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Anedotas do momento

Assim vai a política em Portugal

Ideias

2012-02-03 às 06h00

Borges de Pinho Borges de Pinho

1 . Cavaco, no seu porte esfíngico de rosto talhado a régua e esquadro e um meio sorriso a escorrer duma boca afamada pelo bolo rei, teve piada ao referir-se a economia dizendo, e não se crê como mera anedota, que ia aproveitar os cartões de Boas-Festas do ano passado. O que, diga-se, roça o ridículo e desagua mesmo no caricato face às despesas de uma presidência da república com casas civil e militar e um volumoso staff de assessores, pessoal coadjuvante, conselheiros, seguranças, etc..

Aliás tal exemplo de redução das despesas não passa de uma anedótica ridicularia e mostra a “forretice” do gesto de um economista, sendo de recordar a “piada que define o economista como um perito que saberá amanhã explicar por que motivo aquilo que previu ontem não aconteceu hoje” (Jorge Fiel, JN, 2.1.12.).

A verdade é que vimos sendo (des)governados por economistas ou pseudo entendidos, e daí a bancarrota e o endividamento público. Que nem é preocupante porque pagar as dívidas “ é uma ideia de criança”, como disse Sócrates com a maior “lata”, referindo ter aprendido nas aulas de economia ( num curso por correspondência e exames ao domingo ?!...).

Mas a ideia cavaquista de aproveitamento de coisas do passado, como os cartões de boas festas, é perigosa por poder levar a saudosismos, imitação de pesssoas, comportamentos e sistemas dos tempos em que havia austeridade, honestidade, rigor económico e seriedade, sugestionando “reciclagens” e “remendos” na democracia.

2 . Há efectivamente que se poupar e limitar as despesas. Aliás vem-se discutindo uma reforma autárquica com redução no número de freguesias e municípios, mas as críticas são-no sobretudo por motivos políticos, interesses e sobrevivência económica pessoal, já que, para quem paga impostos, taxas e derramas, tal reforma acarretará uma poupança em dinheiros públicos, e sem efeitos perversos significativos.

Comprendendo-se as “inocentes” palavras de autarcas ao falar em perda de “identidade histórica e cultural”, redução na ligação de proximidade com a população e em pôr em causa o bem-estar comum, não é possível ignorar nem escamotear o concreto das realidades e o que lhe subjaz.

O dito “poder autárquico” trouxe um acréscimo nas despesas com o aumento dos figurantes (e figurões!) que “vivem” dos dinheiros públicos graças a vencimentos, senhas de presença, etc. da função autárquica, muitas vezes de questionável utilidade e discutível razoabilidade.

Aliás, olhando-se para os actuais autarcas e todo o seu despesismo, há que evocar, e com saudade, os presidente da junta e regedor de outrora que, sem vencimento ou gratificação, se entregavam com eficiência ao serviço e bem estar das suas gentes, enquanto hoje cresce e medra uma “nova classe”, a dos autarcas e suas cortes, que vivem tão só para o vencimento e penacho, e sempre muito mais preocupados com o partido, as eleições, os apoios, os jeitos a correligionários e em não perder o estatuto.

Como são lugares de retribuição, estatuto, conhecimentos, subsídios, reforma e de mais valia profissional, até já há advogados, engenheiros e médicos a “abocanhar” os cargos, mas a verdade é que com menos “autarcas” haveria toda uma efectiva poupança.

3 . O que se passa no Parlamento é cada vez mais anedótico, tendo-se ouvido há dias um deputado apodar outro de “ordinário”. Aliás, se já havia suspeitas, agora não restam dúvidas, só faltando mesmo atirar copos com água como ocorreu em Israel.

É possível que tudo seja fruto de educação e cultura político-partidárias, e até já estamos acostumados aos insultos, ao “manso é a tua tia, pá”, a mandar-se colegas para lugares como “o c...... ” e a gestos de “corninhos”, mas já não há pachorra para aturar “figurões” que, nada de útil fazendo, nos custam os olhos da cara e ainda desaguam em ordineirices. E anulando-os, ou tão só os reduzindo, sempre lucraria o erário público.

4 . O PGR, nos seus desejos para 2012, quer “um Ministério Público autónomo, hierarquizado, especializado e trabalhador e uma Justiça mais transparente e em que o cidadão acredite” (JN, 28.12.11), o que, vindo dele, só pode ser anedota. Mas de todo não se sabia da “caleiceirice”(!?) dos seus quadros, e que de certo modo insinua.

O PGD do Porto, por sua vez, deseja “que o Ministério Público seja visto como pilar fundamental do Estado de Direito para o que, antes de mais, deverá ter uma liderança forte, com inabalável obediência à lei” (JN, 29.12.11).

Subscrevendo-se o voto de que o MP seja um pilar do Estado de Direito num quadro de legalismo, de liderança forte e não seja afectado por casos de perverso descrédito e menor transparência seja-nos permitido ajuntar à “liderança forte” uma inquestionável independência política. E não é anedota, mas um voto muito sincero!...

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