A pandemia, a transição digital e a nova gestão pública
Ideias
2019-10-27 às 06h00
A culpa é do médico. A culpa é da ordem. A culpa é do regulador. A culpa é do corporativismo, desse nevoeiro leitoso de solidez histórica, que acorda silêncios por rabos-de-palha, e por favores a seu tempo reclamáveis.
A culpa é do juiz, do árbitro e do VAR. A culpa é do político, do sistema eleitoral e da abstenção. A culpa é do patrão. A culpa é do empregado, do motorista e do enfermeiro. A culpa é do banqueiro. A culpa é da crise – e, atenção, vem aí outra, tão inevitável como a anterior. E pior!
A culpa é da estupidez entranhada. A culpa é do professor. A culpa é do aluno. A culpa é dos programas e da carga horária. A culpa é da escola.
A culpa é da educação, do atraso, do atavismo e da produtividade. A culpa é da cunha, da burocracia, da corrupção e da subornice.
A culpa é das vagas de calor e da seca. A culpa é do despovoamento e do ordenamento florestal. A culpa é do aquecimento global.
A culpa é do homem. A culpa é da mulher. A culpa é da pobreza de criar côdeas.
Um cheirinho a lá fora, para tempero: a culpa é do Putin ou do Trump. A culpa é do liberalismo ou de qualquer «ismo». A culpa é de Bruxelas, do € e do brexit. A culpa é da Espanha.
A culpa é do fascismo, que, para nós, é um «ismo» com história. A culpa é da igreja. A culpa é de uma sociedade civil de diorama – encefalítica, pastosa, muda, subserviente, parametrizada pelo pelourinho, pelo auto-de-fé, pelo braseiro depurador, pelo deixar-andar e esperar que caia de podre.
Rais parta tanta culpa. E não haver raio que fulmine quem decanta tão elaborado rol de culpas, que tudo explicam, menos o ingénuo fenómeno da prevalência do caso escandaloso e da culpa viageira, que por tômbola giratória vai tocando a este e aquele, para mata-tempo e puro deleite de acertos eufóricos de indignados por simpatia.
Junto culpas, como cromos de colecção de luxo, com caderneta e tudo. Só não consigo juntar soluções válidas e medidas profilácticas, pensadas com tempo, apontadas para o benefício de uma sociedade em evolução, lenta que a progressão fosse, mas de tal modo que desse para perceber o sentido, o rumo da coisa.
Quando passará a palermice galambina de piercing na arcada galante do pavilhão auricular, assoreado com poeiras modernistas de lítio? Que servirá de presigo à galambice? Não lhe fazer falta, o lítio, para tratamento e estabilização dos humores! E, ó pra ele, com carita de quem tudo bate certo e, se culpas há, em caso mal contado, que à Lei elas se assaquem, que ele, secretário em fraco estado, coitado, nada está capaz de fazer. Pudesse a vergonha ser explorada a céu aberto! Ui! Filões temos, e ricos em teor e pureza do minério. E, acima de tudo, não há como dar cabo da natureza, de forma civilizada, para salvar a natureza. É de mestre! Salvem-me dos ecologistas!
Quando passará a palermice do imobilismo estatutário de um órgão disciplinar eu não reúne nem delibera, que olimpicamente ignora alerta sobre alerta de eventuais más práticas? Serão os apontados tão infalíveis, tão intocáveis na sua pureza de rotinas, que só por língua de trapos é que alguém avançaria para a nojice chapada da calúnia? É preciso mudar os estatutos, diz um senhor de tísico conselho de disciplina, ou lá que raio é, que nem nome deveria ter, se só serve para exsudar vergonhas.
Hoje umas, amanhã outras, desfilam as palermices como números de circo de terceira escolha. Não saímos disto. A culpa, em suma, por ironia, é do bebé que teimou em nascer. Já
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