“Portanto, saibamos caminhar e …caminhemos!”
Ensino
2023-03-09 às 06h00
Painços, milho-painço, milhetes, milho miúdo e pão de passarinho referem-se a um conjunto de espécies cerealíferas cultivadas um pouco por todo o mundo, mas com pouca expressão e importância entre nós, mundo ocidental (mais de 80% da sua produção encontra-se em África e na Índia). Mas o que terá passado na cabeça da ONU (Organização das Nações Unidas) para decretar “2023 – Ano Internacional do Painços” (International Year of Millets – IYM 2023) e acarinhar, incentivar e patrocinar centenas de iniciativas e eventos em todo o mundo, dedicados a este conjunto de modestas plantas? Sim, modestas quer no porte, quer no aspecto nada exuberante da sua espiga, quer ainda nas suas aplicações (mais uma vez, no mundo ocidental). Basta googlar “milho painço” para rapidamente ir parar a lojas de animais e poder ler “O painço fornece às aves os nutrientes necessários para sua saúde, bem-estar e desenvolvimento. Estas sementes de cereais são excelentes para canários, pássaros exóticos, periquitos, etc... “.
Os painços de que fazem parte o milho painço, o sorgo, o amaranto e a quinoa (entre outros) estão entre as primeiras plantas a serem domesticadas e a servir como base de alimentação para milhões de pessoas na África Subsaariana e na Ásia. Adicionalmente são cereais resilientes que crescem em solos pobres e com escassez de água, resistem e/ou toleram muitas doenças e pragas de culturas e podem sobreviver em condições climáticas adversas. Para dourar ainda mais a sua importância são frequentemente chamados “nutri-cereais” devido ao seu elevado conteúdo nutricional (ricos em proteína, fibra, antioxidantes, minerais incluindo o ferro) quando em comparação com os cereais mais comuns como o trigo, o arroz ou milho. Para além de que são isentos de glúten e por isso adequados para celíacos. Quando em Junho do ano passado tomei conhecimento de 2023 IYM fiquei curiosíssima e com vontade de conhecer melhor estes cereais com “super-poderes”. Adquiri umas sementes de milho-painço, semeei sem grande esperança na Horta-STOL* (até porque estávamos em Julho de um ano particularmente quente e seco) e esperei. Esperei, mas surpresa, não desesperei! Quase sem água, num solo muito fraco, consegui em 2 meses colher as lindas sementes pequeninas redondas e douradas que até cruas são agradáveis de trincar. A imagem que acompanha este texto é um mosaico de vários registos que fui fazendo nesses 2 meses.
Em traços gerais IYM 2023 tem como propósito alertar os decisores políticos para: (i) a importância nutricional dos painços, (ii) a adequação destes cereais para cultivo sob condições climáticas adversas e em mudança e ainda (iii) a promoção da produção sustentável de painços criando oportunidades para produtores e consumidores. Concretizando em termos de sintonia com os Objectivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 saltam à vista vários de que destaco o ODS2 (erradicar a fome), o ODS12 (produção e consumo sustentáveis), o ODS13 (acção climática) e o ODS15 (proteger a vida na Terra). Com um pouco de jeito quase que conseguimos ver os painços como as forças do bem contra alguns dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse com que temos vindo a conviver recentemente. Os painços e não só... 2022 foi o Ano Internacional da Pesca e Aquicultura Artesanal e 2024 será o Ano Internacional dos Camelídeos. Espanta- dos? Não estejam! Não é levianamente que a ONU insiste em comemorar anos internacionais que alertam para as alterações climáticas e escassez de recursos naturais. É urgente a gestão e utilização responsáveis do que a Terra nos dá, sob pena de não se garantir a a sustentabilidade do planeta e da vida das gerações futuras.
É hora de dar luz de ribalta aos painços e de mostrar ao mundo o seu potencial. Eu estou a fazer a minha parte. E vocês, ficaram pelo menos com um pouco de curiosidade para saber um pouco mais?
*A Horta-STOL é um pequeno talhão com cerca de 30m2, no campus de Gualtar (Universidade do Minho) que cultivo há cerca de um ano, em conjunto com alguns alunos, com fins pedagógicos e como fonte de recursos físicos para aulas experimentais e actividades de comunicação de Ciência.?
*Bióloga e docente do Departamento Biologia da Universidade do Minho (A autora não escreve segundo o Acordo Ortográfico 1990)
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