Fui ao S. João de Braga
E passei pela Arcada
Vi com fitinha acetinada
A cidade embandeirada.

No Rio Este adormeceu
S. João na canequinha
Apesar do manjerico
E da sardinha vivinha.
À noite no Largo da Ponte
Fogueiras de urze e alecrim
Saltei-as com alegria
Não me vim antes do fim.


Era uma noite quente de S. João em Braga. A cidade pulsava com a energia típica dessa festividade tão própria. As ruas do centro histórico estavam iluminadas por fogueiras e lanternas coloridas, enquanto as pessoas se reuniam, como sempre, para celebrarem com alegria e entusiasmo.
Durante a noite, grupos de amigos rusgavam pelas ruas, descendo a Avenida da Liberdade até à Ponte de S.João, ao som de músicas tradicionais e soltando balões de papel que subiam ao céu, iluminando a noite com pequenos pontos de luz. As sardinhas assadas e as bifanas eram servidas em barracas improvisadas, enquanto o aroma dos manjericos enchia o ar.
No coração da festa, junto à capelinha de S.João Batista e do coreto, uma grande fogueira simbolizava a tradição e a união da comunidade. Crianças e adultos divertiam-se ao redor, pulando as brasas e cantando ao ritmo de cânticos populares, fazendo os respetivos desejos na esperança de os verem realizados.
A noite seguia animada, cheia de entusiasmo, risos e magia, enquanto Braga celebrava o seu São João com toda a sua alma, reforçando os laços de tradição e convivência que fazem desta festa uma das mais especiais do calendário português.
À noitada sanjoanina está ligada a lenda do manjerico petrificado, uma tradição popular que mistura elementos de folclore, magia e romantismo.

Segundo a lenda, durante a celebração de São João, uma jovem apaixonada ofereceu um manjerico (planta aromática) ao seu amado como símbolo de amor e de esperança. Na noite da festa, enquanto a cidade se enchia de fogueiras, balões e danças, uma magia especial teria acontecido: o manjerico, que era um presente de grande valor sentimental, teria se petrificado, transformando-se numa planta de pedra.
O manjerico petrificado representa a força do amor verdadeiro, que permanece firme e resistente ao tempo e às adversidades. A lenda sugere que, ao oferecer o manjerico, o amor entre as duas pessoas foi selado de forma duradoura, simbolizando uma união que nem a passagem do tempo consegue desfazer.

Na tradição popular, essa lenda reforça a ideia de que, ao oferecer um manjerico na noite de São João, acredita-se que o amor e a sorte também podem ser “petrificados” ou eternizados, trazendo boas energias para o novo ciclo a quem participa das festividades dos Santos Populares.
Por isso, aquela particular noite de São João era, já por si, um momento mágico! No céu, o fogo de artifício coloria a noite, enquanto as pessoas perdiam os seus olhares na imensidão do horizonte. De repente, uma menina chamada Maria João ergueu as suas mãozinhas para o céu e sorriu de alegria. Acabava de ver as cores da noite mágica no S.João da Ponte, perante o espanto dos seus pais e dos seus amigos, que a julgavam daltónica total, isto é nenhuma cor era capturada pelos seus ternurentos olhos.
E essa foi a magia de uma noite de São João onde tradição, alegria e esperança se encontraram sob o céu multicolor.