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Ideias

2019-11-23 às 06h00

Humberto Domingues Humberto Domingues

Vivemos um tempo deste século XXI, com múltiplos desafios, entre eles, o esforço na investigação para a cura do cancro, a “busca” de novos medicamentos, e as questões ecológicas e aquecimento do planeta com implicações na saúde das pessoas.
No nosso SNS também se vivem desafios, questionamentos sobre a sua viabilidade e modelos de financiamento, enquanto serviço de resposta às múltiplas necessidades e exigências do Cidadão Português. Com base nas restrições económicas, opções e filosofias políticas, os Profissionais do SNS são frequentemente confrontados com a falta de medicamentos para administrar, falta de material de consumo clínico, infraestruturas degradadas, falta de viaturas para realizar domicílios e serviços desfalcados de recursos humanos, nomeadamente Enfermeiros. Perante tantas lacunas e dificuldades, interessa perguntar: Que valor se quer, se pode, ou se deve dar a este Serviço Nacional de Saúde? Na minha opinião deve-se acrescentar tudo que seja possível, no amplo conceito de valor em Saúde, para o alcance da equidade e da excelência do cuidar.
Recentemente, a Pordata e a Fundação Francisco Manuel dos Santos publicaram um excelente documento, com o rigor que esta instituição já nos habituou, intitulado “Retrato de Portugal na Europa-2019” divulgando alguns indicadores que retratam, a evolução que a Sociedade vai tendo. Ora vejamos: regista-se que a “Es- perança de vida à nascença em Portugal para Homens e Mulheres” é de 81,6 anos e na EU (28) é de 80,9 anos. Que a taxa de mortalidade infantil em Portugal é de 2,7‰ e na EU (28) é de 3,6‰. No entanto o número de médicos por 100 mil habitantes em Portugal é de 497 e na EU (28) é de 360 (Não percebi porque não referiram o indicador relativo aos Enfermeiros). O número de camas em hospitais de Portugal por 100 mil habitantes, é de 339 e na EU (28) são 504 camas. Já infelizmente as “despesas das famílias em saúde no total de despesas das famílias”, em Portugal é de 5,1% e na EU (28) é de 4,0%. Pela OCDE, relativamente à comparação com os rácios, no sistema de Saúde Português temos 6,3 Enfermeiros por mil habitantes e a média da OCDE é de 9,3 por mil habitantes. Já a média de Enfermeiros no SNS desce e varia entre 4,2 a 4,3 por mil habitantes. Portanto muito abaixo da média dos países da OCDE como se pode verificar.
Com base apenas nestes indicadores, percebemos que com a esperança de vida a aumentar, as pessoas vão necessitar e exigir mais cuidados de saúde durante mais tempo. A morbilidade ou a comorbilidade também pode ser maior e é, com certeza!
As doenças mentais e degenerativas vão ter taxas com algum significado. A permanência em internamentos vai aumentar e terá que haver unidades de retaguarda para dar resposta a estas pessoas em internamentos de curta, média e longa duração, o que implica um rácio de enfermeiros maior, a cumprir as dotações seguras, face à exigência e desgaste que este tipo de cuidados requer e exige. Segundo estudos internacionais, não havendo o cumprimento das dotações seguras e os serviços tendo o número mínimo de Enfermeiros, por cada doente a mais ao cuidado de cada Enfermeiro, a taxa de mortalidade nos hospitais aumenta cerca de 7%. Assustador! Acresce a exaustão e o burnout e a rotura pode ser eminente.
A Ordem dos Enfermeiros deu particular enfase a todas estas necessidades, numa visão não só da actualidade/presen- te, mas já perspectivando e olhando o futuro.
Perante a realidade que já se vive e a necessidade de se colmatar as lacunas e carências, esperamos sinceramente que a capacidade de diálogo e de encontro de interesses entre os vários responsáveis governamentais, Ministra da Saúde, e Primeiro-Ministro, com as principais Ordens, nomeadamente Ordem dos Enfermeiros, seja uma realidade, para benefício do SNS, dos Cidadãos, do Poder Político e dos Enfermeiros, também.

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