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Ideias
2018-10-05 às 06h00
As eleições brasileiras estão aí, no sentido de que ultrapassaram fronteiras continentais. Houve manifestações um pouco por todo o lado, programas abertos em estações radiofónicas, debates de versados. Acabamos tocados e curiosos: quem elegerão os brasileiros? O #elenão? Ou um #elesim, por surpresa? No meio de tudo, quase sem querer, reparamos que as redes sociais escapam ilesas, que as campanhas orquestradas de manipulação são um anacronismo. E não é que o senhor coronel é mais facho, misógino, chauvinista, sexista, homofóbico, eugénico, que todos os outros! E não é que o senhor coronel bate a concorrência em desestabilização dos valores ocidentais!
Permito-me um raciocínio, assente em justaposições: Marine Le Pen jamais seria eleita, não obstante se adiantasse nas sondagens, e por muito que triunfasse na primeira volta. No mano-a-mano final, dois terços do eleitorado acabaria sempre por validar o candidato melhor posicionado contra ela, Macron ou outro cinzentão saído do ventre do establishment. Já no Brasil, não estou certo que fiem pela mesma roca. Quero com isto dizer, que uma aposta em Le Pen seria inevitavelmente perdedora. Com o navalhado, por sua vez, como eles dizem: sei não!
Outro paralelo: quão diferente é o Trump eleito daquele que se apresentou a campanha? Egomaníaco, néscio, fanfarrão, e o que mais acrescentem. Num país decente ficaria à porta. Talvez nos tenha provado que a decência saiu para comprar tabaco, e não voltou. Descontadas as particularidades do sistema americano, diríamos, em todo o caso, que foi necessária uma maioria para o eleger. E assim podemos perguntar-nos: entre os que lhe apontavam defeitos, quantos não o avalizaram no momento do sim-ou-sopas? Dos que votaram em Trump, quantos não o fizeram como quem joga ao euromilhões pela aposta mínima, só porque há jackpot, por toleima, ao jeito de “uma sem exemplo”, por uma sorte de apagão do discernimento?
Acordamos em prantos. Dizem-nos que o Trump e a Le Pen são aleijões, mais os parceiros que levam as mesmas voltas, na Hungria e na Áustria, para as bandas de Itália e dos Países Baixos. Estes, e os que estarão na forja, são obras demoníacas, criações revanchistas de um Frankenstein russo. Reconciliamo-nos connosco próprios: fomos (continuamos a ir!) ao engano, levados como ratos, por flautista de má-parte. Estranho, realmente, que não tenham posto o coronel carioca-tapioca a agente do kremlin.
Mas quanto não vale uma boa metáfora, um excelente bode expiatório. Recordemos a tirada de Jeremy Hunt, que os britânicos têm a ministro dos negócios estrangeiros, por tristeza: pois não compara a União Europeia a uma prisão soviética! Já agora: são o quê, os que acreditam nas virtualidades da UE? Idealistas enganados, que sonham em acordado com os amanhãs que cantam? Esbirros? Torcionários? Bufos? O que são, a quase metade dos cidadãos britânicos, levados por arrasto?
Andamos à deriva numa jangada de falsidades. Retalham a nossa forma de viver e de pensar, ferem-nos de morte, e apresentam-se como salvadores, candidamente. E o burro acredita, e o burro compra a senha premiada do coronel que restaurará a ordem, do capitalista que refundará a economia, do bancário que semeará prosperidade. Todas as desgraças do Brasil são obra do Lula e da Wilma? Santa ingenuidade...
Caem os povos na caricatura, quando lhes negam as formas correctas de estar em sociedade, de trabalhar e prosperar. O sucesso da maioria é contrário ao interesse dos que tem, multiplicam e aferrolham capital. É revolucionário, mas não é menos verdade. Tracem os gráficos que entenderem, mas vivia-se melhor há trinta anos. Conclua-se o que se quiser.
25 Fevereiro 2021
25 Fevereiro 2021
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