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Ideias
2023-01-26 às 06h00
Os professores estão desanimados, tristes, desmotivados e revoltados. As reivindicações que fazem são justas e favorecem o interesse nacional. Os slogans como a “paixão da educação” podem servir para caçar - momentaneamente – votos, mas de nada servem se não forem acompanhados de ações concretas. Os professores assim como a generalidade dos portugueses estão fartos de proclamações.
Não temos um desígnio, um objetivo para Portugal. Não é fácil definir uma estratégia para a educação sem sabermos o que queremos para Portugal. A educação é a base da competitividade, produtividade, criação de riqueza e sobretudo a semente e o instrumento que permite a ascensão social. O rigor, o mérito devem ser palavras-chave que lamentavelmente a ideologia de extrema-esquerda detesta. Quem não sabe não deve passar para que não haja um progressivo nivelamento por baixo. Infelizmente, em nome de uma falsa inclusão, os professores são praticamente impedidos de reprovarem um aluno. O elevador social não funciona nestas circunstâncias. As famílias mais pobres são as mais prejudicadas uma vez que quem tem dinheiro coloca os filhos no privado. É um facto paradoxal, mas a ideologia socialista é a mais amiga no que diz respeito ao crescimento do setor privado na educação passando-se o mesmo no setor da saúde. A escola pública, o sistema nacional de saúde infelizmente estão a definhar. A autoridade do professor está diminuída, a sociedade não valoriza o papel dos professores o que favorece os casos de indisciplina. Há que restabelecer a autoridade do professor. Vários têm sido agredidos e ameaçados, acontecendo o mesmo aos profissionais de saúde. Esta situação é intolerável. Para mim é ainda chocante a insensibilidade de algumas juntas médicas. Há professores completamente incapacitados, outros em fase terminal que são obrigados a dar aulas? Onde está o Estado? Para além do des- respeito pela dignidade humana, há um prejuízo claro para a aprendizagem do aluno.
Os professores são essenciais, imprescindíveis para o sucesso de Portugal. Os melhores alunos deveriam sentir-se atraídos para a arte de ensinar. No arranque do ano letivo faltavam professores a 25 mil alunos, no arranque do 2º período já havia cerca de 40 mil crianças sem professor. Os baixos salários do nosso “sistema” educativo são desde logo um elemento dissuasor, a que se adiciona a impossibilidade de progressão na carreira, a imprevisibilidade constante nas colocações, a burocracia crescente. O preço do arren- damento impede uma vida digna para os professores que andam constantemente com a casa às costas.
A luta dos professores é justa e já deveria ter acontecido mais cedo. Para além do interesse dos docentes está em causa o futuro do sistema de educação e consequentemente o futuro de Portugal. Os assistentes operacionais são também eles elementos essenciais que não podem ser delegados para segundo plano. É na escola que se começa a construir o nosso futuro coletivo.
Em termos financeiros Portugal está com um excedente orçamental e com uma tempestade de milhões de fundos europeus. O dúbio sistema de avaliação e a consequente progressão na carreira cria mau ambiente e é injusto e desmotivador. O sistema de quotas não valoriza o esforço, empenho e mérito. O objetivo é puramente o da poupança orçamental. Portugal é o terceiro país da Europa onde salários dos professores menos subiram nos últimos 10 anos. A reivindicação da contagem integral do tempo de serviço é justa e há uma violação do princípio da igualdade uma vez que os professores das regiões autónomas têm a contagem integral. No entanto, é evidente que essa contagem tem um impacto orçamental de longo prazo. Mas há soluções “criativas” que deveriam estar em cima da mesa. Defendo que, numa base voluntária, a idade de reforma se reduzisse sem nenhuma penalização, como compensação. Tal permitiria, em simultâneo, o rejuvenescimento da classe dos professores. A classe docente portuguesa é uma das mais envelhecidas da União Europeia: 46% dos professores têm mais de 50 anos.
As horas letivas, o número de dias de férias, uma contagem faseada no tempo, podiam ser elementos da equação. Não percebo a falta de vontade política. Não é aceitável a imprevisibilidade. É útil que haja um acordo político alargado, consensualidade com os professores que traga previsibilidade e estabilidade.
A pandemia demonstrou que temos professores altamente competentes, com grande capacidade de adaptação. É importante que se prevejam planos de recuperação porque apesar do esforço de professores, pais e alunos, a pandemia teve um impacto negativo.
As greves, e as reivindicações dos professores são - também- no interesse dos alunos. Eles são os primeiros beneficiários de uma sistema de educação estável, que premeie e valorize o mérito, com bons professores altamente motivados, escolas bem apetrechadas do ponto de vista tecnológico. A luta dos professores é afinal a favor do sucesso de Portugal. A razão está do lado dos professores.
19 Março 2024
18 Março 2024
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