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A força da gratidão

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A força da gratidão

Voz aos Escritores

2024-12-06 às 06h00

Fernanda Santos Fernanda Santos

Não sei se “gratidão” tem cor.
Talvez sim.
O que eu sei é que ela forma tem.
Tem gosto. Tem cheiro e peso, também.
Tem asas
e voa como ninguém!


Agradecer é um exercício diário que pode ser praticado e vivenciado. É com esse exercício simples que o meu dia hoje começa. Um pequeno gesto que dá mais sentido à minha caminhada e mais alento para expandir o campo de ação. Acredito que ser uma pessoa grata ajudar-me-á a ser menos ansiosa e a viver uma vida de uma forma mais leve e mais harmoniosa. A gratidão vai além de uma atitude, ela é um sentimento que, neste caso concreto, tem a forma de coração. Refiro-me à cidade de Braga, o coração do Minho, que ontem, em Dia de S. Geraldo, seu padroeiro, me agraciou com a medalha de prata de mérito cultural. Sinto-me, hoje, mais grata à cidade que me acolheu e adotou, permitindo-me criar laços fortes de afetos. Por isso, tenho de agradecer à cidade do meu coração, Braga, o desenvolvimento da minha formação académica e profissional, a constituição de uma bonita família e o aconchego de um lar onde o coração é guerreiro!

Costumo dizer que tenho um coração que quase me engole, uma força que faz a minha alma vibrar e uma rebeldia que, às vezes, me cega de curiosidade.
Contudo, a vida também é feita de pequenos nadas e, ao contrário do que se possa pensar, a gratidão também é um excelente remédio para espantar o desânimo e não nos deixar levar pelo negativismo. Se entendermos uma situação menos agradável como aprendizagem, penso que nos pode ajudar a deixar de remoer frustrações e a perceber as oportunidades que podem surgir, entretanto.
É nesse limbo que a gratidão tem gosto. Gosto das maçãs da porta da loja e das couves-galegas que, generosamente, enganam a saudade da minha terra. É na gratidão que o cheiro mais se revela. Também o sabor nela se desnuda. Se me perguntassem a que sabe Braga, eu diria que sabe a Bacalhau à Narcisa, a Pudim Abade de Priscos e a maçãs da porta da loja!
Podemos, ainda, pela mesma bitola, dizer que a cidade de hoje cheira a um valioso património religioso e arquitetónico e a um incremento enorme no desenvolvimento económico, social e cultural. Em certas ocasiões, o perfume das tradições embriaga-nos em rosários infinitos de memórias.

As festividades são um belo exemplo democrático de afirmação cultural. Há espaço para todos, e diversidade de iniciativas, também. É que a celebrar também se aprende!
A gratidão tem asas. As minhas, adquiridas no berço feito de ferro forjado, são imparáveis, pois tive uma infância cheia de poesia e de liberdade. É a possibilidade de poder reviver esse tempo e essas vivências que eu agradeço a esta cidade. Aqui, posso continuar a ser filha do vento e da lua; querer sempre o voo mais alto, a vista mais bonita e o beijo mais quente.
Eu sei que, às vezes, a lua tem pressa, a vida é imperfeita, o sol esconde-se, as horas são velozes, destoando da poesia que pulsa em mim. Contra o tempo e suas vicissitudes nada ou pouco posso fazer. Contra o esquecimento posso fazer tudo!

E quando houver dias em que não consiga exprimir-me, e o meu silêncio quiser falar mais que as palavras que carrego, devo aceitar os meus desacordos e entender-me comigo.
Em jeito de conclusão, quero reiterar a minha gratidão à cidade do meu coração por me permitir escutar os sinos das suas majestosas igrejas, calcorrear as suas ruas e ruelas estreitas, curtas e indecisas, entrando e saindo umas das outras. Quero que haja alegria e muita poesia nos seus larguinhos e nos seus jardins, que contem estórias e cantem as suas histórias. Histórias nascidas nas casas encostadas, cochichando umas com as outras, e nas ramadas das árvores, sem nome e sem valia, sem flores e sem frutos, de que gostam a gente cansada e os pássaros vadios.
Histórias das ervas nascidas na frincha das pedras bravias, renitentes, cortadas, pisadas, indomáveis, mas que se renovam em cada primavera.

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