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Adeus sociedade de consumo imediato

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Escreve quem sabe

2010-11-13 às 06h00

Fernando Viana Fernando Viana

Estamos a dizer adeus à sociedade de consumo pelas piores razões. De facto, muitos especialistas, quais profetas da desgraça que ninguém quer ouvir, vinham alertando há muitos anos para a necessidade de introduzir alguma racionalidade no consumo das famílias. Ninguém lhes deu ouvidos. Os resultados estão à vista. Portugal tornou-se num dos países mais consumistas da União Europeia. Esse aumento do consumo não corresponde tanto ao aumento da riqueza do país, nem sequer ao aumento do rendimento das famílias, mas fez-se sobretudo pela diminuição da poupança e pelo aumento do endividamento. Consumimos ferozmente e endividamo-nos brutalmente nos últimos anos, como se estivéssemos condenados à morte e, num acto de desespero tivéssemos tomado a decisão de consumir tudo quanto fosse possível antes do último suspiro. Poucos países mudaram tanto em tão pouco tempo. Atentemos nalguns números.

Portugal já tinha em 2008 um dos maiores índices de assinantes do serviço de telemóvel por 1.000 habitantes da União Europeia (UE a 27). De facto, enquanto a UE se ficava pelos 1156,6, Portugal registava 1266,9.
Portugal está neste preciso momento a ultrapassar o Japão no número de automóveis por 1000 habitantes, que se cifra nos 525. Já em termos médios, as viaturas portuguesas são das que mais circulam na UE (15000 Km em 2006), tanto como as do Reino Unido e da Bélgica, os países da frente neste item.
Portugal é considerado um dos países com maior ligação à Internet. Estudos referem que embora somente existam cerca de 152,6 ligações à Internet por 1000 habitantes em Portugal (dados de 2006), os lares portugueses com computador atin-gem os 45% e 73,8% da população consegue aceder à Internet.

Em termos de conforto pessoal, a existência de frigorífico nos lares é um facto (100%), en- quanto os fogões ficam pelos (99,8%), os televisores pelos 99,6%, mesmo assim à frente das máquinas de lavar roupa (97,8%). Por outro lado, só cerca de 15% dos lares possuem sistema de aquecimento central e 10% ar condicionado. Também são surpreendentes (ou talvez não) os números relativos às férias dos portugueses e das suas viagens ao estrangeiro.
O barómetro da Associação de Hotelaria de Portugal para 2010, mostrava que com as férias à porta a maioria dos portugueses, mais de 90 por cento, tencionava ir de viagem.

As opiniões dividiam-se praticamente ao meio na escolha do destino da principal viagem do ano: 50,18 % pretendiam ir ao estrangeiro, enquanto que 49,82% ficavam em Portugal. Comparando com o ano de 2009, havia mais portugueses a querer viajar para o estrangeiro. Valores que segundo a Associação da Hotelaria de Portugal indiciam uma diminuição na procura do Turismo Interno. No estrangeiro, os cinco destinos preferidos pelos portugueses eram, por ordem decrescente, Espanha, Reino Unido, Brasil, França e Itália.

Números menos simpáticos são os que dizem respeito ao endividamento. Em 2007, o endividamento das famílias atingia os 129% do rendimento disponível e a taxa de poupança registava apenas cerca de 7,9%. Já o endividamento das empresas nesse ano chegava aos 114% de toda a riqueza produzida.
O indicador de produtividade apresenta um valor de 70,8 por cento da média da União Europeia em 2008, o que significa que Portugal produz em média menos 30 por cento do que os restantes países europeus.

No que diz respeito à educação e à formação, o relatório da competitividade diz que Portugal está muito aquém da meta estabelecida para 2010 pelo plano tecnológico. Em 2008, apenas 54,3% dos jovens completaram o ensino secundário.
Parece que temos todos de repensar, o nosso modelo de desenvolvimento e o que queremos para o nosso futuro. Talvez não seja afinal tão surpreendente o que nos está a acontecer neste preciso momento. Afinal uma leitura mais atenta dos números, teria permitido de forma infalível adivinhar o buraco em que nos estávamos a meter. A questão é: Já percebi como aqui chegámos, mas agora como é que vamos sair?

Espero sinceramente que a res-posta não seja a de um graffiti na parede de um prédio num subúrbio qualquer do país que um telejornal exibiu há pouco tempo: “Queremos dinheiro - Não queremos trabalho”.

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