A responsabilidade de todos
Ensino
2020-02-12 às 06h00
Pedi aos meus alunos, de uma lista de 30 teorias de administração, para escolherem uma para o primeiro trabalho de avaliação contínua. Muitos alunos escolheram o Taylorismo, a teoria que preconiza o homem económico.
Porquê?
Poderíamos pensar que escolheram todos o mesmo para poder copiar uns pelos outros, mas não é, já que existe um sistema de plágio e os alunos sabem.
Então?
Bem, ao perguntar aos alunos, estes responderam: “É o que vemos a nossa volta, é como são as organizações nas quais estamos inseridos todos os dias, como consumidores, utentes, turistas, etc.
Pergunto eu, vocês conhecem empresas como a Farfetch, a Spotify e a Uber?
Sim, respondem os alunos, mas estas são únicas, é por isso que são Unicórnios. Não apenas por serem avaliadas em mais de mil milhões de dólares, mas porque estas empresas vieram revolucionar o modelo de negócios, lembrem-se das mudanças que houve nos últimos 10 anos, como a Uber veio complicar as vendas dos taxistas, vejam um resumo de algumas mudanças no Youtube no vídeo do Carlos Maio.
Mas o que estas empresas têm em comum?
Em primeiro lugar, entraram em águas não previamente navegadas e limpas com poucos concorrentes, têm uma estratégia de oceano azul denominada como tal em 2004 pelos professores Kim e Mauborgne, da Insead. Estas empresas criam um espaço inexplorado no mercado. Uma forma de o fazer é identificar problemas no nosso dia-a-dia e procurar oferecer uma solução. Para gerar ideias criativas, o “brainstorming” ou tempestade de ideias é um método bastante utilizado que consiste em identificar um tema, como por exemplo um problema que querem solucionar e juntar pessoas que vão compartilhando de forma espontânea as ideias que surgem. Quanto mais diverso o perfil das pessoas no grupo, por exemplo em termos de culturas, idades, qualificações, ou seja, de perspetivas, mais interessante se torna. Estas ideias poderão ser o ponto de partida para a construção de estratégias de oceano azul.
Em segundo lugar são estruturas orgânicas, definidas pelos sociólogos Burns e Stalker nos anos 1950 como estruturas organizacionais flexíveis, cargos continuamente redefinidos, decisões descentralizadas e interação lateral e vertical. Estas estruturas estão coerentes com o conceito de holocracia, introduzido em 2007 por Brian Robertson, e que tem por base o conceito da sociedade democrática na qual vivemos e onde cada um tem a liberdade de expressar o seu propósito de vida e de pensar por si próprio como quer fazer para cumprir os seus objetivos dentro dos limites estabelecidos pelo sistema legal, para garantir que respeitamos os direitos de cada um. Esta ideia de termos liberdade dentro de limites, ou seja, de auto-organizar-nos executando os nossos papéis com um propósito, funciona bem nas cidades e pode ser transposta para a estrutura organizacional.
Em terceiro lugar, melhoram os seus processos e as experiências dos seus clientes através de investimentos em inteligência artificial, data science e machine learning. Na CNN mencionaram, em 2018, que a Uber estuda o uso de inteligência artificial para identificar se um passageiro está bêbado e assim poderá identificar um motorista mais experiente ou com formação para lidar com este tipo de cliente.
Por fim, focam-se na sustentabilidade, no “triple bottom line”, ou seja, "People, Profit, Planet", um conceito que foi introduzido pela primeira vez por John Elkington, um consultor de gestão, em 1994, mas que hoje mais do que nunca é uma ambição atual, a ideia é que podemos gerir a empresa de tal maneira não só gerando lucros, mas também para melhorar as vidas das pessoas e o planeta. As quatro características que apresentei são as que denomino de tendências.
Conforme disse Charles Darwin, “quem sobrevive é quem melhor se adapta às mudanças”. E de acordo com José Saramago, “não tenhamos pressa, mas não percamos o tempo”. As mudanças criam práticas novas e estas requerem tempo de amadurecimento.
14 Março 2024
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