Correio do Minho

Braga, quarta-feira

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Cabalas e cavalas

António Braga: uma escolha amarrada ao passado

Ideias

2018-05-04 às 06h00

Borges de Pinho Borges de Pinho

Não é, diga-se, uma mera e habitual deficiência de pronúncia, muito usual em certas terras do nosso país, nem um simples atropelo de valias e relevâncias na dicção/projecção de labiais e não labiais, com o seu natural confusionismo. Mais do que erro ou deficiência de pronúncia de uma palavra, importa dizer que falamos de vocábulos diferentes e de diverso significado, ainda que o último, porque peixe, poderia ter substituído os robalos, outro peixe, na compreensão e extensão do primeiro.
Abordando-se profundas problemáticas, a verdade é que se vive num país de costa marítima rica em peixe, como cavalas, robalos e outros, e num tempo em que muitos teimam em falar em cabalas relativamente a certos assuntos, factos, figurões e intervenientes em suas realidades. Mas é sem amanhar ou escalar as cavalas ou as cabalas que abordamos o problema, e começamos pelas cavalas. Um peixe teleósteo da família dos escômbridas, comestível e afim das sardas, diga-se, que estufado ou cozido, depois de escalado e salgado, é apreciado por muitos, ainda que nada tenha a ver nem se aproxime dos robalos, peixe também teleósteo mas da família dos serrânidas, propagandeado nos bons restaurantes e apreciado pela sua saborosa carne, mais caro e com entrada franca e usual na mesa de casas ricas, onde as cavalas ficam à porta. No sabor, valor e em aristocracia. Aliás, como resulta do Furacão, um processo frequentado por um amigo de Sócrates condenado por os ter comido, não seria estulto pensar que se a caixa fosse de cavalas, mesmo vivinhas da costa, o sucateiro e o Vara não teriam tido o indigesto de uma condenação. Até porque para muitos tudo não passou de uma cabala mal amanhada onde as cavalas poderiam ter tido um pífio papel.
Mas entrando pelo mundo das cabalas, há a dizer que o vocábulo é muito usado na política, sobretudo pela esquerda, quando certos actos envolvem discussão, delações e processos a seus membros. Com origem no hebraico e não afim de peixes, cabala em sentido figurado envolve e significa maquinação, intriga, conluio para tramar outrem, adulterando-se a realidade e verdade dos factos.
O que não aconteceu com o Vara, onde houve mesmo robalos como se provou em tribunal, e a problemática da cabala, apesar do muito vozear, não enforma nem tem subsistência" nos casos de Sócrates e seus amigos, Santos Silva e quejandos, banqueiros ou não, e até Lula. Onde os robalos, diga-se, habilidosamente deram lugar a outro peixe, a umas especiais cavalas bem recheadas em transferências, compras de casas e quadros, envelopes em mão, férias, negócios, jogos de influência, poder e dinheiro,vivo ou alapado, muitos milhões, que, exaustivamente analisados, acabaram de vez com a teoria das caba-las.
Uma teoria tão só pensada e defendida por companheiros, comparsas e apaniguados dos que, com toda a lata, aparentando espanto, indignação e desconhecimento, se dizem suas vítimas e, nada explicando, tentam camuflar corrupções, riquezas, desonestidades e crimes afirmando ser tudo resultado de maquinações, tramóias e conluios dos adversários, a direita, pois a esquerda, de túnica talar e nívea, projecta-se sempre como pura e de virginal candura.
Aliás já se diz que o político de esquerda não é corrupto, não comete crimes, e quando é condenado por um crime tal resulta de uma perseguição política preconizada por um grupelho da direita que manieta os tribunais, os quais deviam ser independentes e imparciais(...) E se o cometeu não interessa porque é de esquerda, pelo que goza de imunidade ideológica (P.Miguel Carvalho, C.M., 13.4.18).
E enquanto histórias da carochinha e explicações estapafúrdias são desfeitas pela realidade de factos, Sócrates, dizendo-se vítima de uma cabala, afirma-se perseguido pelo MP e pela Justiça, tal como Lula, o amigo brasileiro condenado e já preso que teimam em pôr a presidente. O que também se enquadra nas aspirações e vaidade de Sócrates, aliás um homem provinciano e pobre, de chegar a PR, embrulhado numa volúpia de palavras, ideias, simpatia, boa figura e demagogia popular de modo a obter uma histeria nos apaniguados e no povo. Aliás Sócrates, homem de esquerda, quer fazer valer uma imunidade ideológica num paralelismo com Lula, ainda que em países e justiças diferentes. E se no Brasil Sócrates já estaria preso, aqui, com os recursos e a entrevada justiça que advogados e políticos criaram, não será de excluir uma reviravolta no caso sob a égide da esquerda, do PS à geringonça, de Costa à Francisca, tudo num acordo de regime, prescrição, amnistia ou algo bem trabalhado. Apoiantes e amigos não faltam, como Figueiredos, Camões, Capoulas, Arons e outros figurões que têm entrado nos poder, administração, media, etc., e o povo, sempre papalvo, ígnaro e vítima da histeria demagógica da esquerda, votaria nele. Esquecendo factos e realidades pois tudo não passaria de mais uma cabala, apesar das cavalas com que se encheu e ainda não explicadas pelo amigo Silva e outros, para gáudio duma esquerda já habituada a engolir sapos. Mas só a esquerda, como a farinha Amparo, é boa, salutar e faz bons petiscos, como aliás já se viu com a geringonça do Costa.
Um guru esperto, mas também gabiru, que, não escondendo suas raízes, esteve em Londres com homens de negócio indianos aliciando-os a virem comer a Portugal após o Brexit.

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