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A colonização digital da educação

As emoções no outono

A colonização digital da educação

Voz às Escolas

2023-04-05 às 06h00

José Augusto Lopes Ribeiro José Augusto Lopes Ribeiro

Em poucos anos a revolução tecnológica conduziu a uma digitalização do mundo e da sociedade. O advento da internet, da comunicação digital, bem como a digitalização das coisas e do trabalho, provocaram uma verdadeira transfiguração dos modos de existência.
O processo ocorreu de modo abrupto e sem resistência crítica, sem análise dos riscos ou dos efeitos secundários. Por isso, aqui estamos nós, deslumbrados com o esplendor tecnológico, fascinados com as possibilidades do mundo digital e entretidos com o prazer intenso que daí retiramos.
Mas, existia uma ilha que parecia imune a esta globalização digital: a escola. A instituição escolar mantinha os seus espaços e os seus tempos, valorizava a relação pedagógica, o contato face a face, a empatia e a cultura do livro. A escola era exigente, assentava em valores humanistas e estava centrada no conhecimento, no pensamento crítico e nas emoções, de maneira a garantir ambientes socialmente saudáveis e um florescimento da personalidade, através de uma lógica de empenho e de esforço.
Então as empresas tecnológicas decidiram atuar e convenceram os governos sobre a necessidade de digitalizar a educa- ção, trata-se, na perspetiva destes gigantes da tecnologia, de uma nova lei da história à qual não podemos fugir, é um destino que todos devem aceitar. Foram constituídos embaixadores digitais nas escolas, distribuídos computadores e realizadas formações em ensino digital.
Agora todos devem habitar este admirável mundo novo onde o computador é o protagonista. Aqui tudo é fácil e motivador, aprender passa a ser um divertimento e o professor torna-se apenas um facilitador. A relação com o mundo, com conhecimento e com os outros é realizada através do ecrã. O ecrã tudo centraliza, é um tudo-em- -um, uniformiza os procedimentos e condiciona o pensamento e a imaginação. A pedagogia é redesenhada em função do digital, perde-se a noção de comunidade, aumenta a competição e aquilo que conta são os resultados.
Contudo, se aquilo que fazemos com a tecnologia não é, a maior parte das vezes, questionável, devemos então questionar o que a tecnologia faz connosco. Qual deve ser a nossa preocupação? Em concreto, o que está a tecnologia a fazer à saúde mental dos nossos jovens?
Os jovens tornam-se vítimas da omnipresença da tecnologia e encontram no mundo virtual uma dimensão que lhes permite escapar à realidade e à autoridade do adulto (pais e professores), por isso vivem entrincheirados no digital, onde gozam de liberdade infinita e de divertimento permanente. Mas, estamos a assistir a impactos muito negativos que decorrem da desregulação e da permissividade em relação ao uso do computador e do telemóvel. Estudos recentes revelam que ao longo da vida escolar diminuem a prática de atividade física, bem como as horas de sono, enquanto aumentam o número de horas passado em frente aos ecrãs. Assim, as crianças e os jovens são afetados em capacidades fundamentais como a reflexão e o autocontrolo, tornam-se escravos da tecnologia e facilmente manipuláveis. Por outro lado, não deixam de aumentar os problemas relacionados com a saúde mental, ansiedade, depressão e tendências suicidas.
Por isso, a verdadeira questão é uma questão ética. Temos, pois, de refletir seriamente sobre as consequências nocivas da utilização desmesurada da tecnologia, em particular nas crianças e nos jovens. As ferramentas não são neutrais, os indivíduos tornam-se o próprio produto, a atenção das pessoas é sequestrada e as relações sociais desintegram-se progressivamente. O perigo é muito mais elevado em relação aos seres em formação, perdem a distância crítica e ficam incapacitados para pensarem por si mesmos.
Por isso, a escola e a educação têm um papel determinante na regulamentação do uso da tecnologia e esta deve ser introduzida com prudência, privilegiando sempre a importância do livro e da leitura, bem como das relações interpessoais, de maneira a desenvolverem a empatia e a solidariedade. Cabe à escola, mas também aos pais, impor limites e ajudar as crianças e os jovens a prestarem atenção àquilo que verdadeiramente importa, promovendo o autocontrolo, a concentração e a sensibilidade, em vez de viverem intoxicados pela tecnologia e alienados do mundo, dos outros e de si mesmos.

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