‘Spoofing’ e a Vulnerabilidade das Comunicações
Escreve quem sabe
2018-04-01 às 06h00
Estamos na Páscoa! Uma festa de esperança e de intensa solenidade para os cristãos. Uma quadra que marca profundamente a nossa cidade, pela densidade espiritual vivida em todos os momentos, que dão corpo ao vasto e rico programa da Semana Santa, transformando Braga no centro das atenções de Portugal, da vizinha Espanha e de outras paragens que nesta época rumam ao nosso país. Eventos que não têm concorrência, pelo seu significado e magnitude. Mas que partilham de forma mais intensa, a atratividade turística com outras motivações e outros interesses.
Este ano acompanhei, como todos os anos, o programa com a mesma vivência e intensidade. No entanto, desalinhado com a tradição de sempre, centrada na presença habitual nos rituais religiosos decidi, na sua parte final, rumar a outras paragens. Um espaço, que a par de muitos outros Locais são aproveitados para um momento de descanso em família, nos mais recônditos e recatados destinos turísticos do interior do território. Pequenas empresas que se enchem nestas épocas festivas, mas demostram uma visão de sustentabilidade, pela forma como asseguram uma oferta diversificada de serviços, que lhes garantem um funcionamento de negócio ao longo do ano.
A sazonalidade começa a não ser um problema, com a dimensão de outros tempos. O handicap para a estabilidade dos postos de trabalho que, a avaliar pela qualidade dos serviços prestados e pela exigência técnica, começam a fixar jovens quadros cada vez mais qualificados. Jovens qualificados que são recrutados, de entre aqueles que manifestam vontade de regressar à sua terra de origem. Uma atitude estratégica dos empreendedores, muitos deles de origem de outros países europeus, que procuram o nosso país e investem no interior. Um momento, que me motivou a retomar o tema sobre “o desenvolvimento do território e a proximidade do interior”, que teve como mote o empobrecimento do interior. Sobre a necessidade de serem encontradas a medidas adequadas, para invertermos esta tendência a par do envelhecimento das populações.
Um momento, que não deixando ser de descanso, me deu uma excelente oportunidade da constatação de uma realidade, que poderá ser o prenúncio de uma nova realidade, onde as aspirações e ambições dos cidadãos possam ser asseguradas de forma sustentada, estruturante e duradoura. Uma nova dinâmica que não poderá passar apenas pelo turismo, apesar da vasta constelação de negócios que se desenvolvem à sua volta e na orla da sua influência. A experiência que estou a viver, é um excelente exemplo. Mas falta trabalhar, ou trabalhar de forma mais assertiva e organizada, a outra face do problema.
Nos próximos anos, perspetivamos uma procura de recursos humanos qualificados elevada. Atrair talentos qualificados e, sobretudo fixar jovens aos territórios de origem. Propor-cionando oportunidades de formação e criando esperança numa vida melhor, na terra que os viu nascer. Temos de trabalhar cada vez mais próximos. Precisamos da ajuda dos municípios e das instituições locais e nacionais, para que possamos chegar a uma verdadeira coesão social e territorial. Acompanhando o esforço concertado entre os empreendedores as populações, que neste momento estão a ficar bastante envelhecidas, para ultrapassarmos a dificuldade de fixação de população e em especial de quadros qualificados.
Uma colaboração que pode favorecer a empregabilidade dos jovens diplomados, simultaneamente promovendo a retenção de talentos nestes territórios mais despovoados. Promovendo a empregabilidade e aprendizagem ao longo da vida, assente no envolvimento das entidades empregadoras, nomeadamente, na reflexão sobre perfis de competências, e no alargamento do nível de formação. Um caminho que tem vindo a ser desvalorizado pelos jovens e pelas famílias, no que diz respeito ao prosseguimento de estudos, tal como afirma Rui Marques, CEO da Forum Estudante, na nota de abertura do estudo sobre “Determinantes e Significados do Ingresso dos Jovens no Ensino Superior; Vozes de estudantes e de profissionais do contexto educativo”, da autoria e coordenação científica de Diana Aguiar Viana, professora e investigadora do Instituto Politécnico do Porto (ISCAP).
De acordo com Rui Marques “os padrões de relação dos jovens e suas famílias com a formação académica no Ensino Superior, com significativas variações, foram mudando”. Sendo prioritário um investimento de todos os agentes envolvidos neste processo, para que a formação profissional e superior voltem a ser uma ambição de todos e um fator determinante, para aceder a uma vida social com dignidade e uma porta para a empregabilidade. A desvalorização da formação para além do ensino secundário e o sucesso educativo tem que ser revertida. A dúvida que se instalou em relação ao impacto do percurso de qualificação na vida de cada cidadão exige uma resposta eficaz e cada vez mais clara.
A correção das “perceções erradas” devem ser contrariadas com evidências que passam pela criação de oportunidades de emprego, que correspondam ao “investimento de tempo e de energia, para que cada jovem possa ficar munido de todos os recursos de conhecimento, atitudes e competências para enfrentar os desafios”, como afirma Rui Marques no referido estudo, recentemente publicado, que de acordo com os jovens que foram envolvidos o consideraram “uma oportunidade rara de sermos ouvidos”. Apesar dos sinais positivos que tive oportunidade de vivenciar, da motivação e do envolvimento das Instituições de Ensino Superior, da vontade política dos Municípios e a evidência que a qualificação dos trabalhadores, em particular dos jovens, faz a diferença no desenvolvimento do País, temos ainda um longo caminho a percorrer. Na comunicação sobre as perspetivas do percurso e das opções de formação, promoção da empregabilidade e aprendizagem ao longo da vida e sobretudo nas políticas de desenvolvimento do nosso território. Uma abordagem a que regressarei numa futura crónica.
06 Outubro 2024
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