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A rua fala muitas línguas

As emoções no outono

A rua fala muitas línguas

Ideias Políticas

2024-03-05 às 06h00

Inês Rodrigues Inês Rodrigues

As últimas semanas têm sido fascinantes do ponto de vista comunicacional. A AD não para de fazer desfilar pelos púlpitos, figuras das quais os portugueses não esquecem: Pedro Passos Coelho, Durão Barroso, Assunção Cristas e, vejam lá, que até foi preciso, o antigo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, demonstrar mais uma vez querer ser a reserva moral dos portugueses, e apelar de forma mesquinha e vingativa, no voto na AD. Tudo bem. É natural. Podemos concordar ou discordar mas é absolutamente natural que um Partido que queira recordar uma marca do passado, recorra a figuras do passado sem apontar um grande futuro.
Quem nunca falha são as sistemáticas mentiras - há quem lhes chame gaffe, mas eu não usarei o eufemismo. Primeiro, a mentira de Pedro Passos Coelho, relacionando a “sensação de falta de segurança no país” com a imigração. De seguida, a mentira do Cabeça de Lista por Santarém, Oliveira e Sousa, que nega as alterações climáticas e fala em “milícias armadas” nos campos agrícolas. Houve tempo ainda para Durão Barroso, antigo Presidente da Comissão Europeia, que saiu pela porta pequena, afirmar que o Governo do PS põe em causa os alinhamentos externos de Portugal na NATO. Como se isto não fosse suficiente, temos ainda as declarações de Paulo Núncio, cuja memória dos seus tempos de secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, nos recordam os mais brutais cortes nos rendimentos da classe média. Paulo Núncio decidiu, em nome da AD, afirmar que é sua intenção reabrir a porta do Referendo ao direito da Interrupção Voluntária da Gravidez, revertendo assim um dos mais elementares direitos da mulher portuguesa, conquistado a ferros, com sofrimento, luta e décadas de ostracismo.
Quem também não faltou à chamada foram as sondagens. Se havia lição que deveríamos ter aprendido em 2022 era ter cautela quando interpretamos sondagens. Nunca é demais recordar que a uma semana das eleições PS e PSD estavam “em empate técnico”. A história veio comprovar que de um empate técnico saiu uma maioria absoluta interrompida por opção de terceiros. As sondagens são ótimos mecanismos de pesquisa e essenciais para a democracia, mas é importante perceber como são feitas as sondagens, como são escolhidas as amostras e se calhar vamos perceber que as sondagens não mentem, mas podem não revelar uma vontade geral.
Aquilo que tenho percebido nas últimas semanas e, que também, percebi há dois anos é que a rua é a verdadeira sondagem. E nós, socialistas, sabemos bem o que as ruas dizem. A rua fala muitas línguas e temos que as saber falar a todas. Há muito por fazer, muito por concretizar, mas a verdade é que se sente uma cada vez mais crescente renovação da confiança no PS.
Os líderes socialistas habituaram-se a vir a Braga ganhar o impulso humano que vira eleições. Este fim de semana Pedro Nuno Santos foi a Guimarães, onde tinha um mar de gente à espera. Seguiu para Vizela onde tinha mais um mar de gente. Acabou a jornada no Theatro Circo, a rebentar pelas costuras, recordando tempos que julgávamos do passado.
A rua fala muitas línguas: a língua dos descontentes, dos revoltados, dos fartos, mas também fala outras línguas. A rua também fala a língua daqueles que viram os seus salários subir, a língua dos que virão as suas pensões subir, a língua dos que sabem que há mais estudantes, mais qualidade de vida, mais emprego, menos dívida, mais crescimento, mais exportações, mais riqueza, mais Estado Social, mais Abril, mais Portugal.
Um Portugal Inteiro é feito por todos e a partir do próximo domingo, governaremos para todos, por um país que não se negoceia, nem se divide.

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