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A necessidade de reviver as memórias da Guerra Colonial Portuguesa

26.ª Conferência Mundial na área da sobredotação, em Braga!

A necessidade de reviver as memórias da Guerra Colonial Portuguesa

Ideias

2025-04-24 às 06h00

Palmira Brandão Palmira Brandão

Eporque estamos no ano seguinte às comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, o “Ciclo Braga Memória #13” irá abordar o tema “Memórias do 25 de Abril que perduram no tempo”, com a colaboração de testemunhos vivos de ex-combatentes do núcleo de Braga.
Este é um tema que valoriza a partilha de testemunhos da Guerra do Ultramar, tanto da perspetiva de quem foi como de quem ficou, enaltecendo a memória coletiva de um período marcante e turbulento da nossa história.
A Guerra Colonial Portuguesa, que se desenrolou entre 1961 e 1974, continua a ser um tema carregado de emoções e controvérsias, mesmo mais de cinquenta anos após o seu término. Para aqueles que viveram o conflito, especialmente os militares, as memórias são intensas e frequentemente silenciadas. Para as novas gerações, essa guerra pode parecer um evento distante, acessível apenas através de livros de História, o que torna ainda mais urgente a necessidade de trazer esse tema à tona.
O debate sobre a Guerra Colonial é complexo e multifacetado, refletido nas diversas nomenclaturas que a cercam, como Guerra Colonial, Guerra do Ultramar ou Guerras da Descolonização. Cada termo carrega consigo uma perspetiva única sobre o período, e essa diversidade de interpretações é reflexo das tensões políticas e sociais que marcaram as décadas de 1970 e 1980. Contudo, nos últimos anos, a academia tem-se empenhado em explorar mais profundamente este capítulo da história portuguesa, procurando uma compreensão mais abrangente e crítica.
Historiadores como René Pélissier e Pierre Nora enfatizam a importância de lembrar e documentar esses eventos. A preservação da memória da Guerra Colonial é fundamental e pode ser realizada através de "lugares da memória", que incluem arquivos, bibliotecas, museus e até rituais simbólicos. Estes espaços não apenas guardam a história, mas também servem como pontos de reflexão e diálogo sobre o passado.
Apesar dos avanços na pesquisa e na discussão, ainda há muito a ser feito para que essa parte da história seja compreendida na sua totalidade. Os currículos escolares, por exemplo, frequentemente abordam o tema de forma superficial, deixando de transmitir a complexidade dos acontecimentos e as suas consequências para a sociedade portuguesa e para os territórios africanos envolvidos. Nesse sentido, a educação pode desempenhar um papel crucial ao incorporar depoimentos de veteranos e civis afetados pelo conflito, proporcionando uma visão mais humanizada do período.
Outro aspeto relevante é a necessidade de dar voz aos que viveram a guerra. Muitos ex-combatentes carregam histórias de trauma, perdas e reflexões que raramente encontram espaço no debate público. Projetos de história oral e documentários podem ser meios eficazes de registar e divulgar essas experiências.
O Estado e a sociedade também têm um papel essencial na manutenção dessa memória. A criação e ampliação de iniciativas como exposições permanentes em museus, programas educativos e produção de conteúdo cultural podem ajudar a contextualizar o impacto do conflito. Além disso, o reconhecimento dos veteranos e das famílias afetadas é uma questão de justiça histórica e social.
Devemos, portanto, incentivar a discussão sobre a Guerra Colonial, não apenas entre historiadores, mas também nas escolas, nas comunidades e nas famílias. Só assim poderemos garantir que as memórias dos que viveram esse período não sejam esquecidas e que as lições aprendidas sejam transmitidas às futuras gerações. Reviver essa memória é um ato de respeito pelo passado e de compromisso com um futuro mais consciente e informado.
A verdade é que a Guerra Colonial moldou profundamente a identidade portuguesa. Foi o fim do império, o início da democracia e o ponto de viragem para a abertura ao mundo. Ignorar esse passado é comprometer o futuro. Como escreveu o historiador Fernando Rosas: “a guerra não terminou em 1974 – ela continua nos silêncios, nos traumas e na ausência de memória.”
Dar voz a quem viveu o conflito e promover uma reflexão crítica sobre este período é essencial para uma democracia madura. A história deve ser contada por inteiro – com as suas glórias, mas também com os seus horrores.

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