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Voz às Escolas

2021-11-18 às 06h00

Luisa Rodrigues Luisa Rodrigues

“Só se veja quem só se deseja” é um provérbio popular que talvez nunca tenha feito tanto sentido como na atual conjuntura, analisadas as condições de isolamento a que estão votados um número significativo dos nossos designados “idosos”.
Designados porque, efetivamente, a palavra tem uma carga conotativa demasiado negativa, se tivermos em conta que a espécie humana passou a viver muitos mais anos e que o conceito de ser velho traz consigo a ideia de dependência e, infelizmente, até de demência, provocando, em muitos casos, a marginalização pela sociedade preconceituosa em que vivemos, que ignora as potencialidades de todo o conhecimento adquirido, conhecimento esse a que devemos o desen- volvimento social e humano das gerações atuais.
A Escola investe no desenvolvimento dos conhecimentos, das capacidades e das atitudes do seu público alvo, os alunos, e, através de um leque diversificado de programas e projetos, persegue a complementaridade do currículo, objetivando uma formação o mais completa possível, sendo que, para o efeito, recorre ao estabelecimento de parcerias com diversas entidades, mas será que a valorização do conhecimento adquirido ao longo da vida tem estado na ordem do dia da Escola?
Existem, efetivamente, projetos em desenvolvimento em inúmeras escolas, que privilegiam a sensibilização dos alunos para as potencialidades do estreitamento das relações de afeto e de respeito pelas pessoas “idosas”, bem como para o reconhecimento do manancial de ensinamentos resultantes das vivências riquíssimas que alicerçam a nossa história, mas existirá uma verdadeira ação concertada e continuada de valorização deste recurso inestimável?
O Agrupamento que represento tem desenvolvido, ao longo dos anos, ações pontuais de ligação entre gerações, objetivando a sensibilização das crianças e dos alunos para a necessidade de cultivarem relações de maior proximidade com os avós, e de desenvolverem a capacidade de ouvir e de partilhar experiências e ensinamentos, o que muito contribuirá para o seu desenvolvimento e enriquecimento e, paralelamente, para a saúde emocional e mental das gerações mais velhas.
Reconhecendo, no entanto, que, pese embora a mais valia das referidas ações, o sucesso da sua intervenção só será alcançado através da definição de um plano de ação, a médio e a longo prazo, a Comunidade Escolar tem em curso a elaboração de um projeto, o projeto “Avós Digitais”, que terá início em janeiro e que prevê o estabelecimento de parcerias com algumas instituições locais.
O projeto “Avós Digitais” pretende provocar mudanças que resultem na melhoria das relações intergeracionais e, por inerência, contribuir para a irradicação das situações de isolamento a que estão sujeitos muitos “idosos”, sobretudo em resultado da implementação das medidas decorrentes da situação pandémica que o país enfrenta.
E, assim, com a intencionalidade subjacente ao desenvolvimento das competências inscritas no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória, os domínios da Estratégia de Educação Para a Cidadania na Escola e o Plano de Ação Para o Desenvolvimento Digital das Escolas, utilizaremos as ferramentas de que dispomos para eliminar barreiras e chegar até àqueles que, pelas contingências dos últimos tempos, viram aumentado o isolamento e a solidão que reforçam o sentimento de descartabilidade que se foi instalando em muitos deles.
Porque “Só se veja quem só se deseja”.

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