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A Arte da Guerra

Ideias Políticas

2023-05-09 às 06h00

Fernando Costa Fernando Costa

Foi em frente à luminosa entrada do Palácio de S. Bento, no final do dia, na noite da passada terça-feira, que o primeiro-ministro António Costa declarou a recusa do pedido de demissão do ministro João Galamba (pedido apresentado hora e meia antes, diga-se) levando esse discurso – e o próprio cenário político nacional – para dimensões até agora relativamente desconhecidas na nossa história.
“Em minha consciência” terá sido a frase chave do discurso. Numa equação onde o julgamento moral e a probidade superaram o que seria a lógica política e social até agora implementada, António Costa conseguiu numa só jogada realçar a força do seu mandato, como também a falta de poder de Marcelo Rebelo de Sousa.
O segundo ato tomou presença na passada quinta-feira, com o Presidente da República, numa declaração aberta ao país, a fazer questão de mostrar a sua discordância com a gestão do processo, alertando para uma atenção redobrada e mais interveniente à atuação do Governo. Se quiséssemos resumir a isto a umas breves palavras, seria algo como “Até agora protegi-te, mas a partir de hoje estás lixado comigo.”
A verdade é que o que seriam provavelmente as declarações mais crispadas de um Presidente da República a um primeiro-ministro no presente século, tornaram-se apenas um subir de tom algo vazio para quem quis tanto demonstrar o seu poderio presidencial ao longo dos últimos meses, com a ameaça contínua em dissolver o Governo, se a situação assim o justificasse.
Neste momento, caros espetadores, o espetáculo está montado. O Coliseu abriu as portas e está pronto para a guerra. Os portugueses não querem perder nem um bocado. Entre gelados de framboesa e chocolate, e observações altamente informativas sobre o estado do tempo, os dois atores principais desta crescente escaramuça desdobram-se em jogadas dignas de dois monstros políticos que jogam sabendo sempre que o são.
E numa aventura cinemática que até os serviços secretos portugueses envolvem, com bicicletas arremessadas contra vidros, senhoras trancadas nas casas-de-banho e conversas telefónicas altamente agressivas, o tempo vai passando, em que depois também se mete o Verão, e o espetáculo político vai-nos entretendo até que um novo solstício nos encontre, com discussões em cafés e com amigos sobre quem realmente irá sair vencedor.
Até lá, a gestão catastrófica da TAP, a falência quase transversal da função pública, a inflação e a carga fiscal mais pesada da Europa serão apenas partes de um frenético enredo, de um espetáculo quase clubístico, e nós, eternamente anestesiados com a falta de crescimento, batemos palmas a uma nova série da Netflix, com a diferença que essa agora passa no Telejornal.
Muitas vezes falamos, em diversos contextos da nossa vida, em perder a batalha mas não a guerra. Aqui é o contrário. Esta batalha não tem nada a ver connosco, portugueses, e não sabemos quem a irá vencer. Mas a guerra, essa, será uma vez mais perdida por nós. Será que já o percebemos, ou também vamos ter de esperar até o último episódio?

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