IFLA Trend Report 2024
Ideias
2024-09-08 às 06h00
As férias são invariavelmente momentos de descanso, lazer e esperança de que algo mude, ou possa mudar, em termos individuais e colectivos. Um pouco como acontece na passagem de ano, quando comemos as sacramentais passas e formulamos votos de alteração de comportamento e de nos fazermos melhores pessoas daí para a frente. Nós e os outros, em diferentes esferas.
Também as férias replicam essas situações em que temos mais tempo para pensar e para tomar decisões de mudança quanto aos meses subsequentes. Todos conjecturamos que, findo o descanso e chegados à reentrada, algo vai metamorfosear-se no sentido de um panorama diferente, renovado, em que seja possível resolver da melhor forma problemas e inquietações.
Pura ilusão. Supina utopia. Ficção. Sonho.
Regressados à rotina do quotidiano, verificamos que as coisas se mantêm na mesma, repetindo paradigmas, ou até piores.
À entrada do novo ano escolar, os problemas de sempre, anualmente reiterados. A crónica falta de professores impõe-se nesta matéria, pelas razões que todos conhecemos. Primeiramente, uma desclassificação e desvalorização da função docente verificada nas últimas décadas, e sobretudo na mais recente década e meia, após o ataque despudorado de ministros da Educação como Maria de Lurdes Rodrigues aos docentes, com a retirada de poder aos professores na sala de aula, a burocratização excessiva das suas funções, entre outros fatores que retiram atractividade à carreira profissional e afastam potenciais candidatos.
Depois, uma questão mais geral, que é o custo exorbitante da habitação nos grandes centros, como a Grande Lisboa, Setúbal e Algarve, que é onde maioritariamente faltam os professores, que não se resignam a pagar para trabalhar. As medidas empreendidas com a maior paródia pelo actual governo não passam de paliativos e nada solucionam, nem apagam a demagógica promessa incumprida de resolver de uma penada o problema de mais de 100 mil alunos sem professores a pelo menos uma disciplina. Outros, com mais tempo e experiência, não conseguiram resolver problemas que não são de simples resolução e que entroncam em diferentes vectores, mas os inteligentes, mal se alaparam em S. Bento, anunciaram que tinham a panaceia para todos os males… E, afinal, tudo continua na mesma, se não pior, à entrada de um novo ano lectivo, que arranca esta semana e que deveria ser de mudanças …para melhor!!!
O mesmo se diga da saúde – educação e saúde são sempre os mais bicudos problemas de qualquer governação.
Também nesta área as alegadas medidas de emergência e transformação na saúde estão, na sua maioria, por concretizar e antevê-se que algumas delas vão no pior sentido.
Dá para perceber que a balbúrdia na saúde, que não é só de agora, mas é mais de agora, como o encerramento de urgências pediátricas e o clima de receio instalado nos utentes, tem como propósito inconfessado abrir espaço à privatização da saúde, para contentamento das clientelas partidárias. É nesse contexto que se perspectiva a próxima criação de 20 unidades de saúde familiar (USF) modelo C em Lisboa, em Leiria e no Algarve e que serão atribuídas por concurso aos privados e ao sector social para dar resposta a cidadãos que não têm médico de família, como foi retumbantemente anunciado pela ministra na semana que acabou.
Sendo que, obviamente, não é função do governo conceder benesses ao sector privado, que tem o seu lugar, notoriamente, mas cujo objectivo, o lucro, não é compaginável com o puro serviço público. A missão constitucional do governo é zelar pelo Serviço Nacional de Saúde e pelo sector público da saúde, o que significa dar aos profissionais do sector as melhores condições para o exercício das suas funções, em termos remuneratórios e de valorização profissional, o que nem sempre tem acontecido, nem parece que vá acontecer.
Até agora o que se tem visto da acção fundamental do actual governo é despejar dinheiro sobre as reivindicações de determinados sectores profissionais, e todos eles são respeitáveis e certamente merecedores. Mas a governação não se pode esgotar nessa permanente santa casa da misericórdia…
A rentrée serviu também para que as estátuas readquiram voz, de quando em vez, o que é sempre um exercício poético e alegórico de um país onde a liberdade do disparate impera, e ainda bem. É o caso do Professor Cavaco Silva, em constante azia contra a esquerda, ressabiado porque o país o detesta.
Desta feita, veio erguer-se contra os partidos de esquerda que aprovaram, à revelia do governo, uma proposta do Partido Socialista para acabar com as portagens nas ex-SCUT. Esqueceu-se, propositadamente, por certo, que a proposta também foi aprovada pela extrema-direita do Chega, mas essa é uma questão mais incómoda, porque o alvo da pirose não passa por aí. E veio, então, considerar, num artigo no simpático diário Público, que essa é uma medida “regressiva” que alegadamente penaliza sobretudo os cidadãos com menos recursos, beneficiando muitos que têm mais recursos. Não se percebendo a lógica desta professoral tirada, se ninguém vai pagar nada…
Vocifera contra o pretenso “populismo” da medida e vai ao cerne da questão, quando adverte que aquela vai resultar na “perda de receita de muitos milhões de euros” e será “inevitavelmente acompanhada por mais impostos ou redução da despesa pública”.
É caso para atirar ao pior Presidente da República que Portugal teve em democracia que, conforme números de respeitados economistas, aquela medida no valor de 180 milhões de euros é uma pequena parcela ao lado do que o governo já incluiu como compromissos para o Orçamento de Estado de 2025, num valor superior a 1500 milhões de euros. A mesmíssima análise e os mesmíssimos preconceitos ideológicos e políticos deveriam ser apresentados face a estes números, mas claro que o interesse não é esse. É política pura e dura, preconceito, verborreia, ajuste de contas com a esquerda.
Caso para dizer que, como sublinha o adágio, se a palavra é de prata, o silêncio é de ouro. Que riqueza de silêncio se ele se cumprisse por aqueles lados!!!
11 Outubro 2024
11 Outubro 2024
Com a sessão iniciada poderá fazer download do jornal e poderá escolher a frequência com que recebe a nossa newsletter.
Escolha as categorias que farão parte da sua página inicial.
Continuará a ver as manchetes com maior destaque.
Faça login para uma melhor experiência no site Correio do Minho. O Correio do Minho tem mais a oferecer quando efectuar o login da sua conta.
Se ainda não é um utilizador do Correio do Minho:
RegistoRegiste-se gratuitamente no "Correio Do Minho online" para poder desfrutar de todas as potencialidades do site!
Se já é um utilizador do Correio do Minho:
LoginSe esqueceu da palavra-passe de acesso, introduza o endereço de e-mail que escolheu no registo e clique em "Recuperar".
Receberá uma mensagem de e-mail com as instruções para criar uma nova palavra-passe. Poderá alterá-la posteriormente na sua área de utilizador.
Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos.
Deixa o teu comentário