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Cão

As férias e o seu benefício

Cão

Escreve quem sabe

2021-02-12 às 06h00

Ricardo Moura Ricardo Moura

Por estes dias esbarrei na notícia que dava conta da morte do cão mais alto do Mundo. Um Dogue Alemão (ou Grand Danois) superior a um metro de altura desde a pata até ao ponto mais alto das costas. Em pé atingia 2,26 metros, suportados em quase 100 quilos. Desde 2016 que estava no livro de recordes do Guiness. Tinha perto de 20 mil seguidores no Instagram. Era a razão de viver de Claire Soneman, dona do animal, residente em Essex, no Reino Unido.
Ao passar os olhos pela contagem do último latir de Freddy, transportei a mente para os cães que tenho tido ao longo da vida. Na grande maioria, foram transmissores de excelência. Deram muito mais do que receberam. Há neles uma lealdade sem fatura. Um dar e um acatar, próprios do sonâmbulo que levita na pradaria à mercê do nada.
Neste entreouvir, está o livro “Cães Maus não Dançam” de Arturo Pérez Reverte, a publicar, em Portugal, em inícios de março. Repórter de guerra durante mais de 20 anos e escritor há 35, este espanhol nascido em Cartagena constata que «o cão tem virtudes que gostaria de ver nos seres humanos». Reverte explica que escreveu o romance «para que o ser humano pudesse ver os cães por dentro (...) com a vontade de que o humano se sentisse cão». O escritor coloca o bicho num patamar ao qual o homem não consegue tocar. As reflexões podem ser variadas, mas entroncam na base: a lealdade e o caráter. Arturo Reverte constata: «numa luta entre cães, por exemplo, quando um se rende, oferece o pescoço ao vencedor e este deixa-o viver. Se o venceu, não o mata. O ser humano é o único que mata aquele que se rendeu». A vénia canina chega ao cume da confissão: «mataria por muito poucas coisas, mas mataria quem fizesse mal a um cão. Sem qualquer remorso, com as minhas próprias mãos. E depois dormiria com absoluta tranquilidade».
Este sono dos justos leva-me ao que tenho ouvido e visto. É raro o cão ser lembrado com desonra. Há nele o faro do respeito por quem lhe dá de comer e guarida. Já vi quem o defendesse como se fosse um filho, como já observei a cobardia do abandono. É o não caráter do homem e, tantas vezes, a ignorância do educar que reportam páginas de jornais manchadas a lágrimas de sangue.
A história relata descobertas de espanto numa relação que remonta há 11 mil anos, no final da última era do gelo. A pretexto do contexto que vivemos, descrevo um dos últimos apontamentos de onde sai a garantia que cães farejadores detetam Covid-19 com 94% de precisão, mesmo em pessoas assintomáticas. Neste rasto, a Universidade de Medicina Vete- rinária de Hanover, em parceria com as Forças Armadas alemãs, está a treinar vários cães para que consigam detetar o novo coronavírus em saliva humana, através do odor presente nas células de quem está infetado. Anúncio feliz que pode ser complementado, simbolicamente, no facto de os cães estarem de volta à Casa Branca – Donald Trump foi o primeiro presidente desde 1897 a não ter qualquer animal de estimação – com a particularidade de um deles, pela primeira vez, ter sido adotado num canil.
Gosto de cães. Gosto da palavra cão. Aplico-a em ternura. Guardo-a e uso-a para quem a merece. Não sou complacente com ela. Desde que me conheço, já passaram pela minha estrada autênticos faróis de memórias. Invoco alguns: Lorde, Ringo, Campeão e o atual Schumacher, um pastor alemão que faz questão de desvalorizar o meu défice de atenção.
Ter um cão é ter um companheiro. É sentir que os passos ganham sentido à medida que o pó da terra é revolto pelo calor ou achatado pela humidade. Os laços são para a vida, os mesmos quando temos alguém, em duas patas, a quem chamamos cão.

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