Assim vai a política em Portugal
Voz às Escolas
2018-02-21 às 06h00
Nos últimos 17 anos, escolas, professores, famílias e sociedade são assolados pelos rankings das escolas. Monta-se o circo mediático, aperta-se o cerco em torno dos culpados, aponta-se o dedo e as escolas alternam entre a euforia e a depressão ciclotímicas, procurando entender a lógica redutora de números.
Recentemente os órgãos de comunicação social divulgaram o ranking das Escolas 2016/2017. Saliento, os órgãos de comunicação social!
A Escola Secundária de Vila Verde (ESVV) foi exposta e submetida a uma espécie de escrutínio populista, a uma espécie de lógica voyeurista de ocupação dos lugares de pódio. Porquê? Porque tinha no ano letivo 2016/2027 uma única turma de 9.º ano.
Importa referir que, nesse ano letivo, a ESVV tinha 955 alunos distribuídos por 42 turmas, sendo que 21 alunos frequentavam a única turma de 9º ano, a qual representava o valor de apenas 2,1% do total da população discente. A referida turma, integrava alunos provenientes de escolas de outros concelhos e mesmo de outros países. Foram realizadas por estes alunos, 21 Provas Finais de Português e de Matemática. Apesar desta realidade, de 21 alunos, a escola surgiu no referido ranking. Reduziu-se a escola e esta amostra residual de escola, a um momento, a um instante cristalizado, enquistado e estático. Ao momento em que os alunos realizaram as duas provas finais de 9.º ano!
Importa lembrar as palavras do Senhor Secretário da Educação (in JN de 3 de fevereiro de 2018): Mais uma vez são publicados rankings de escolas e mais uma vez urge afirmar que esta lista ordenada de escolas não é produzida pelo ministério da educação e que a atual tutela não lhe reconhece qualquer utilidade.
Que verdade numa realidade de 21 alunos? Que verdade ou que mentira encerram os rankings a que o próprio ministério não reconhece utilidade?
Uma única turma implica que o fator diluição, em termos de média, não se verifique. Não é uma única turma que põe em causa os resultados de uma escola! Se o ministério não reconhece qualquer utilidade a estes resultados, faz sentido a sociedade civil idolatrá-los?
É certo que 21 alunos são muito para a ESVV, um aluno é muito para a ESVV! Aqueles alunos foram avaliados e julgados por um momento. Um momento que valeu 100%. E então o resto? As atitudes e os valores usados na avaliação interna? Onde está o ponto de partida e de chegada dos 21 alunos?
Mas na lógica do autismo jornalístico o que interessam os resultados dos outros 934 alunos da ESVV? Esses não são a notícia! Tal como diz John Stuart Mill no ensaio Sobre a Liberdade (1859) Quem sabe apenas uma parte sobre uma questão, nada sabe sobre ela.
Questionaram-se os jornalistas sobre o abandono escolar nesse ano letivo na ESVV?
Diga-se que foi de 0,02%, logo muito distante dos 14 % nacionais.
Questionaram-se os jornalistas sobre o prosseguimento de estudos dos alunos que terminaram o 9º ano?
Os alunos que frequentaram o 3º ciclo continuaram o seu percurso escolar na ESVV, e obtiveram resultados nos exames nacionais acima da média nacional, provando que os alunos do ensino básico adquiriram as competências que lhes permitiram garantir o prosseguimento de estudos com sucesso. Tal facto, resulta da possibilidade destes alunos, optarem pelas disciplinas mais ajustadas aos seus interesses, dentre a oferta nacional e de escola. Constata-se que os alunos melhoraram os seus resultados ao longo dos 3 anos do ensino secundário, por comparação com as classificações obtidas no 9.º ano.
Questionaram-se os jornalistas sobre o trajeto dos alunos que optaram por prosseguir os seus estudos frequentando Cursos Profissionais?
Constata-se que 71% dos alunos da ESVV concluíram o ensino profissional nos 3 anos do curso previstos.
Parece evidente que a nossa escola, tal como a escola pública, assume a sua função de garante da formação integral do individuo. A nossa escola empenha-se, diariamente, para que o aluno questione criticamente a realidade, avalie e selecione informação, formule hipóteses e tome decisões fundamentadas no seu dia-a-dia. A nossa escola permite a formação de alunos autónomos, responsáveis e conscientes de si próprio e do mundo que os rodeia, capazes de pensar critica e autonomamente. A promoção da criatividade, o desenvolvimento de competências de trabalho colaborativo e a capacidade de comunicação são as premissas que a ESVV coloca aos seus alunos, consciencializando-os para a importância de uma aprendizagem ao longo da vida, como fator decisivo do seu desenvolvimento pessoal e da sua intervenção social.
A ESVV incute a valorização e o respeito pela dignidade humana, pelo exercício da cidadania plena, pela solidariedade para com os outros, pela diversidade cultural e pelo debate democrático. Como diz Paulo Freire, pedagogo e filósofo brasileiro, os alunos precisam de aprender a ler o mundo para poder transformá-lo. , a escola é, deve ser, esse promotor de leituras, esse facilitador de aprendizagens.
Mas onde está a mentira? Onde está a verdade? Qual a verdade da mentira?
Um estudo publicado por investigadores da Nova School of Business and Economics, da Universidade Nova de Lisboa, demonstra que a classificação interna obtida pelos alunos do secundário é um fator de previsão do sucesso no ensino superior, mais eficaz do que a nota dos exames nacionais. Refere ainda, que aumentar o peso da nota interna do ensino secundário e reduzir o da nota do exame nacional poderá fazer com que a nota de admissão à faculdade seja mais representativa daquilo que são as capacidades do aluno.
Por outro lado, um estudo da Universidade do Porto, que analisou os resultados de 2226 alunos que concluíram pelo menos 75% das cadeiras ao fim de três anos, constatou que os alunos provenientes das escolas privadas têm piores resultados, no ensino superior, do que os que frequentaram escolas públicas. Verifica-se que, as primeiras têm grande capacidade para preparar os alunos para entrar no ensino superior, sendo que, passados três anos, estes alunos demonstraram estar mais mal preparados para a universidade do que os que realizaram os seus estudos na escola pública.
São estas verdades que os rankings não transmitem!
São estes processos diários, que docentes, assistentes operacionais e famílias, conjuntamente com os alunos, constroem. Precisamos, pois, de olhar para e escola e para os rankings com outro olhar, com outros olhares, descobrindo o que de verdade encerram, percebendo que verdade se esconde por trás da mentira.
Assim, é nesta perspetiva construtivista, incessante na procura de soluções, que se reinventa, diariamente, numa lógica coletiva que ranking algum pode demover que se faz escola na ESVV porque... a Escola faz-se com TODOS!
04 Dezembro 2024
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