A responsabilidade de todos
Voz às Bibliotecas
2018-10-25 às 06h00
Pela sua natureza de acesso livre, sem qualquer tipo de condicionalismo de entrada e de livre acesso a toda a espécie de documentação, as bibliotecas são, por natureza, espaços democráticos que convidam ao bem-estar, à harmonia, à descontracção e ao convívio, onde apetece ir e permanecer.
Não é Umberto Ecco que afirma: «se a biblioteca é, como pretende Borges, um modelo do Universo, tentemos transformá-la num universo à medida do homem e, volto a recordar, à medida do homem quer também dizer alegre, com a possibilidade de se tomar um café, com a possibilidade de dois estudantes numa tarde se sentarem num maple e, não digo de se entregarem a um amplexo indecente, mas de consumarem parte do seu flirt na biblioteca, enquanto retiram ou voltam a pôr nas estantes alguns livros de interesse científico, isto é, uma biblioteca onde apeteça ir, e que se vá transformando gradualmente numa grande máquina de tempos livres.»
Ao permitirem o acesso ao conhecimento e ao saber, ao valorizarem a leitura em diferentes suportes, as bibliotecas permitem a democratização da cultura, a valorização do espírito crítico e criativo, a permissão da inclusão, enfim, a afirmação da cidadania.
Com a aprovação do novo decreto sobre Educação Inclusiva, o Decreto-Lei nº 54/2018, veio reforçar-se a necessidade de se removerem as barreiras da aprendizagem existente nas escolas, abrindo-as à riqueza da diversidade e à tomada de consciência das suas funções sociais e políticas, tornando-as num espaço capaz de promover uma educação igualitária e de qualidade para todos.
Por outro lado, “os alunos precisam que a escola mude”, permitindo uma nova organização curricular, apostando em projectos interdisciplinares. A educação deve assentar numa base humanista centrada na pessoa e na dignidade humana como valores fundamentais, visando valorizar o saber. Daí a necessidade de se flexibilizar a prática pedagógica.
Ora, as bibliotecas municipais e escolares podem ter um papel importante e coadjuvante nesta missão de educar para a inclusão, na medida em que dão a todos as mesmas oportunidades de acesso, independentemente das características de cada um. Permitem libertar o leitor que há em cada um de nós. Por outro lado, como são espaços descontraídos, bem equipados, que permitem a leitura, mas também o debate de ideias, podem contribuir para a criação de novos modelos de aprendizagem, tendo por princípios básicos o saber, a flexibilidade, a ousadia, a sustentabilidade e a estabilidade.
Ora, foi precisamente a autonomia e a flexibilidade curricular e a inclusão, temas que estiveram em debate na passada sexta-feira e sábado na Biblioteca Municipal de Barcelos no âmbito do 8º Encontro de Bibliotecas de Barcelos, com a presença, entre outros, de Ariana Cosme, doutorada em Ciências da Educação pela Universidade do Porto e professora na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da referida Universidade e Isabel Mendinhos, licenciada em Filologia Germânica pela Universidade de Lisboa e membro da equipa do Gabinete da Rede de Bibliotecas Escolares.
É que as Bibliotecas, para além da promoção do livro e da leitura, não podem ignorar o seu papel de centro cultural da comunidade, onde se reúnem pessoas com interesses semelhantes. Por outro lado, a ligação com a comunidade, com as escolas, com as associações culturais e profissionais e a atenção aos interesses e às novas necessidades dos utilizadores, são vectores fundamentais da sua função social, educativa e cultural.
Por isso, as Bibliotecas do século XXI podem ser portos de abrigo da inclusão e da autonomia e flexibilidade curricular.
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