar num grupo e a ganhar as suas classes e emblemas.
Ao rapaz será agradável fazer parte dessa alegre irmandade, e os pais, vós mesmos, tereis a satisfação de ver que ele não desperdiça o tempo que lhe deixa livre o trabalho e o estudo, mas irá armazenando conhecimentos, desenvolvendo o carácter e fazendo de si um homem feliz, um cidadão útil.»
Esta carta é a assunção, clara e transparente, de um compromisso do escutismo com os pais: o movimento propõe-se acolaborar com a família no sentido da (auto)educação dos jovens no âmbito de uma cidadania solidariamente comprometida.

1Crónica publicada pela primeira vez no dia 08-jun-2018 e que agora repito porque esta é a pergunta que mais vezes me é colocada por dirigentes e pais, mas sobretudo pela atenção que todos dedicamos ao relacionamento tripartido: Pais, Crianças ou Jovens e dirigentes do CNE.
2In “Celebrações do CNE”, Corpo Nacional de Escutas, Assistência Nacional, coordenação do Pe. Manuel Fonte, junho 2003, pp192 e 193.

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