Ao longo do tempo as bibliotecas públicas ao constituírem e desenvolverem as suas colecções acumulam documentos dos mais variados assuntos de modo a satisfazerem os interesses do público em geral. No entanto, ao carácter generalista dos seus fundos juntam-se outros de índole local em resultado da preocupação de reunir conhecimento relacionado com a história, a vida e a memória da localidade onde a biblioteca está implantada. Surge assim, no âmbito da biblioteca pública, uma informação especializada considerada também uma secção própria ou específica voltada para a satisfação dos estudos locais. Por isso, estes documentos devem ser considerados especializados, porque são específicos de determinado local ou região assumindo um estatuto memorativo por serem testemunhos privilegiados do passado. A sua organização dentro da biblioteca pública deu origem à constituição do designado fundo local, considerado uma área distinta, e por vezes reservada quando a sua colecção é composta por documentos raros e valiosos. Apesar do interesse da sua localização na área de leitura geral, a dificuldade em repor muitos dos seus documentos, implica que sejam tomadas medidas de protecção e conservação deste fundo pelo que é mais adequado localizá-lo numa área que permita um acesso reservado e mais protegido.
O fundo local é geralmente constituído por uma quantidade significativa e variada de informação sobre as particularidades de uma localidade, independentemente do seu suporte (papel ou outros), e reúne diferentes espécies documentais produzidas pela comunidade ou relacionadas com ela, destacando-se os mais variados assuntos que vão desde as origens, a história, a economia, os costumes e tradições, o património às figuras de relevo e de destaque no meio social. Da colecção faz parte uma enorme diversidade de documentos como monografias, ensaios, biografias, obras de autores locais, jornais locais e regionais, boletins paroquiais e de associações, cartazes, prospectos, programas de diferentes acontecimentos e eventos, fotografias, postais, documentos cartográficos, multimédia, etc., constituindo no seu todo uma colecção exclusiva e irrepetível noutras bibliotecas.
A utilidade desta colecção específica e particular de cada biblioteca acaba por se revelar de grande mérito ao servir um público interessado no conhecimento de um espaço geográfico que lhe é próximo e com o qual se identifica, facilitando a criação de um sentimento de pertença, por si, de enorme significado social e cultural. Profes- sores, alunos, investigadores, estudiosos, conferencistas, jornalistas, autarcas e demais cidadãos são atraídos pela simples curiosidade, estudo ou razões de carácter profissional ou prático, constituindo um público que beneficia e valoriza esta informação, reconhecendo este serviço como um factor de excelência das nossas bibliotecas públicas.
Ao desenvolverem este serviço de informação à comunidade através da disponibilização do fundo local, as bibliotecas públicas acabam por cumprir algumas das missões-chave preconizadas no Manifesto da UNESCO sobre bibliotecas públicas (Paris, 1994), na sua área de influência porque estão a «promover o conhecimento sobre a herança cultural…; apoiar a tradição oral; assegurar o acesso dos cidadãos a todos os tipos de informação da comunidade local; proporcionar serviços de informação adequados às empresas locais, associações e grupos de interesse». Neste sentido, surge de forma evidente uma vontade da biblioteca pública em promover de forma clara a identidade e a memória como factores de excelência para a promoção do conhecimento local e a fruição da herança cultural colectiva.