Analogias outonais
Ideias
2012-11-02 às 06h00
Ao contrário do que possam pensar não nos iremos debruçar sobre as malfadadas e muito badaladas parcerias público-privadas e negócios ruinosos que muitas representam para o Estado, ainda que não possamos ignorar as “descobertas” do Tribunal de Contas, que aliás foi quem “oficialmente” suscitou o problema.
E já há bastantes meses, diga-se, só não se percebendo o porquê do silêncio e estagnação a que tal assunto foi votado e de apenas agora se ouvir falar em inquérito, apuramento de responsabilidades e diligências em curso, como as buscas dirigidas a antigos governantes, mormente em relação às auto-estradas e a certas parcerias em que entram a Ascendi, a Motta-Engil, etc.
Ainda que entendendo que ninguém está acima das leis e se presuma inocente até haver condenação, compreendemos as palavras da ministra da Justiça, quiçá temporal e “politicamente” inoportunas, mas já não entendemos o alarido que causaram nem as “dores” logo manifestadas por políticos da cor dos “buscados” e de outros de “indefinida” ou menos nítida coloração, eventualmente também de consciência pesada e receosos de inquéritos e indagações a actos públicos de sua autoria. E quanto às palavras do habitual adversário da Ministra, sempre verborreico e com ares de trauliteiro de serviço, foram as esperadas e não surprendem, como aliás já não espantam as suas usuais atitudes e tomadas de posição em relação à justiça e ao governo.
Quem não deve não teme, diz o povo, e por acaso os Linos, Campos, Valentes e demais políticos não apresentam sempre cara e figura de pessoas sérias e impolutas?
Pelo menos em público falam e agem como tal. Com uma segurança, seriedade e sensatez tais que profundamente espantam e até comovem, muito embora na realidade não consigam convencer ninguém.
E quanto à demora na instauração e no avançar do inquérito regista-se apenas a coincidência de tal ocorrer quando estava de saída o PGR, um homem que sempre se queixou (!?) de falta de poder e que até na hora da partida, falando sempre demais, mostrou as suas usuais inabilidade e inépcia. Não se pretendendo alimentar suspeições ou evocar dependências políticas ou outras, queremos acreditar que se tenha tratado apenas de uma mera coincidência.
Aliás ultimamente fala-se demais!... Políticos, sindicalistas, patronato, magistrados, etc., todos apostados num “bota-abaixo” de qualquer jeito e de loucura, mas a verdade é que até agora ninguém apresentou uma solução que salve o país ou indicou uma fórmula mágica que cubra o déficit do Estado e encha os cofres públicos de dinheiro para os vencimentos, reformas e demais despesas da administração. Ele são os usuais comentadores de serviço, o Prof. Pardal, uns baixinhos conhecidos, alguns economistas e outros tido como tais, muitos políticos e pseudo independentes como os Capuchos, Pachecos Pereiras, Borges, Menezes, Cadilhes, Seguros, Louçãs, Jerónimos, Mendes, Rios, Ferreiras Leites, Belezas, Sousas Tavares, etc., etc, sendo que até o Soares e o Otelo já falam em rebelião popular e revolução, mas, ao que consta, nenhum desses figurões faz parte do número dos que passam fome, sentem dificuldades diárias e problemas de sobrevivência, não têm dinheiro nem trabalho e levam vidas de pobreza e miséria.
E o mais curioso é que não é inocentemente que se ressuscite o Grândola Vila Morena e que o Arménio surja cada vez mais a vociferar com esgares de ódio.
O país está na bancarrota e em casa onde não há pão (nem dinheiro, nem emprego, nem economia, nem sensatez, nem estabilidade política, etc.) todos ralham e ninguém tem razão. Mas não há ninguém que seja capaz de ver, evocar e reconhecer toda a usual “corja” de políticos, economistas, governantes, sindicalistas e “iluminados” que desde há anos vêm dando cabo deste país, mas ... saindo sempre “governados”?!...
Uma “corja”de figurões que nos foi entretendo com perversas PPP (pulhices políticas e partidárias) e que agora apressadamente parecem querer esquecer e fugir a responsabilidades, sacudindo a água do capote. Pulhices público-partidárias e de baixa política, quase sempre a desdobrarem-se num mano a mano de reciprocidades, entendimentos, jogos de interesses e trocas de favores, mas de todo muito perversas para o Estado e o povo que de há muito vem sofrendo. Muitas das vezes, diga-se, sob a égide e beneplácito de instituições, entidades e altas autoridades cujas constituição e elementos são por norma fruto de convénios e acordos de ocasião e conveniência entre partidos, mas que não escapam às observação, crítica, análise e sensibilidade de quem não esteja comprometido com o sistema e a política. E ainda são muitos, felizmente!...
Aliás, se atentarmos no que se vem passando nos órgãos do poder, governação, preenchimento de certos cargos e colocação após o “serviço”, forçosamente temos de convir que de um regime republicano se passou para um sistema de partidocracia monárquico-familiar de teor sucessório que tem vindo a vingar em tudo quanto seja direcção, chefia e poder. Onde filhos, outros parentes e afins se sucedem, assessoram e se revezam, aqui e ali em anunciadas alternâncias graças a consabidos convénios e num manifesto chico-espertismo em que pontifica todo um seguidismo de ideias e princípios, aliás fruto de perversos esquemas político-partidários e consequência natural de uma revolução de “cantatas” e folclore e de uma Constituição “talhada à medida”.
Uma partidocracia monárquico-familiar e sucessória de todo manifesta como aliás o revelam os nomes de muitos dos figurões que vêm participando nos parlamento, órgãos da administração, governos, autarquias, etc., assim dando lugar a um nefasto alastrar destas PPP, que tresandam a trafulhice, pantominice, mentira e aldrabice.
Clama-se muito pelas liberdades de Abril e ameaça-se com a Constituição mas é imperioso lembrar que os que hoje mais gritam e clamam ainda há pouco estavam no poder (ou seus familiares, parentes, afins, camaradas, etc.), tendo assim incontornáveis e sérias responsabilidades por muita da asneira havida e pela situação a que se chegou, e ainda por tudo o que de muito doloroso e cruel vem acontecendo ao país.
12 Outubro 2024
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