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Braga, terça-feira

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As aventuras do Abílio

A responsabilidade de todos

Conta o Leitor

2021-08-26 às 06h00

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Texto José Händel de Oliveira

Um certo domingo, fui com um grupo de amigos, entre os quais se contava o Abílio barbeiro, assistir a um jogo de futebol para o campeonato da FNAT - Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho, que passou a designar-se INATEL - Instituto Nacional para o Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores, em 3 de Abril de 1975, que se realizava na freguesia famalicense de Ruivães. Enquanto esperávamos pelo início do jogo, sentámo-nos numas pedras colocadas debaixo de uma das frondosas árvores que ladeavam o campo onde se ia disputar a partida.
Para começar a conversa, o Abílio perguntou-nos se conhecíamos o casal Joaquim e Celeste que moravam no lugar de Segade, na freguesia da Carreira. Nem todos conheciam o Joaquim, mas todos se lembravam bem da Celeste ou não fosse ela uma bela esbelta mulher, embora um pouco forte. Alguns sabiam até que o casal, já unidos há vários anos, estavam desgostosos por não ter filhos. O Joaquim, continuou o Abílio, sabendo que ele antes de ser barbeiro, trabalhara na construção civil, como trolha e que ainda fazia uns biscates, pediu-me que fosse à casa térrea em que vivia, tapar uns buracos existentes numa das paredes da sala e combinamos quanto tinha de pagar pelo material necessário e pelo trabalho.

No dia seguinte, depois do almoço, apresentei-me na moradia daquele casal, com os apetrechos para fazer a obra solicitada. O Joaquim que era operário fabril, não estava em casa pelo que fui recebido pela Celeste que me indicou onde estavam os buracos que era preciso tapar. A meio da tarde levou-me a merenda, em que não faltavam bolachas, marmelada, queijo e uma caneca com um delicioso vinho verde tinto. Passado pouco mais de uma hora, disse à Celeste que bem perto de mim, observava o meu trabalho, que todos os buracos estavam tapados, ao que ela me retorquiu: Todos, menos um, mas esse só o meu marido pode tapá-lo. Respondi-lhe de imediato: Se o seu marido pode, também eu posso! E como se sorrisse, abracei-a, no que fui correspondido e caminhamos para o quarto onde o trabalhinho foi outro. O pior foi quando alguém foi contar ao Joaquim que me ouvira gabar aos parceiros da sueca que jogámos no café, daquilo que acontecera e no domingo seguinte, estava nas Figueiras, em casa da minha sogra que resolvera dar um almoço, a várias pessoas da família, quando um rapazote que vinha de bicicleta, me chamou e disse: Sr. Abílio, vem aí um grupo de homens e uma mulher que me perguntaram onde o senhor estava e eles pareciam zangados. Temendo o pior, pedi a dois dos meus irmãos e a outros dois companheiros que me ajudassem, pois, certamente queriam bater-me.

Trancou-se o portão que dava entrada para o quintal que antecedia a casa, soltou-se o grande cão de guarda e dispusemo-nos ao longo do muro situado num plano superior ao do caminho, cada um com uma sachola nas mãos e esperámos. Não tardou muito que ouvíssemos o Joaquim que vinha acompanhado da mulher e de mais três comparsas, a gritar: Oh Abílio, vem cá fora que te quero partir os cornos! Aproximei-me então do muro e olhando- -o de cima para baixo, agitei a sachola e respondi-lhe, o mais alto que pude: Cornos tens tu, mas pergunta à tua mulher quem tos pôs que não fui eu! Foi então que a Celeste, vermelha como um tomate e de voz esganiçada, chamou-me de lambão. Quem lhe respondeu foi a Micas, minha mulher, esgrimindo uma foice, clamando: Oh grande porca, o meu homem lambeu-te alguma coisa? Durante largos minutos trocaram-se os mais obscenos insultos, mas o Joaquim e companhia, temendo o cão que rosnava ameaçador e que lhes partissem as cabeças se tentassem saltar o muro, acabaram por ir embora, ouvindo os apupos da muita gente que se juntara.
Nós estávamos espantados com o que o Abílio contara e ficamos boquiabertos, quando um dos ouvintes lhe perguntou: Diz a verdade, sempre tiveste relações com a Celeste? Ao que ele respondeu com firmeza: Juro que sim e só queria que vocês vissem como ela fazia para emprenhar!

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