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Barroso

As férias e o seu benefício

Barroso

Escreve quem sabe

2023-04-28 às 06h00

Ricardo Moura Ricardo Moura

«O Barroso é um paraíso, o único ou um dos poucos que ainda existem à face da terra»
Bento da Cruz

Há um pedaço de Portugal que teve há cinco anos reconhecimento mundial. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) certificou a região do Barroso como património agrícola mundial. Um selo nobre que revela um chão inigualável.
Esta distinção, até agora única no país, obteve aprovação à custa de uma sincronização de interesses que reuniu entidades como a Associação de Desenvolvimento da Região do Alto Tâmega (ADRAT), as autarquias de Boticas e Montalegre, as Universidades do Minho (UM) e de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), organizações e associações de produtores agrícolas, profissionais do sector e cidadãos da região. Um casamento abençoado em Roma que elevou o Barroso como primeiro território português a integrar o SIPAM (Sistemas Importantes do Património Agrícola Mundial) ou, em designação inglesa, o GIAHS (Globally Important Agricultural Heritage Systems) e um dos primeiros a ter luz verde na Europa.
Uma terra com carimbo GIAHS significa ter sistemas agrícolas vivos que abraçam as comunidades humanas numa relação intrincada com o território, com a paisagem cultural e agrícola, bem como com o ambiente biofísico e social. Escrito de outro modo, estamos perante um galardão que notabiliza a genuinidade do território com base na forma tradicional de trabalhar as terras, tratar do gado e na entreajuda dos habitantes.
Para aqueles que nunca visitaram esta região deixo um curto enquadramento geográfico. Plantada bem no cimo de Portugal, é limitada a Este pelo rio Tâmega, a Oeste pelas regiões montanhosas do Alto Minho, a Sul pelas terras de Basto e a Norte pela Galiza (Espanha). Constituída por dois concelhos – Boticas e Montalegre – está repartida pelo Alto Barroso, onde se incluem as serras do Gerês, Larouco e Barroso, e pelo Baixo Barroso, marcado pelos vales dos rios Tâmega, Terva, Beça e Covas. Quem sair de Braga, sugerimos que faça a bela Estrada Nacional (EN) 103. Caso deixe o Grande Porto, aconselhamos seguir em direção a Chaves pelas autoestradas A7 e A24. A partir da cidade flaviense, a ligação ao território pode ser efetuada pela EN 103. Em alternativa, a chegada a Montalegre deve ser trilhada pelas estradas municipais (EM) 507 e 508. Vindo de Espanha, o acesso mais fácil é entrar em Portugal pela A52 (fronteira de Vila Verde da Raia/Chaves), sair para Chaves e prosseguir pelas EM 507 ou 508.
Assim sendo, importa ressalvar que impacto teve esta láurea conferida pela UNESCO. Não obstante o fantasma do lítio minar o inconsciente, Barroso já fomentou alguns investimentos ao mesmo tempo que recebeu do Estado verbas que atestam a mais valia deste mosaico paisagístico. Os subsídios agrícolas lograram majoração. Uma bonificação – a exemplificar, Montalegre recebeu o ano passado mais de 15 milhões de euros de apoios ao mundo rural – para alavancar a economia e atrair mais gente. Ainda na capital do Barroso, o município entrega anualmente aos agricultores meio milhão de euros. Dinheiro que tem recolhido fruto. O concelho passou a ser o segundo do país com mais raças autóctones espalhadas em mais de duas mil explorações agrícolas. Uma aposta que valora a identidade e a maneira de ser, fazer e estar do agricultor barrosão.
A reboque desta honra, está em fase de conclusão, no antigo centro de formação agrícola da Aldeia Nova (Montalegre), o denominado Centro SIPAM do Barroso, viveiro académico que irá oferecer um centro de estudo, divulgação, investigação e degustação dos Sistemas Importantes do Património Agrícola Mundial do Barroso. O investimento alberga sete edifícios dispersos por nove hectares. Há ainda o consórcio para o desenvolvimento do Centro para a Valorização do Barroso - Património Agrícola Mundial (ValorBarroso). Através deste, foram criadas 12 bolsas de doutoramento e três de pós- doutoramento.
Com um país desequilibrado demograficamente, esta região agrícola – dominada pela produção pecuária (bovinos) e pelas culturas agrícolas típicas de regiões de montanha (batata e centeio) – representa um porto seguro para quem privilegia bem-estar e qualidade de vida. Há muita área ambiental virgem observada, por exemplo, em carvalhais e galerias ripícolas. Produção de fumeiro, pecuária, apicultura, micologia e turismo de natureza são filões que pedem gente. Haja vontade para que este mundo não acabe.

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