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“A Minha Geração”

Desigualdade no Mundo acentua-se

“A Minha Geração”

Voz às Escolas

2023-04-19 às 06h00

João Graça João Graça

Vi, recentemente, a entrevista de Flávio Massano, Presidente da Câmara Municipal de Manteigas, à RTP3, no programa “A Minha Geração”.
Gostei muito de o ouvir! Pela sua juventude, já que é um autarca com apenas 31 anos, pelo discurso tranquilo, coerente e genuíno, desprovido de tabus. É um jovem da terra, filho de uma operária e de um pastor, que deixou Manteigas para ir estudar para Lisboa. Após passagem por uma ou outra empresa na capital constituiu, com um grupo de amigos, a TEAM.IT, que, no seu segundo ano, faturou 2,6 milhões de euros, e que se define como “Um conjunto de pessoas com um propósito comum: agregar uma comunidade em torno de um projeto de consultoria tecnológica inclusivo. Regressamos às origens, através de uma estratégia de corporativismo sustentável – work-life balance, remote work, envolvimento comunitário – e que tem como objetivo último o empoderamento e a felicidade das nossas pessoas. Acreditamos que o sucesso se baseia na construção de uma equipa centrada no bem-estar coletivo, no desenvolvimento pessoal e profissional, e assente numa filosofia de trabalho que potencie a gestão saudável das nossas vidas.” Pretendem estes empresários desenvolver o seu trabalho de uma forma sustentável, acolhendo os teamaholics e não aos workaholics, com inovação, aprendizagem e melhoria continua. A missão da empresa passa pela descentralização do mercado, marcando presença nas universidades e politécnicos do interior e, paralelamente, presta apoio a imigrantes da América Latina e Ásia, conferindo-lhes oportunidades para o seu desenvolvimento pessoal e profissional e, simultaneamente, contribuem para o desenvolvimento do interior do país.
Por conseguinte, quando se fala em prosseguimento de estudos, e, face à proximidade dos exames de acesso à universidade, importa que os nossos alunos tenham noção dos conceitos de team work, remote-work , work-life balance, home-office, entre outros, numa lógica de trabalho de equipa e colaboração, onde a opinião individual é essencial para a tomada de decisões. Esta dimensão ubíqua do trabalho, sem limites físicos definidos, inaugura um novo para- digma, onde o trabalho das 9 às 6 deixa de existir. A casa de cada um pode assumir-se como escritório e, como tal, é necessário encontrar um equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. É esta a realidade de emprego que os nossos alunos encontrarão, muito diferente do cenário de há 10, 20 ou 30 anos, e a que TEAM.IT dá voz. Este autarca, apesar de ter sido um empresário de sucesso, provido de humanismo e ciência, opta pelo serviço público, salientando que o poder local deve, sobretudo, resolver os problemas das pessoas, sobrepondo esta missão a todo o tipo de ideologia. Na verdade, o jovem edil larga uma empresa de sucesso para, quase missionariamente, se dedicar ao desenvolvimento da sua terra e das suas gentes, com uma enorme paixão, e consciente da fraca atratividade transversal do funcionalismo público. Os baixos salários, por exemplo, são determinantes para um jovem licenciando ou mestre, pois, um técnico superior, auferirá um vencimento de cerca 1200 euros no seu inicio de carreira.
A realidade apresentada é análoga à educação, visto que só um forte sentido de missão levará os jovens a concluir percursos académicos de 5 anos que os profissionalizem como educadores e professores.
Muito se tem dito sobre a luta docente. Ouvem-se muitas vozes equivocadas e muitas vozes pouco esclarecidas que referem erradamente determinados valores, que referem um trabalho que desconhecem. A verdade é que o trabalho público deve ser remunerado em conformidade com a sua importância, deve ser atualizado de acordo com as emergências sociais, de forma justa e equilibrada. Ora, a luta docente trata disso mesmo, de recuperar dignidade através do reconhecimento do trabalho realizado. Urge garantir a (de)e- volução, e não aceleração, da carreira.
Por pudor ou por outros quaisquer motivos muito raramente se apresentam casos reais. Ora, parece-me pertinente falar do meu próprio caso, com 30 anos de serviço público, nos últimos 12 anos, vi o meu vencimento aumentar 150 euros. Preocupa-me vir a ser um reformado carenciado que optou por se dedicar à causa pública e que perversamente será penalizado por tal opção. Preocupam-me as notícias que dão conta de que alguém, com atualmente 50 anos, receberá, em 2040, uma pensão equivalente a 55% do seu último salário.
Desta forma, o que move os professores não é já uma perspetiva de carreira promissora, mas, antes, a já sobejamente referida paixão, a mesma que leva Flávio Massano a optar pela missão de servir o seu povo em detrimento de um ordenado excelente na empresa por si construída.
A função pública precisa dos melhores, para que tenhamos os melhores primeiros-ministros, os melhores presidentes de câmara, os melhores médicos, enfermeiros, polícias, professores, operários, empresários… No entanto, não existindo modelos de trabalho centrados nas pessoas e que preconizem as mais atualizadas filosofias organizacionais, onde se garantam carreiras estruturadas e salários adequados à formação e trabalho desenvolvido, o problema dos profes- sores será transversal à função pública.
Se pretendemos que mais alunos a enveredem pelo ensino nas nossas universidades, há que apostar, urgentemente, na atratividade da profissão docente.
Não é uma teimosia dos professores, é um ato de justiça, é a assunção de uma responsabilidade do país perante o eminente declínio da escola pública.
Uma Escola faz-se com TODOS!

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