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As maiores crises económicas portuguesas

Sustentabilidade I

Ideias

2011-05-09 às 06h00

Joaquim da Silva Gomes Joaquim da Silva Gomes

A crise económica que afecta o nosso país tem originado muitos comentários, oriundos quer de quadrantes políticos e económicos nacionais, quer internacionais. Muitos desses comentários, de tão radicais, temem mesmo pelo futuro do nosso país como Estado-Nação.

Ao longo de toda a nossa história, foram muitos os problemas económicos que vivemos e, todos eles, foram ultrapassados com mais ou menos dificuldades.

Neste contexto, e que não restem dúvidas, é importante recordar algumas das mais graves crises económicas superadas.

Em 1480 o rei Afonso V, para equilibrar as finanças portuguesas, teve que contrair elevados empréstimos junto dos judeus, que eram quem mais poder económico tinha na época.
Em 1622, quando ainda Portugal estava sob o domínio de Espanha, a fome era tanta que as pessoas andavam pela ruas a gritar por um pouco de pão, que praticamente não existia.

Em 1834, para tentar resolver o deficit português, Silva Carvalho, o Secretário de Estado dos Negócios do Reino, colocou à venda vários bens nacionais. O pagamento teria de ser feito da seguinte forma: 1/5 na entrada e o restante montante em 16 prestações, a pagar em apenas dois anos.

Em 1846 o célebre Padre Casimiro dirigiu uma carta à rainha, na qual dizia que as populações do Minho e Trás-os-Montes não aguentam mais impostos. E recomenda que não se construam mais estradas novas (que se concertem as já existentes), reduzam o número de deputados destas províncias e que seja o povo destas regiões a pagar-lhes a comida e o transporte.
Em 1870 Portugal continuava a contrair empréstimos em França e Inglaterra para pagar as dívidas externas, em condições assustadoras: juros a mais de 13 % ao ano!

Em 1871 Portugal viveu outro grande momento de aflição financeira: o deficit passou de 5 para 14 mil contos, provocado pelas obras públicas e pelos empréstimos financeiros que Portugal tinha concedido em França e Inglaterra.

Outro momento de pânico económico ocorreu em Agosto de 1876: as notícias da desvalorização da moeda espanhola provocaram a corrida ao levantamento dos créditos dos portugueses, que atingiram 35 % de levantamentos. Vários bancos foram à falência e as famílias ficaram assustadas.

Uma grave crise que assolou o nosso país ocorreu em 1891. Para a tentar resolver, o governo resolveu tomar a exclusividade da produção do tabaco exigindo ainda que os fabricantes emprestassem ao Estado 36 mil contos, para consolidar a divida flutuante e outras despesas do Estado. O ministro das Finanças de Portugal ainda tentou vários empréstimos na Europa, mas as casas de crédito não concediam ao nosso país os que este desejava.

Em 1920 o deficit português atingiu os 300 mil contos. Para resolver o problema, Francisco Cunha Leal, o ministro das Finanças, propôs as seguintes medidas: aumento da contribuição predial rústica e urbana; imposto sobre o exercício de funções públicas e impostos sobre os lucros do comércio e da indústria. Como consequência, os ataques a padarias e lojas de alimentação foram constantes, como constantes foram os ataques com tiros e bombas a comboios.

Em 1921 a crise económica teve um episódio curioso: o Governo negociou um empréstimo de 50 milhões de dólares com uma instituição de crédito americana mas, como essa instituição (“Jefferson Williams”) não existia, Tomé de Barros Queirós, o presidente do Ministério, demitiu-se.

Em 1924 Portugal continuava a atravessar uma grave crise económica. Para tentar reduzir o deficit, Álvaro de Castro, o ministro das Finanças, resolveu tomar medidas drásticas: despediu funcionários públicos, acabou com várias administrações públicas (entre os quais os célebres administradores do concelhos, o Supremo Tribunal Administrativo, a Direcção-Geral do Comércio Agrícola, etc.). Para conseguir um empréstimo junto da Inglaterra, o Governo foi obrigado a dar como garantia 4 milhões de moedas de prata retiradas de circulação. Apesar destas medidas serem consideradas as mais adequadas, o ministro teve de se demitir, devido à pressão pública.

A Primeira República (1910-1926) provocou uma grave crise financeira. Para resolver o problema, o Governo português resolveu pedir, em Março de 1928, um empréstimo à Sociedade das Nações, no valor 700 mil contos. Uma vez que a SDN exigia controlar a administração do empréstimo e até a sua gestão, Portugal acabou por desistir deste pedido.

O ano de 1985 ficou marcado por uma grande austeridade, uma vez que o Governo, liderado por Mário Soares, teve que recorrer à ajuda do FMI, provocando um aumento de preços e impostos para assegurar os compromissos estabelecidos com este organismo. Mesmo assim, o país não foi à falência.

Mas não se pense que Portugal foi sempre marcado por graves crises económicas. No próximo texto daremos conta dos grandes sucessos financeiros e económicos que marcaram o nosso país. Alguns deles causaram admiração em todo o mundo. Por isso, as crises que abalaram o nosso país apareceram e desapareceram, mas Portugal continuou. Sempre.

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