Mulheres Portuguesas no Quebeque – Caminhos de Liberdade
Ideias
2022-04-29 às 06h00
Na semana que sinalizou o Dia da Produção Nacional, ficámos a saber, entre vários apontamentos, que Portugal está a perder de forma galopante mão de obra no setor primário. São mais de 30 mil por ano a dizer adeus à terra. Os resistentes estão longe da idade do deslumbramento (média - 55 anos) e raros são os que têm canudo. Surpresa? Zero. Este diagnóstico – tornado público pela Pordata, base de dados estatísticos da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) – é agravado pela seca e pela conjetura mundial com a bomba-relógio pronta a eclodir na Ucrânia onde reside o celeiro europeu.
Para termos uma ideia do drama basta lembrar que, no final da década de 80, havia um milhão e meio de agricultores – cerca de 16% da população residente – ao passo que, em 2019, o número diminuiu para 650 mil, o equivalente a 6%. Por entre esta debandada, fica o consolo em saber que Portugal ainda é o quinto país com mais empregados agrícolas por habitante.
A questão que se coloca é simples: como virar o bico ao prego? Não faltam entendidos, estudos, palestras, que apontam a rota que deve ser desenhada para seduzir os jovens a embarcar nos odores da terra. Quem hoje trabalha neste setor leva para casa, em média, 823 euros, um valor que representa menos 21% daqueles que labutam por conta de outrem. Por aqui estamos conversados.
Não espanta que sejamos um país onde cada vez há menos explorações agrícolas embora sejam maiores. Só nos últimos 30 anos, ceifámos metade. Atualmente, 9% são de média a grande dimensão (com pelo menos 20 hectares) que ocupam 4/5 do território (79%). Há 30 anos eram 4% e ocupavam pouco mais de 3/5 (62%). Dito isto, concluímos que o paradigma mudou: temos explorações agrícolas cada vez maiores, mais exploradas por empresas e ocupadas por pastagens permanentes destinadas ao gado. O minifúndio tende a desaparecer. Apesar desta evidência, o alarme persiste pelos poucos exemplos que florescem.
Antes da pandemia, 1,3% da riqueza gerada pela União Europeia (UE) vinha da agricultura, com especial foco na Roménia e Grécia (3,8% do Produto Interno Bruto). Em 2020, Portugal carimbava 1,6% do PIB, percentagem que tende a subtrair desde 1995.
A juntar a estas notas, surge este estudo que esclarece que a riqueza criada pela agricultura em 2021 foi de 3,5 mil milhões de euros. Um registo sem aplauso se pensarmos que nos anos 80 gerava o dobro. Incontestável é saber que cada vez há menos dinheiro canalizado para a agricultura. Longe vão os tempos das vacas gordas onde para tudo havia financiamento.
1988 foi o ano onde o escudo mais dançou. Quatro vezes mais investimento do que no presente. Raro era o agricultor que não tinha um trator e um armazém. Sobravam exemplos de autênticos atentados à decência. Os subsídios alastravam. Os projetos eram financiados pela totalidade. Uma fárrea.
Eu que vivo em terra Património Agrícola Mundial, custa-me observar a impotência rasgada nos olhos do agricultor barrosão. Lembrar que em 2018, Barroso foi o primeiro território português a integrar os Sistemas Importantes do Património Agrícola Mundial (GIAHS - Globally Important Agricultural Heritage Systems) e um dos primeiros a ser aprovados na Europa, selo que saiu dos gabinetes da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Isto sucede numa região com alto índice de desertificação e onde o PIB per capita da região Norte de Portugal encontra-se 35% abaixo da média da União Europeia.
Urge virar a agulha sob pena de termos um país de banhos e pouco mais. A agricultura é a âncora que deve guiar qualquer política. Importar o que de melhor podemos ter entre nós é contranatura. Temos bons solos e um clima equilibrado. Os preços vão continuar a trepar. A escalada é mais que certa em atmosfera agreste para a bolsa. A vingar o marasmo, os jovens vão reforçar a asfixia do litoral. Os extremos estão cada vez mais desertos. Isto quando se lê que até 2050 a produção mundial de alimentos deverá duplicar para dar resposta ao aumento da população e aos hábitos alimentares em evolução. A reboque, estão as consequências das alterações climáticas para a biodiversidade, qualidade dos solos e da água e exigências do mercado global.
Temos nas mãos nova bazuca de oportunidades. Uns juram a pés juntos que é a derradeira chance de largar os buracos da estrada e colocar, de uma vez por todas, uma autoestrada iluminada em fibra ótica. Outros, cravados na descrença, cruzam braços e limitam-se a ver o que dá. Neste ping-pong, salva-se o Sol. Enquanto o houver.
19 Julho 2025
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